Artemisia Gentileschi, a biografia de uma pintora barroca

Artemisia Gentileschi foi uma grande artista que pintou durante o período Barroco. Filha de pai pintor e com uma relação estreita com Caravaggio, Gentileschi é uma das poucas mulheres das quais se tem registro na história da arte.
Artemisia Gentileschi, a biografia de uma pintora barroca
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Camila Thomas

Última atualização: 05 janeiro, 2023

Artemisia Gentileschi foi uma pintora barroca do século XVI. Assim como aconteceu com muitas outras mulheres na história da arte, seu nome permaneceu oculto durante muitos anos.

Historiadores e colecionadores atribuíram as obras de Gentileschi a outros artistas homens. Assim, a vida e a obra de Artemisia Gentileschi ilustram o machismo do século XVI.

Na atualidade, Artemisia é reconhecida como uma pintora do início do barroco italiano. Suas obras mostram o caráter e as pinceladas características da época, além de uma profundidade única nos personagens.

Neste artigo, tentaremos nos aproximar dessa mulher esquecida pela história, mas que, sem dúvida, merece um espaço significativo nela.

Infância e juventude de Artemisia Gentileschi

Artemisia Gentileschi nasceu em 8 de julho de 1593 em Roma, na região conhecida como Estados Papais, na Itália. Foi a talentosa primogênita de Prudentia Montone, que faleceu quando Artemisia tinha 12 anos, e Orazio Gentileschi, um conhecido pintor.

Seu pai foi um dos principais seguidores do revolucionário pintor barroco Caravaggio. A artista foi uma importante defensora da segunda geração do dramático realismo de Caravaggio.

Artemisia mostrou rapidamente grandes dotes para a arte e começou a aprender com seu pai. Orazio era amigo de Caravaggio, o provocador e selvagem pintor à frente da cena artística de Roma.

Uma vez, Orazio e Caravaggio foram acusados de escrever um graffiti difamatório nas ruas de Roma sobre outro pintor. Durante o julgamento, Orazio contou história sobre a visita de Caravaggio à sua casa para pedir emprestadas algumas asas de anjo.

Graças a esses dados, sabemos que o grande artista deve ter mantido uma estreita relação com a família Gentileschi, e eles sugerem que a filha mais velha de Orazio, Artemisia, o teria conhecido.

Quadro de Artemisia Gentileschi

Como era pupila de seu pai e do pintor de paisagens Agostino Tassi, os trabalhos de Artemisia são difíceis de distinguir desses pintores. No início, Artemisia Gentileschi pintou em um estilo que não se distingue da interpretação um tanto lírica de seu pai, seguindo Caravaggio.

Sua primeira obra conhecida é Susanna e i vecchioni (em português, Susana e os anciões, 1610), uma obra feita por ela que foi atribuída a seu pai. Também pintou duas versões de uma cena já ensaiada por Caravaggio (mas nunca tentada por seu pai), Judith decapitando a Holofernes (em português, Judith decapitando Holofernes , c. 1612-13; c. 1620).

Artemisia Gentileschi, uma vítima de abuso

Em 1611, Orazio foi contratado para decorar o Palazzo Pallavicini-Rospigliosi em Roma, juntamente com o pintor Agostino Tassi. Com a esperança de ajudar Artemisia, que à época tinha 17 anos, a aperfeiçoar sua técnica de pintura, Orazio contratou Tassi para que a ajudasse.

Tassi teve contato individualmente com Artemisia e, durante uma de suas sessões de orientação, ele a estuprou. Após o estupro, Artemisia começou uma relação com Tassi pensando que ambos iam se casar.

No entanto, pouco depois Tassi se negou a casar com ela. Orazio tomou a incomum decisão de denunciá-lo pela violação, e o julgamento posterior se prolongou durante sete meses.

Artemisia era virgem até o momento do estupro que sofreu e o julgamento revelou outros detalhes escandalosos, como várias acusações de que Tassi havia assassinado sua esposa.

Como parte dos procedimentos judiciais, Artemisia teve que se submeter a exames ginecológicos para comprovar que tinha perdido a virgindade no momento do estupro. Além disso, ela foi obrigada a testemunhar sob tortura, com o objetivo de comprovar a veracidade do seu depoimento.

Para um artista, essa forma de tortura poderia ter sido devastadora, mas Artemisia, felizmente, evitou o dano permanente aos seus dedos.

Seu emocionante testemunho, no qual afirma que poderia ter matado Tassi depois do estupro, dá uma série de pistas sobre seu incomum caráter para a época e sua determinação.

Tassi, por fim, foi considerado culpado e exilado de Roma. A sentença nunca foi cumprida, já que Tassi recebeu proteção do Papa devido a sua habilidade artística.

Muitas das pinturas posteriores de Artemisia Gentileschi mostram cenas de mulheres atacadas por homens ou em posições de poder em busca de vingança.

Gentileschi em Florença sob a proteção dos Médici

Um mês depois de dar por concluído o julgamento, Orazio fez os acordos para que Artemisia se casasse com o artista Pierantonio Stiattesi. Posteriormente, o casal se mudou para a cidade natal de Stiattesi, Florença.

Em Florença, Artemisia recebeu uma de suas primeiras comissões importantes, um afresco na Casa Buonarotti. O sobrinho do pintor havia transformado a casa de Michelangelo em um monumento e museu.

Em 1616, ela se uniu à Academia de Diseño de Florença, transformando-se na primeira mulher a fazer isso. Essa atitude lhe permitiu comprar seus materiais artísticos sem a permissão de seu esposo e assinar seus próprios contratos.

Ela também recebeu o apoio do Grande Duque da Toscana, Cosme II de Médici, de quem recebeu várias comissões lucrativas.

Em Florença, ela começou a desenvolver seu estilo característico. Diferentemente de muitas outras artistas do século XVII, Artemisia Gentileschi se especializou na pintura da história, em vez de natureza morta e retratos.

Em 1618, Artemisia e seu esposo tiveram uma filha, Prudentia, que recebeu o nome da falecida mãe de Artemisia. Aproximadamente nessa época, Artemisia começou um apaixonado romance com um nobre florentino chamado Francesco Maria di Niccolò Maringhi.

A história desse amor está documentada por uma série de cartas de Artemisia para Maringhi, que foram descobertas pelo acadêmico Francesco Solinas em 2011.

De modo pouco convencional, o marido de Artemisia chegou a saber sobre o assunto e usou as cartas de amor de sua esposa para obter dinheiro de Maringhi.

 “Excelência, mostrarei o que uma mulher pode fazer”.
-Artemisia Gentileschi-

O nobre Maringhi foi parcialmente responsável por sustentar o casal financeiramente. As finanças eram uma preocupação frequente para eles devido à má administração do dinheiro por parte de Stiattesi.

Retorno a Roma, retorno a Caravaggio

Os problemas financeiros, sem contar os rumores generalizados sobre o romance de Artemisia, provocaram desentendimentos entre o casal e, em 1621, Artemisia voltou à Roma sem seu marido.

Na cidade, retomou contato com suas influências e as inovações de Caravaggio. Além disso, trabalhou com vários de seus seguidores, incluindo o pintor Simon Vouet.

Não teve tanto sucesso em Roma como havia esperado, e até o final da década passou algum tempo em Veneza, provavelmente em busca de novas comissões.

As cores de Artemisia Gentileschi eram mais brilhantes que as de seu pai. No entanto, continuou fazendo uso do sombrio popularizado por Caravaggio muito depois de seu pai já ter abandonado esse estilo.

Pintura de Artemisia Gentileschi

Na corte inglesa: período tardio

Por volta de 1630, mudou-se para Nápoles, e em 1638 chegou a Londres, onde trabalhou com seu pai para o rei Carlos I.

Pai e filha colaboraram nas pinturas do teto do Grande Salão na Casa da Rainha Henrietta Maria, esposa do Rei Carlos I, em Greenwich. Depois da morte de seu pai em 1639, ela continuou em Londres por mais alguns anos.

Enquanto estava nessa cidade, Artemisia pintou algumas de suas obras mais famosas, incluindo seu Autoritratto come allegoria della Pittura (em português, Autorretrato como alegoria da pintura, 1638).

Segundo seu biógrafo, Baldinucci (que anexou a vida de Artemisia à biografia de seu pai), a artista pintou muitos retratos e superou rapidamente a fama de seu pai.

Mais tarde, por volta de 1640 ou 1641, ela se estabeleceu em Nápoles, onde pintou várias versões da história de David e Betsabé, mas pouco se sabe dos últimos anos de sua vida. A última correspondência data de 1650 e implica que ela ainda estava trabalhando ativamente.

A data de sua morte é incerta. Há algumas evidências que sugerem que ainda trabalhava em Nápoles em 1654. Assim, especulou-se que pode ter morrido como consequência da praga que devastou a cidade em 1656.

O legado de Artemisia Gentileschi

O legado de Artemisia Gentileschi foi controverso e complexo. Embora tenha sido muito respeitada e conhecida durante sua vida, após usa morte foi omitida quase por completo dos relatos históricos da arte da época.

Isso se deve, em parte, ao fato de que seu estilo era frequentemente parecido ao de seu pai. Consequentemente, muitas de suas obras foram atribuídas a Orazio.

O trabalho de Artemisia foi redescoberto no início de 1900 e foi particularmente defendido por Roberto Longhi, estudioso de Caravaggio.

 “Enquanto viver, terei o controle sobre o meu ser”.
-Artemisia Gentileschi-

Os relatos acadêmicos e populares de sua vida e pintura, no entanto, estão marcados por interpretações exageradas e muito sexualizadas. De certo modo, isso se deve à difusão de um romance sensacionalista sobre Artemisia, publicado pela esposa de Longhi, Anna Banti, em 1947.

Nas décadas de 1970 e 1980, algumas historiadoras de arte feministas, como Mary Garrard e Linda Nochlin, defenderam a artista. As historiadoras se focaram em suas importantes conquistas artísticas e sua influência ao longo da história da arte, mais do que em sua biografia.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Pérez Carreño, F. (1993). Artemisia Gentileschi. Colección El arte y sus creadores, Volumen 13.
  • Cropper, E. (1995). Artemisia Gentileschi, la pintora. In La mujer barroca (pp. 189-212). Alianza Editorial.
  • Nochlin, L. (2008). ¿Por qué no ha habido grandes mujeres artistas? En Catálogo de exposición, 283-289.
  • Carreño, F. P. (1995). Drama y espectador en Artemisia Gentileschi. Asparkía. Investigació feminista, Volumen 5, 11-24.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.