Logo image

A adversidade nem sempre nos torna mais resilientes

4 minutos
Nem todo mundo que passa por um momento difícil sai mais forte, mais sábio ou mais habilidoso. Muitos ficam presos na tempestade por bastante tempo. Como a resiliência não é algo que aparece automaticamente, é necessário saber como desenvolvê-la.
A adversidade nem sempre nos torna mais resilientes
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater

Escrito por Valeria Sabater
Última atualização: 15 novembro, 2021

A adversidade nem sempre nos torna mais resilientes. Chegamos a um ponto em que o conceito de resiliência foi revestido com um embrulho excessivamente luminoso e até distante da realidade. Nem todo mundo que passa por uma época de adversidades e dificuldades consegue ativar essa capacidade maravilhosa. Às vezes, os dias difíceis nos afundam, e esse acontecimento também cai na normalidade.

Estamos vivendo um momento de transformação em todos os níveis. Talvez por esse motivo abordagens como o positivismo mais otimista não nos sirvam mais da mesma forma que nos anos anteriores. Assim, o clássico Always look on the bright side of life (olhe sempre para o lado bom da vida), cantado em A Vida de Brian, não é mais tão eficaz nas circunstâncias atuais.

Neste momento, somos obrigados a vislumbrar as dificuldades e os riscos que temos diante de nós. Não podemos virar o rosto, não basta apenas dizer a nós mesmos que “vai ficar tudo bem e sairemos mais fortes disso”. É hora de abrir espaço para outras possibilidades, aprender a processar a adversidade, as emoções negativas e esse lado menos gentil da vida.

A resiliência existe, mas não funciona no piloto automático. Ele não se ativa por si só e nem sempre o faz quando mais precisamos. É por isso que devemos entender como essa valiosa competência psicológica realmente funciona.

Mulher triste na natureza

A adversidade nem sempre nos torna mais resilientes, mas podemos aprender

Nós nos acostumamos a rotular as experiências – e também as emoções – como “boas” ou “ruins”. Uma coisa dessas faz com que muitas pessoas se tornem intolerantes a tudo o que ficar nesse último extremo. E, por si só, isso é compreensível.

Preferimos a estabilidade, a complacência, a harmonia daquele dia a dia em que nos satisfazemos, gozamos daquela normalidade em que nada sai de sintonia e tudo está em equilíbrio.

Porém, quando chega o imprevisto, a ponta dos problemas e o barulho da dificuldade em qualquer uma de suas formas, é comum que apareça o bloqueio. Ficamos sem fôlego e sem recursos psicológicos para atravessar a tempestade.

A adversidade nem sempre nos torna mais resilientes, porque nem todos sabemos como ativá-la. Aliás, há situações em que o que temos pela frente é um momento de muita dificuldade que nem todos conseguem superar. Vamos nos aprofundar um pouco mais nesse tema.

Resiliência não é enfrentar a adversidade, é “navegar” com ela

Frequentemente, quando falamos sobre resiliência, é comum usar a metáfora do farol. Visualizamos um mar agitado com ondas violentas investindo contra essa construção, cuja resistência é infinita. Independentemente dos ventos, das tempestades e da força de mil oceanos, o farol consegue resistir a qualquer coisa.

Bem, essa metáfora sobre a resiliência é incorreta. Em seu lugar, devemos usar uma visão um pouco menos heroica, um pouco menos brilhante e inspiradora. O mais adequado seria a lição da “boia sinalizadora”, que consiste no seguinte:

  • Em vez de lutar contra as ondas (a adversidade), é necessário mover-se com elas, como as boias sinalizadoras fazem.
  • É preciso manter a flutuabilidade, ou seja, a clareza mental e a temperança, para se mover entre os dias de tempestade.
  • O verdadeiro segredo é ter algo em que se apegar (ter uma âncora).
  • Essa âncora interna também é composta por nossos pensamentos, atitudes e comportamentos. São esses elementos que nos sustentam e nos ajudam a passar por dias complicados.

A adversidade nem sempre nos torna mais resilientes (existem processos que levam tempo)

A adversidade nem sempre nos torna mais resilientes. Às vezes, dias difíceis são apenas isso, dias complicados que nos fazem cair por um momento e depois passam sem nos ensinar nenhuma lição. Outras vezes, não é possível ativar a resiliência porque carecemos dessas âncoras, de recursos de enfrentamento:

  • Há momentos em que, em meio à adversidade, afundamos. Esse acontecimento é mais normal do que pensamos.
  • Se não fosse assim, não existiriam psicólogos, psiquiatras e todos os especialistas em saúde mental. Porque não somos heróis, não somos faróis que resistem a tudo. Somos humanos, pessoas falíveis que às vezes caem.
  • Precisar de especialistas que nos fornecer ferramentas para lidar com o que machuca é algo perfeitamente normal.
Homem diante de mar revolto

Existem pessoas que lidam com tudo e veem oportunidades, outras apenas desejam sobreviver (e tudo é igualmente aceitável)

A adversidade nem sempre nos torna mais resilientes, isso é verdade. Além disso, existem pessoas que são extremamente habilidosas nessas circunstâncias. Elas não apenas lidam com qualquer dificuldade, como também tiram proveito dela. Outros, em contrapartida, se limitam a estar em modo de sobrevivência. Ou seja, suportar o que acontecer, aguentar firme para não ser levado pela correnteza.

Vamos ser claros, ambas as situações são igualmente aceitáveis ​​e admiráveis. O objetivo, quando os dias sombrios chegam, é conseguir sair deles com saúde física e mental. Esse é o verdadeiro sucesso e nosso verdadeiro objetivo.

Haverá aqueles que cruzarão esse limiar com melhores recursos e novos ganhos. Outros sentirão apenas alívio por terem saído daquele nevoeiro para iniciar uma nova etapa. 

Qualquer uma dessas duas circunstâncias é adequada. O importante é continuar navegando, seguir avançando rumo a um horizonte de esperança.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.