A anatomia íntima do sofrimento

A anatomia íntima do sofrimento

Última atualização: 09 dezembro, 2016

O sofrimento se esconde profundamente na nossa pele sem ser visto. É como um inquilino estranho que atrapalha e asfixia, mas que cedo ou tarde conseguimos superar. Através do sofrimento a alma se fortalece, a pele fica mais áspera e curtida, marcada por infinitas cicatrizes invisíveis.

É possível que nesta fase da vida a pele da sua alma já tenha um mapa de cicatrizes e feridas. Graças a isso, você aprendeu que dor e sofrimento são duas coisas muito diferentes. A dor faz parte da existência e aparece quando perdemos o que amamos. Por sua parte, o sofrimento é resultado da não aceitação do que acontece na nossa vida, por resistirmos e desejarmos que as coisas fossem de outra maneira.

“A dor é inevitável, o sofrimento é opcional.”
-Buda-

No entanto, apesar de dizerem que o sofrimento faz parte do ser humano, é necessário levar em conta uma série de aspectos. Em primeiro lugar, não é necessário sofrer para saber o que é a vida. Na verdade, a felicidade também nos proporciona boas lições.

Em segundo lugar, o medo do sofrimento é pior do que o próprio sofrimento, porque nos impede de viver. Ele coloca muros e barreiras ao nosso direito de amar e ser amado, de cometer erros e aprender com eles. São detalhes importantes que devemos sempre lembrar.

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O sofrimento e o desejo de fugir

O sofrimento chega como um convidado inesperado em uma noite fria de inverno. Nós não queremos sofrer e decidimos fugir dele, escondê-lo no porão e fingir que ele não existe. Então nós nos fechamos em nossas armaduras enferrujadas e fingimos que tudo está normal, distribuindo sorrisos gentis, enquanto aquele inquilino indesejável continua lá, apertando com as mãos frias o nosso coração amargurado.

Queiramos ou não, essa emoção negativa vai persistir com sua carga angustiante por um longo, longo tempo. Na verdade, ele tem um propósito muito claro: sugar a sua energia e obrigá-lo a permanecer quieto.

É curioso, mas como explica o biólogo molecular Estanislao Bachrach, a sua felicidade não é importante para o cérebro. O seu único objetivo é a sua sobrevivência, por isso, entender as raízes do seu sofrimento será, sem dúvida, um ato de responsabilidade pessoal, um ato de sobrevivência.

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Os sofrimentos reais e os sofrimentos imaginários

Na psicologia diferenciamos claramente o sofrimento real do imaginário. As duas dimensões têm uma carga emocional negativa que interfere diretamente na nossa qualidade de vida, no nosso equilíbrio emocional.

  • Os sofrimentos imaginários são interpretações negativas que fazemos sobre a nossa própria realidade. Criamos verdadeiras batalhas internas, tempestades incríveis carregadas de obsessões, e sofremos com eventos externos que, muitas vezes, não têm fundamento algum.
  • Os sofrimentos reais se baseiam em fatos viáveis que provocam dor, confusão, perda e decepção. Existe algo de concreto que desencadeou o nosso estado de ânimo.

Podemos utilizar as mesmas técnicas para enfrentar estes dois tipos de sofrimento. Abaixo, explicamos algumas delas.

Desperte estratégias adormecidas dentro de você

Acredite ou não, todos nós temos as melhores estratégias para lidar com o sofrimento escondidas em nosso interior. O nosso cérebro está preparado biologicamente para enfrentar as adversidades através de mecanismos muito específicos; estratégias que definiremos a seguir e que nos ajudarão a sobreviver.

Em uma vida sem dor, as cordas da vida relaxam.
-Johannes Keepler-

Em primeiro lugar é preciso despertar esse olhar interior alojado na nossa mente. Entenda que a realidade, “a sua realidade”, nada mais é do que uma interpretação pessoal dos fatos, dos quais muitas vezes você se torna um escravo. É hora de colocar um filtro:

  • Esqueça todos os medos que invadem a sua vida, a sua autoestima e o seu autoconceito. Todo sofrimento real traz consigo alguns sofrimentos imaginários: “isso não vai mudar”, “nunca serei feliz”, “não existem segundas chances …” Desligue esse ruído mental desnecessário e controle os seus pensamentos para criar novas emoções.
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Além disso, os nossos sofrimentos “não merecidos” podem ser diminuídos desde que tomemos conhecimento de um outro aspecto: sua temporalidade.

  • A dor o prende inevitavelmente ao presente, e faz com que você seja capaz de compreender as suas feridas, aprender com o que aconteceu e continuar sobrevivendo. Gostando ou não, a vida continua seguindo em frente. A lei da impermanência leva todos nós em seu barco para que percebamos que tudo está em constante mutação, tudo vai e volta. Hoje é sofrimento e amanhã serão alegrias. Não se permita ser um prisioneiro/a da dor: siga em frente, estamos em constante movimento.
  • O sofrimento nos oferece a virtude da empatia. Somente quem sofre sente compaixão pelo sofrimento do outro, e isso é algo que certamente nos torna pessoas melhores. É uma aprendizagem vital que lhe dá uma grande sensibilidade e o transforma em uma pessoa mais digna e sábia.

Desperte essa coragem que dorme dentro de você e seja capaz de ver o sofrimento como um caminho, não um muro que o aprisiona. Levante-se, abra os olhos do seu interior para enxergar com mais clareza, derrube cada tijolo desses muros e permita-se ser feliz novamente.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.