Os adultos também fazem birra

Os adultos também fazem birra
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Quando ouvimos as palavras birra ou ‘chilique’, a maioria de nós imagina uma criança de 2 ou 3 anos deitada no chão, gritando e esperneando. No entanto, os adultos também fazem birra. Às vezes as emoções transbordam e somos incapazes de traduzir em palavras a frustração, a inveja e a decepção que sentimos.

Para o behaviorismo, a corrente da psicologia que estuda o comportamento humano com base em estímulos e respostas, os acessos de raiva são comportamentos claramente desadaptativos. Eles não levam a nada. No entanto, o fato de que eles não levam a nada concreto (ou nada realmente útil) não significa que essas dinâmicas não tenham nenhum significado por trás delas. Pelo contrário, essas birras expressam uma mensagem que é muito rica em conteúdo.

“Siga o seu coração, mas leve o cérebro com você”.
-Alfred Adler-

Entre dois e quatro anos, as birras são uma parte normal do desenvolvimento emocional de uma criança. Elas são um pouco mais do que aquele desafio forçado que toda mãe e todo pai deve aprender a manejar com calma e eficácia. Agora, às vezes esquecemos que o simples fato de crescer e nos tornarmos adultos não nos oferece automaticamente a capacidade e a maturidade de reconhecer e controlar as nossas emoções.

Poderíamos dizer, sem cometer erros, que a maioria dos adultos ao nosso redor possuem a inteligência emocional de uma criança de 3 anos de idade. Se não desenvolveram na infância um bom senso de si mesmo, se não tiveram uma ajuda adequada para canalizar e compreender os seus próprios universos emocionais, o habitual é que continuem carregando o mesmo lastro.

Mulher gerenciando sua raiva

Os adultos também fazem birra

A birra e os chiliques constituem uma reação superdimensionada diante de uma situação frustrante. As crianças, por exemplo, tendem a expressar raiva gritando, chorando, chutando e com uma clara falta de controle emocional. Existem diferentes intensidades, mas o que sempre percebemos são comportamentos desproporcionais e um déficit na comunicação e no gerenciamento de emoções e impulsos.

Em adultos (em média), essas birras não resultam em agressão física, não há chutes, golpes ou mordidas. Além disso, em muitos casos, podem até passar despercebidas em seu entorno mais próximo.

Vamos dar um exemplo. Claudia trabalha em um escritório de advocacia e está acostumada com o sucesso. Cada vez que atinge um objetivo, é recompensada com uma bonificação. Agora, quando os seus colegas alcançam esse reconhecimento, Claudia não aguenta. Ela não se joga no chão, não grita, na verdade, ela não diz nada.

A nossa protagonista se limita a ir ao banheiro para chorar. Porque ela não suporta que em um dado momento seus companheiros a superem. O ciúme a devora e ela não sabe como lidar com esse desconforto. Os adultos fazem birra, mas não se enganem em um aspecto. Essas explosões emocionais, se forem genuínas, não procuram manipular ninguém, como fazem as crianças.

As birras são momentos em que os sentimentos atingem uma intensidade intolerável e precisam emergir de alguma forma. É como estar aprisionado nas próprias emoções e não saber o que fazer com elas.

Mulher preocupada

Adultos com birras emocionais frequentes: o que há por trás disso?

Nem todo mundo desabafa as suas birras em particular, como Claudia faz. Também é comum encontrar pessoas que não hesitam em dar forma a uma cena completa. Há gritos, objetos jogados no chão, e o pior de tudo, agressividade com insultos e falta de respeito. Agora, o que há por trás desses comportamentos?

Nós dissemos isso no começo. Em muitos casos, a birra é a demonstração de uma clara imaturidade emocional, uma falta de senso do ‘eu’ que permite administrar melhor as frustrações, as decepções. No entanto, não podemos deixar de lado outras realidades que todo bom profissional deveria considerar com um diagnóstico adequado.

  • Os adultos também fazem birra, mas aqueles que as demonstram de forma recorrente podem ter algum transtorno de personalidade, um transtorno bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de personalidade narcisista, etc.
  • O estresse pós-traumático também pode estar por trás desses comportamentos.
  • Pessoas com um transtorno do espectro do autismo também mostram esses comportamentos.

Eu sou um adulto que tem “birras”, o que posso fazer?

Vamos pensar por um momento na nossa advogada Claudia. Vamos nos colocar no seu lugar e na sua dificuldade de pedir ajuda. Como dizer em voz alta que as suas emoções se desestabilizam completamente quando os seus colegas recebem algum tipo de reconhecimento e ela não? Como admitir se, além disso, a própria raiva provoca vergonha? Ela sabe que não deveria se sentir assim, mas não sabe como lidar com isso.

Quando somos adultos, é muito difícil falar sobre a inveja, a frustração que nós criamos em certas situações... No entanto, nada pode ser mais positivo do que ‘dar esse passo’ e pedir ajuda profissional. Nos sentiremos mais livres, mais capazes e seguros no dia a dia.

Vamos agora refletir sobre uma série de estratégias que podem nos ajudar nesses casos. São chaves simples com as quais conseguiremos melhorar a nossa capacidade de autocontrole, não alimentando com o nosso comportamento este tipo de emoções.

Algumas estratégias para lidar melhor com as birras

  • Verifique as suas expectativas. Se os adultos também têm acessos de raiva, é porque às vezes apresentam uma visão irreal de certas situações. Eles esperam certos reconhecimentos, reforços, benefícios ou realizações que não são razoáveis.
  • Não bloqueie as emoções negativas e não deixe que elas explodam: canalize-as de uma maneira construtiva. Cada vez que você experimentar uma frustração, manifeste-se de maneira diferente: sem gritos, sem lágrimas, sem raiva. Encontre um suporte para manifestá-la: fale com alguém, pratique esportes, pinte, escreva…
  • Identifique as principais situações que geram as suas birras (inveja, não ter o que você quer no trabalho, nos seus relacionamentos). Uma vez que essas situações forem identificadas, trabalhe nelas. Crie um diálogo interno, um plano de ação com o qual atuar de uma maneira firme, madura e emocionalmente inteligente quando elas reaparecerem.
Meditar para acalmar o coração

Para concluir, sabemos que os adultos também têm birras emocionais. Além disso, talvez nós mesmos as tenhamos de vez em quando. Assim, se há algo que certamente sabemos sobre elas é que não são exatamente agradáveis. Elas geram desconforto, criam ambientes muito desconfortáveis e não ganhamos nada com isso.

Portanto, é hora de trabalhar as nossas emoções, para lhes dar novas oportunidades e recursos que nos façam sentir mais competentes.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.