A síndrome de Koro, o forte medo de que os genitais se retraiam
A síndrome de Koro consiste no temor de que certas zonas erógenas estejam se reduzindo ou se retraindo e de que, em um último momento, acabem desaparecendo.
Os homens temem que o pênis seja reduzido ou desapareça, enquanto a preocupação das mulheres se concentra na retração e no desaparecimento dos lábios vaginais, dos mamilos e dos seios.
Frequentemente, estes episódios de grande ansiedade são acompanhados da crença de que a morte vai acontecer. Este fato permite estabelecer um diagnóstico diferenciado entre a síndrome de Koro e o transtorno dismórfico corporal (TDC).
Os indivíduos com transtorno dismórfico corporal estão preocupados de forma excessiva com um ou mais defeitos percebidos em sua aparência física, por isso eles se acham feios, pouco atraentes, anormais e disformes.
No entanto, as pessoas que sofrem da síndrome de Koro concentram sua preocupação na ideia de que a alteração notada leva à morte, e não na “feiura” dessas partes do seu corpo.
A origem da síndrome de Koro
Esta síndrome é cultural e aparece com frequência em forma de epidemia no continente asiático, especialmente na região sudeste e em Singapura. Esta síndrome também é conhecida como shuk yang, shook yong e suo yang, jinjinia bemar ou rok-joo.
No entanto, apesar de ser originária da China, existem casos de Koro no mundo inteiro, com registros de episódios de afetação coletiva em nações africanas.
Estes episódios de grande medo costumam ter um período de duração curto e, além disso, respondem adequadamente à terapia e às explicações racionais.
Estima-se, portanto, que a síndrome de Koro tem um potente agente causador cultural. Por esta razão, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais enquadra o transtorno de Koro nas síndromes culturais, como a síndrome dhat.
A síndrome de dhat, a explicação cultural de certos sintomas
Apesar do seu nome, a síndrome de dhat não é uma síndrome em si, mas uma explicação cultural de certos conjuntos de sintomas diversos que foram atribuídos tradicionalmente à perda de sêmen.
Estes sintomas são a ansiedade, a fadiga, a fraqueza, a perda de peso, a impotência, outras queixas somáticas múltiplas, e o ânimo deprimido. A característica essencial é a ansiedade e o mal-estar em relação à perda do dhat, na ausência de qualquer disfunção fisiológica identificável.
O dhat é identificado pelas pessoas afetadas como uma secreção branca, que elas notam ao evacuar ou urinar. As ideias sobre esta substância estão relacionadas com o conceito de dhatu (sêmen), descrito no sistema medicinal hindu (ayurveda) como um dos sete fluidos corporais essenciais, cujo equilíbrio é necessário para manter a saúde.
A síndrome de dhat foi descrita com o objetivo de ser uma orientação cultural para a prática clínica local. Isso foi necessário porque existem diversas crenças culturais que associam os problemas de saúde com a perda de sêmen.
Existem estudos realizados nos âmbitos da assistência sanitária que mostram que aproximadamente 64% dos homens que comparecem aos centros de atendimento psiquiátricos por queixas sexuais na Índia são afetados por crenças locais.
A ocorrência desta síndrome é maior nos homens jovens que pertencem a contextos socioeconômicos inferiores, apesar de também ter sido registrada em homens de meia-idade. Também foram registradas queixas similares associadas à secreção vaginal (leucorreia) em mulheres
Como vemos, a existência de crenças associadas à sexualidade constrói patologias mentais nas pessoas. Nós somos conscientes dessa realidade em problemas deste tipo.
Seria adequado, portanto, fazermos uma reflexão crítica sobre a influência da cultura e da sociedade em outros problemas psicológicos, como, por exemplo, a ansiedade ou a depressão, dois gigantes da cultura ocidental.