Alabama Monroe: amor, luto e tinta

Alabama Monroe: amor, luto e tinta
Cristina Roda Rivera

Escrito e verificado por a psicóloga Cristina Roda Rivera.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Alabama Monroe conta a história de amor de um amante do Bluegrass (o country mais puro) e uma mulher coberta de belas tatuagens, apaixonada e dotada de uma especial sensibilidade espiritual. Dois polos opostos que se amam à primeira vista, dois personagens afastados da estética tradicional que se conectam com qualquer espectador ao viver o drama da doença e a perda.

Alabama Monroe conta a história de um casal cheio de carisma e beleza intensa, que precisa enfrentar uma tragédia súbita em um determinado momento de suas vidas: a grave doença de sua filha. Uma experiência que quebra qualquer um em pedaços e que, de alguma forma, faz com que pouco a pouco vá se apagando a chama do amor que sentiam um pelo outro.

Henrik Ibsen escreveu que todo amor que se analisa morre. Portanto, neste filme, a melhor forma de contar o que acontece é através da música e dos saltos de tempo na história. Dessa forma, o espectador entende o porquê dos sentimentos vividos pelos protagonistas.

O amor, a música e a estética em Alabama Monroe

Elise e Didier se conhecem em um estúdio de tatuagens da protagonista. A química entre os dois é única, uma conexão que costuma acontecer poucas vezes na vida das pessoas. No entanto, esta não é a primeira cena do filme. O longa vai brincando com saltos temporais para nos mostrar o contraste entre o romance que começa com a vivência posterior à doença de sua filha.

A música e a estética dos protagonistas de Alabama Monroe envolvem o desenvolvimento da história que acontece em Gante, na Bélgica.

Didier é um amante do Bluegrass, um tipo de country feito só com instrumentos acústicos e voz. Toda a música do filme é interpretada pelo grupo no qual ele canta, demonstrando o nível de qualidade deste gênero musical norte-americano de forma brilhante.

Cena do filme 'Alabama Monroe'

Elise é uma mulher que expressa sua paixão pela arte estampando tatuagens em sua pele e na dos outros. Desde o começo, aparece como alguém sensível, apaixonada e entregue ao amor sem nenhum tipo de complexo. Atraída pela personalidade e pelo encanto de Didier, se entrega aos braços de seu parceiro. Juntos começam a cantar no grupo, compondo uma das bandas mais encantadoras da história do cinema.

A tinta e a música se fundem desde o início nesta história de paixão, com cenas de sexo, desespero e ternura ao longo do filme. Uma metáfora de como as paixões de ambos se fundem para narrar de forma visual e auditiva a história de um amor jovem, apaixonado e corajoso. 

Alabama Monroe: a paixão se quebra diante do drama

A metáfora do amor e de como os acontecimentos da vida podem mudar o transcorrer da mesma surge em vários momentos do filme, com seus contínuos flashbacks e cenas futuras.

Elise é uma pessoa sonhadora, mas também radical em sua tomada de decisões. Ela acredita que qualquer história pode ser escondida ou transformada; algo parecido com o que acontece quando deixamos de gostar de uma tatuagem.

Ela também está aberta a imaginar e sonhar. É espiritualizada e acredita que toda forma de lidar com o luto é válida caso traga consolo, mesmo que não seja completamente racional.

Entretanto, Didier é aparentemente mais pragmático, mas ao mesmo tempo mais relutante em terminar as coisas só porque tem que terminá-las. Ele se empenha em lutar e enfrentar tudo aquilo que é obstáculo em sua vida ou na vida dos mais próximos, como o fanatismo religioso que impregna alguns setores dos Estados Unidos.

Sua forma de lidar com a dor é mais racional e beligerante, mas o filme quer transmitir que, por ser mais realista, não é melhor. Isso porque a forma como ele lida com as coisas impede a pessoa de qualquer busca de alívio, mesmo que seja em sua imaginação.

Assim, Alabama Monroe demonstra duas formas de entender os acontecimentos da vida de um casal, como pode ser uma gravidez não desejada, o luto pela perda de uma filha e o enfrentamento de uma separação.

O que Alabama Monroe nos ensina

O filme mostra que não existe uma forma única de entender o que acontece conosco. Tudo depende das nuances e das circunstâncias. Embora Elise seja corajosa em suas decisões, em outras o desejo de apagar tudo e esquecer a incapacita de continuar lutando.

Por outro lado, Didier sofre pelo seu apego e ceticismo; no entanto, ele é corajoso na forma de enfrentar o luto da perda junto de sua parceira, sem fugir. Não fica explícito no filme o que é melhor e o que é pior para a relação dos dois. 

“Eu sabia. De fato, sempre soube. Que era muito bonito para dar certo, que não podia durar. Que a vida não é generosa. Nós não temos direito de amar, não podemos nos acariciar pois a vida não faz gentilezas. Ela tira tudo de você rindo da sua cara, te traindo.”
– Alabama Monroe-

Cena do filme 'Alabama Monroe'

O que é mostrado nessa história é que nem tudo pode ser superado com amor quando este é estremecido pela dor. Há eventos que marcam a vida de uma pessoa, que podem acabar com uma história romântica perfeita.

Como diz Elise, a vida pode ser exigente e tirar tudo que você tem. Às vezes, brinca conosco de forma inesperada, e isso pode ser muito mais do que um casal apaixonado pode enfrentar.

O incrível deste filme é, sem dúvidas, a honestidade transmitida a todo momento. A mensagem é de que o amor é maravilhoso e deve ser aproveitado ao máximo enquanto sentido, mas nem sempre é possível continuar da mesma forma após algo muito doloroso ter acontecido.

A força de um relacionamento ou de duas pessoas nem sempre está no tempo que resistem, mas sim na decisão de terminar quando algo não é mais suportável.


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