Como aprender a nos cuidarmos enquanto atendemos a um ente querido

Como aprender a nos cuidarmos enquanto atendemos a um ente querido

Última atualização: 26 março, 2015

Esta situação pode ocorrer em qualquer família. Nós, seres humanos, somos frágeis, e quando menos esperamos um ente querido muito próximo a nós poderia sofrer um acidente ou desenvolver uma doença incapacitante, temporária ou permanente, e ficaríamos encarregado do seu cuidado. Além disso, os membros idosos da família poderiam exigir a nossa atenção e ajuda de uma hora para a outra.

É sempre desejável que uma pessoa doente seja atendida por alguém de seu entorno afetivo, e é maravilhoso quando há essa possibilidade. No entanto, também temos que reconhecer que, para quem assume essa responsabilidade, isso pode ser um grande desafio, no qual a vida toma um rumo que muda a nossa rotina, tirando-nos de repente da nossa zona de conforto.

Um dos aspectos que implica o desafio de ser um cuidador é não esquecermos das nossas próprias necessidades físicas e emocionais.

Ser ou não ser

Víctor Frankl, o psiquiatra sobrevivente do horrível Holocausto nazista, disse que o que nem as circunstâncias mais terríveis da vida podem nos tirar é “a escolha que se faz sobre a forma de viver e lidar com o que nos passa.” Isto significa que, ainda que nem sempre o entendamos, realmente temos a liberdade de escolher o que vamos fazer com o que a vida nos coloca à frente.

A princípio, uma situação inesperada e dolorosa nos produz um impacto, assim como confusão e choque, e isso é lógico, pois há muitas coisas novas com as quais temos de aprender a lidar: a rotina, as limitações e o tumulto emocional que experimentamos vendo nosso ente querido nessas condições.

No entanto, uma vez superada a comoção inicial e estabelecida a nova rotina, chega o momento de definir nossa atitude existencial. Que opções temos?

Não aceitar a situação implica sentimentos de raiva, frustração, tristeza e impotência. Ainda que seja humano sentir-se oprimido e resistir diante de uma contrariedade, se essa atitude de resistência se mantiver ao longo do tempo, o resultado é o estresse crônico e o desgaste emocional, que afetarão nossa saúde e nossa capacidade de cuidar do outro.

Aceitar a situação como uma obrigação moral seria uma aceitação superficial, pela metade, uma vez que estaríamos divididos entre o amor e o dever, e isso implicaria assumir a tarefa sem entusiasmo nem coração, por isso não estaríamos fazendo-nos um favor nem a nós mesmos nem a pessoa sob nossos cuidados.

Aceitar a situação como uma oportunidade para crescermos e sairmos mais fortalecidos seria a atitude mais sábia, que nos ajudaria a aliviar os fardos e manter o ânimo elevado. Se conseguirmos, apesar da situação difícil, manter a harmonia interior, poderemos irradiar esse estado ao nosso ente querido e, assim, ambos nos beneficiaríamos.

Como aprender a nos cuidarmos?

Não é raro que um cuidador, imerso em seu papel de dar atenção a seu ente querido, descuide-se de si mesmo e chegue a um nível perigoso de esgotamento de suas forças físicas, emocionais ou ambas. Há algumas chaves para evitar que o desgaste nos impeça de poder continuar cumprindo nosso dever de cuidadores:

Reconhecer nossas limitações: entender que não podemos fazer tudo e que somos humanos.

Pedir ajuda material e emocional, quando necessário, aos nossos parentes ou amigos, seja solicitando que nos substituam no cuidado do doente ou que nos ajudem com certas tarefas como fazer compras ou fornecer-nos algo que necessitamos. E do ponto de vista emocional, muitas vezes necessitamos “desabafar” com alguém que nos escute com simpatia ou simplesmente nos distraia e faça rir.

Cercar-nos de uma equipe de profissionais competentes, tais como médicos, enfermeiros e terapeutas dignos de nossa confiança, que possuam qualidades humanas, para ter a certeza de que o nosso ente querido está em boas mãos.

Procurar apoio psicológico é uma boa opção, já que nos dá um espaço objetivo para ventilar as nossas emoções e refletir sobre o significado do que está acontecendo conosco.

Redescobrir a espiritualidade, quaisquer que sejam as nossas crenças, como fonte de inspiração e transcendência que nos ajude a superar os momentos difíceis, para encontrar sentido na situação e nos renovarmos constantemente.

Nada acontece porque sim; devemos extrair um aprendizado de cada situação que tivermos que enfrentar e quem sabe…? No final, talvez encontremos uma grande lição de vida ao colocar-nos no papel de cuidadores: não só nos dedicarmos ao cuidado dos outros, mas também aprender a cuidarmos de nós mesmos.

Imagem cedida por Rosie O’Beirne


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