Às vezes, só precisamos de carinho
Às vezes, tudo o que precisamos é carinho. Mais nada. Não queremos as palavras de sempre, nem essas frases que já foram expressadas tantas vezes. Queremos ser reafirmados, acolhidos e valorizados pelo contato dessa mão passando suavemente pela nossa pele…
Poucas coisas oferecem uma calma afetiva e mental tão adequada quanto o simples ato de fazer carinho. Além disso, profissionais do campo da psicologia humanista nos dizem que toda pessoa precisa ser tocada pelas pessoas que ama para se sentir “reconhecida”.
A privação sensorial é uma realidade que pode existir não apenas na relação entre o bebê e a sua mãe, mas também pode ocorrer entre casais em algum momento. São vínculos onde não existe um contato adequado, em que a pessoa não é reconhecida pelo toque, abraço, palavras gentis…
Nesse caso não existe transmissão de afeto ou aquele amor que vai mais além das palavras. Uma criança que sofre com a privação materna tem um desenvolvimento muito mais lento, além de possíveis transtornos reativos e distúrbios emocionais no futuro. São crianças que crescem com carências graves.
A nível afetivo, entre casais também pode ocorrer que alguma das partes não disponha dessa sabedoria emocional implícita nos simples toques, nos carinhos cúmplices que constroem um relacionamento real.
Nestes casos, o outro membro do casal se sentirá vazio e terá dúvidas sobre os sentimentos e a validez desse compromisso, dessa relação. Porque o carinho é como o alimento do qual a nossa alma e cérebro emocional precisam para se sentirem parte do mundo. Parte daquilo que amam.
O carinho: uma necessidade psicológica, biológica e social
Geralmente dizem também que o modo como uma pessoa recebeu carinho ao longo de sua infância determinará a forma com que ela irá esperar o afeto dos outros.
Se você nunca recebeu carinho na infância, é bem possível que não saiba como oferecê-lo, mas sua necessidade de recebê-lo será, sem dúvidas, muito intensa, apesar de não o reconhecer. É algo complexo, pois as carências da infância determinam muitos dos nossos aspectos na vida adulta.
E ainda que possam existir muitas diferenças individuais, a necessidade de contato, de proximidade e de afeto é uma coisa universal, e não só entre os seres humanos; também é possível encontrar esses traços entre os animais. Podemos até mesmo vê-los nos nossos animais de estimação.
Vejamos agora quais são as características básicas e quais implicações psicológicas existem em relação ao carinho.
O poder das carícias incondicionais
Para que um ato de carinho tenha impacto, relevância e transcendência, ele deve ser incondicional. Eu passo a minha mão pelo seu rosto porque é o que o meu coração sente, porque o reconheço como parte de mim e faço isso sem egoísmos. Sem condições.
- Um carinho é, antes de nada, um estímulo sensorial. Cria-se uma sensação, mas para que ele seja autêntico e incondicional, o ato de carícia deve despertar sentimentos e emoções positivas.
- Se o carinho é sincero e incondicional, estabelecemos uma reciprocidade adequada. As duas pessoas se reconhecem como parte uma da outra e recebem essas carícias como um tipo de linguagem que as une, que as edifica.
No carinho que lhe ofereço também está uma parte de mim
Nós não acariciamos as pessoas apenas para proporcionar prazer, para acalmar, para atender e satisfazer. Nós fazemos isso para transmitir uma parte de nós mesmos e construir um vínculo.
- As carícias depois de dadas são o que são; a outra pessoa deverá julgá-las como algo autêntico ou algo falso. Porque também não podemos esquecer que existem carícias que causam dano, toques piedosos ou irônicos que podem destruir o vínculo entre duas pessoas.
- Um carinho diz muito de nós mesmos, por isso devemos oferecê-lo com calma, com ternura, transmitindo essas mensagens cúmplices que não precisam de palavras.
Carinho como parte do apego saudável
No nosso site falamos muitas vezes sobre o conceito de apego. E embora seja verdade que, muitas vezes e a partir de outras perspectivas, o apego seja definido como “dependência” ou o ato de se agarrar exageradamente a algo ou alguém, vendo do ponto de vista humanista e afetivo, as pessoas precisam de um apego saudável para criar o vínculo.
Um carinho é o gesto mediante o qual reconhecemos, envolvemos e integramos uma ou mais pessoas no nosso ser. Elas são parte do nosso coração e precisamos desse contato pele com pele para reafirmar emoções.
Imagens cortesia de Zac Retz