Estratégias de autocontrole na dependência emocional
Como o autocontrole pode nos ajudar a vencer a dependência emocional? Esta última é um dos motivos mais frequentes de terapia, mesmo que os clientes ou pacientes não pensem inicialmente que esta possa ser a razão principal. A prevalência é maior entre mulheres, embora não saibamos se essa prevalência é real, já que os dados se baseiam na frequência com que as pessoas procuram ajuda profissional por esse motivo.
Quando um paciente sofre de dependência emocional, o psicólogo costuma desconfiar, pois pode ouvir como o paciente verbaliza que “ama demais o parceiro”, que “o parceiro vai mudar com o tempo quando perceber tal coisa” ou que, às vezes, deixa tudo o que está fazendo em sua vida para afastar qualquer possibilidade de abandono.
Mesmo que as necessidades da pessoa fiquem relegadas a um segundo, terceiro ou quarto plano, o objetivo primordial é que seu parceiro não a despreze ou não se ausente do seu lado.
Neste sentido, a pessoa emocionalmente dependente é capaz de abandonar projetos que são importantes para ela, deixar outras pessoas de lado, gastar quantidades excessivas de dinheiro em presentes ou até mesmo não impor limites às faltas de respeito ou humilhações que pode sofrer de seu parceiro.
Algumas pessoas vão tão longe com a sua dependência emocional que arruinam suas vidas inteiras, generalizando esse problema para o trabalho, a família ou o seu meio social.
Não podemos imaginar como é a autoestima destas pessoas quando colocam seus parceiros acima de tudo, mesmo que este lhes faça mal. O que realmente acontece é que existe uma carência emocional não resolvida, e estas pessoas tentam preenchê-la com o afeto efêmero de outra pessoa.
Por isso, o abandono é tão importante e temido, pois significa ficar órfão de amor ou do afeto, algo que falta a elas próprias.
Até onde a situação de dependência pode chegar?
Quando explico a dependência emocional, costumo desenhar uma “marionete” correndo atrás de um coração com um buraco no centro do corpo — como se lhe faltasse um pedaço. O buraco, que também tem o formato de um coração, só pode ser preenchido com a própria autoestima, ou seja, com o amor que o próprio paciente dá a si mesmo.
O dependente não sabe disso, e acha que correr atrás de um coração que está do lado de fora é a solução para o seu problema. Ele corre, corre e não para de correr, por dias, meses, até décadas. Qual é o resultado desta corrida árdua? O único resultado que nossa “marionete” obtém é a exaustão.
O coração não é alcançado e, se for alcançado e o colocarmos em nosso buraco, não vai servir. É como se não fosse do nosso tamanho. A questão que é essencial entender é que nenhum coração vai encaixar.
O único coração que vai servir, como já dissemos, é o nosso próprio coração. Podemos perder nossas amizades ou deixá-las de lado para evitar a rejeição do parceiro, podemos sabotar nossos próprios valores, gostos e desejos para satisfazer o outro. Podemos abandonar trabalhos, viagens e projetos interessantes para não nos afastarmos do nosso parceiro. Podemos, inclusive, nos tornar ciumentos e tentar controlar tudo o que o parceiro faz, mesmo com o sofrimento que isso causa e a falta de resultados.
O que podemos fazer para não cair nessa armadilha?
Estratégias de autocontrole na dependência emocional
Do ponto de vista psicológico, as técnicas que podemos colocar em prática para ganhar autocontrole na dependência emocional precisam ter como objetivo administrar nossos impulsos mais emocionais e arraigados.
As pessoas emocionalmente dependentes, assim como acontece em outras dependências, sabem que sua forma de agir as prejudica, mas não conseguem parar de fazer isso porque seu “GPS emocional” tem muita força ao guiar suas ações.
É difícil romper o hábito dependente, mas, no final das contas, trata-se apenas do seguinte: um hábito ou um padrão aprendido, que pode ser desaprendido com muita dedicação e esforço.
Algumas formas de efetuar esta desaprendizagem são:
- Quando você for enviar uma mensagem de texto para o seu parceiro ou ex-parceiro como uma tentativa de controle, seja por ciúme ou para saber o que ele pensa ou o que está fazendo, escreva a mesma mensagem em uma folha de papel em branco. Assim, você ganha tempo — a emoção diminui sua intensidade em alguns minutos — e você também se obriga a tirá-la de sua mente impulsiva para, então, ter que escrevê-la novamente no seu celular.
Esse exercício tão simples pode criar uma “reatividade”, e isso implica uma vantagem, pois pode te inibir de colocar o comportamento em prática.
- Tente praticar o contato zero. Se a relação terminou e você ainda se sente preso, tente reduzir o contato real a zero. Exclua a pessoa de todas as redes sociais, evite encontrar amigos em comum ou frequentar lugares nos quais você pode encontrar o(a) ex.
- Se você sentir o impulso de ir até a casa do parceiro, de se aproximar para conversar, etc, faça o comportamento contrário. Se, para chegar até a casa da pessoa você precisa pegar o carro e dirigir por uma rodovia, tente desviar por um caminho alternativo que te obrigue a dar muitas voltas para chegar ao destino. Assim como nas outras estratégias, isso lhe permitirá ganhar tempo e pensar de forma mais racional.
- Pense no que você vai ganhar seguindo seus impulsos. A pessoa vai voltar com você? Ela vai conseguir te explicar (da forma que você quer) o porquê de não estar mais ao seu lado? Você realmente quer reatar o relacionamento com a pessoa? Se após fazer todas estas perguntas para si mesmo você concluir que não vai chegar a nada além de uma discussão, cansaço ou irritação que poderia ter sido evitada, pense bem se ainda quer seguir seus instintos.
- Faça um cartão de lembrança. Quando você estiver sereno emocionalmente, escreva um cartão de lembrança ao qual você sempre poderá ter acesso. No cartão, escreva frases que te ajudem a não dar um passo para o lado obscuro quando estiver muito preso ao mundo emocional. É preciso que sejam frases que te toquem e que sirvam, não adianta ser qualquer coisa.
Um exemplo poderia ser: “Você já tem experiência e sabe que agindo assim só vai se machucar. Este não é um bom motivo para manter o esforço e controlar seus impulsos?”.
É difícil adquirir autocontrole na dependência emocional. Fazer isso exige um trabalho constante e, ainda assim, ninguém é totalmente invulnerável. Precisamos saber que quedas e recaídas fazem parte do processo e devemos continuar tentando.
Pouco a pouco, com prática, ganharemos autoestima e deixaremos de nos envolver em relações baseadas na dependência, passando a criar e manter relações saudáveis, fáceis e fluidas.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
Riso, W. ¿Amar o depender? Cómo superar el apego afectivo y hacer del amor una experiencia plena y saludable. Editorial Planeta/Zenith