Adultocentrismo: o poder dos adultos sobre crianças e adolescentes

O adultocentrismo é exercido subestimando o comportamento, os pensamentos e as ideias de crianças e adolescentes. É a crença de que eles só farão contribuições inúteis pelo simples fato de serem jovens.
Adultocentrismo: o poder dos adultos sobre crianças e adolescentes
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 julho, 2022

“Quando você for mais velho, vai entender. Quem manda aqui sou eu e a sua opinião não importa. Quando você ganhar seu próprio dinheiro, saberá o que é a vida.” O adultocentrismo define a posição superior dos adultos sobre crianças e adolescentes. Esta é uma realidade completamente invisível, da qual não temos conhecimento e que tem um impacto importante nos mais jovens.

É provável que muitos não vejam nenhum problema nessa posição de domínio e imposição. Afinal, as crianças não são criaturas inexperientes pelas quais devemos nos responsabilizar? A verdade é que tudo tem um limite e nunca se deve cair no desprezo.

O adultocentrismo é um fenômeno semelhante ao antropocentrismo, aquela visão social em que o homem está acima da mulher. A partir do momento em que uma determinada figura ou setor da população se vê com mais direitos do que outros, surge a discriminação. Vamos refletir sobre isso.

Crianças e adolescentes querem deixar de ser vistos como sujeitos passivos. Eles também, dentro das suas capacidades, podem fazer grandes coisas para melhorar o mundo.

Menina sofrendo com o adultocentrismo dos pais

O que é o adultocentrismo?

O adultocentrismo se refere a um paradigma de pensamento que às vezes nos leva a perceber crianças e adolescentes de forma distorcida. Um exemplo disso é vê-los como sujeitos passivos, não qualificados e sem autonomia. Ao percebê-los dessa forma, não hesitamos em fazer tudo por eles, superprotegendo-os até chegar a limites doentios.

Esse comportamento é o que molda o fenômeno conhecido como “geração mole”. É verdade que esse núcleo populacional entre 4 e 18 anos está em processo de crescimento, maturação e autodescoberta. No entanto, ninguém é incompleto, incapaz ou carente de qualidades por ser jovem.

Além disso, o adultocentrismo se define, antes de mais nada, por aquela visão de superioridade a partir da qual não atender ou valorizar a perspectiva da criança.

Orientação sim, desprezo não

Todos nós sabemos que as crianças precisam de proteção e orientação. Porém, é muito comum cair no preconceito. Às vezes tratamos nossos filhos ou alunos ignorando suas necessidades ou subestimando suas habilidades. Fazemos isso quando minimizamos o raciocínio deles ou dizemos frases como “você vai entender quando crescer”.

É preciso ter medida, compreensão e foco. Embora seja verdade que, como adultos, sabemos muito mais sobre a vida, não podemos ignorar suas capacidades e potenciais. A criança também tem o direito de dar a sua opinião. Nosso trabalho com eles é orientá-los, não menosprezá-los. Dar-lhes voz, argumentar com eles e responder a quaisquer perguntas que nos façam.

O UNICEF elaborou um documento em 2013 com o objetivo de sensibilizar a população para o adultocentrismo. A necessidade de refletir sobre nossas atitudes e respostas “adultistas” nos permitirá educar e orientar melhor nossos jovens.

Educar não é dominar nem subestimar. Cada criança tem um potencial único como ser humano e não podemos, em hipótese alguma, exercer um comportamento de superioridade ou discriminação em relação aos mais novos.

Como exercitamos o adultocentrismo?

O adultocentrismo ocorre sem atrair atenção. Nem todos têm consciência dessas atitudes que discriminam o valor, a identidade e as potencialidades das crianças e adolescentes. Vejamos alguns exemplos:

  • Minimizar ou desprezar as ideias ou propostas das crianças.
  • Assumir que só porque são crianças, elas não entendem nada.
  • Desqualificar suas emoções e sentimentos. Criticá-los porque choram, porque estão errados ou exigem atenção.
  • Não os escutar quando eles falam ou pensar que o que expressam ou pensam é um absurdo.
  • Desconsiderar seus sonhos ou projetos, não levar seus objetivos a sério.
  • Considerar que toda criança e adolescente está condicionado a cumprir o que um adulto lhes diz.

Há também outro aspecto digno de nota. O adultocentrismo também aparece nos ambientes de trabalho ao discriminar alguém apenas porque é jovem. Desse modo, podemos deduzir que essa atitude cria um sistema de dominação e discriminação que não é totalmente desconhecido para nós na nossa sociedade.

Criança cumprimentando a mão da mãe

Como podemos detectar ou superar o adultocentrismo?

O adultocentrismo está ligado, em muitos casos, ao autoritarismo. Também àquela superproteção que muitos pais exercem e que, como bem sabemos, acaba invalidando a autonomia, identidade e maturidade psicológica do filho. Esse tipo de atitude não é apenas discriminatória, mas também prejudicial para o desenvolvimento social e emocional da pessoa.

Não é surpreendente, por exemplo, que a Universidade de Bergamo tenha criado uma escala de adultocentrismo para identificar esse viés de pensamento entre os cuidadores, a comunidade escolar, etc. Portanto, precisamos não apenas perceber esses tipos de percepções em nós mesmos, mas também corrigi-las.

Estas seriam algumas diretrizes para fazer isso:

  • Permitir que as crianças possam dar suas opiniões sobre qualquer assunto. O simples fato de comunicarem ou expressarem seus pensamentos nunca será uma tentativa de desafiar a autoridade.
  • Ser capaz de fazer com que participem das decisões diárias. Deixe-os opinar, dialogar, debater e se manterem atualizados sobre os problemas de casa, da comunidade, da sociedade, etc.
  • Respeite suas ideias, opiniões e objetivos pessoais.

Lembremos que educar não é dominar ou modelar os filhos segundo os pais. É guiar, dar asas para que aquela pessoa em pleno desenvolvimento e crescimento possa conquistar seus próprios sonhos e caminhos.


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  • Amador, Juan Carlos (2013). «Condición juvenil en sociedades adultocéntricas». Revista Tendencias & Retos 18 (2): 141-146.
  • Morales, Santiago; Magistris, Gabriela (2018). Niñez en movimiento. Del adultocentrismo a la emancipación. Chirimbote, El Colectivo, Ternura Revelde.
  • Petr, C. G. (1992). Adultcentrism in practice with children. Families in Society, 73(7), 408–416.

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