Autorrevelação: quanto da sua intimidade você compartilha com os outros?
A autorrevelação é uma habilidade social de dois gumes. Ela define a capacidade de compartilhar informações privadas com outras pessoas: experiências, pensamentos e desejos que pertencem ao terreno mais profundo e pessoal. Por um lado, todos sabemos que as melhores relações são aquelas em que nos permitimos transmitir ao outro parte desse “material sensível” porque há confiança.
Às vezes, no entanto, tropeçamos nessa arte complexa de saber o que compartilhar e o que manter em segredo. Afinal, ao nos abrir para os outros, também nos expomos a ser traídos. Isso faz, por exemplo, que muitas pessoas pareçam tão reservadas que ninguém pode acessá-las.
Algo assim cria distâncias e dificulta a criação de vínculos enriquecedores. Por outro lado, também há aqueles que caminham pelo mundo com o coração aberto. Compartilham tudo, falam de tudo, mostram tudo para os outros, sem filtros nem medidas. Isso, obviamente, faz com que sofram mais de uma decepção.
Apesar disso, por mais impressionante que possa parecer, a ciência nos mostra que quem diz o que sente e compartilha com os outros o que quer, possui uma melhor saúde psicológica… Vamos analisar o assunto.
Existem dois ingredientes mágicos para um relacionamento funcionar: autorrevelação e confiança.
O que é autorrevelação?
Autorrevelação é um conceito introduzido por Altman e Taylor em 1973, a partir de um trabalho de pesquisa com certa relevância. Faz parte da psicologia social e das relações interpessoais. De acordo com essa teoria, a revelação gradual de sentimentos e experiências pessoais favorece tanto o sentimento de confiança quanto o conhecimento que temos do outro.
É como deixar migalhas de pão, pequenas pinceladas de como somos, para que o outro possa apanhá-las e, por meio delas, conseguir replicar a nossa imagem. Assim, poderá obter uma ideia de como somos, de quais são as nuances experienciais e de personalidade que nos definem.
A autorrevelação exige que pratiquemos a abertura psicoemocional e o compartilhamento de informações. Tudo isso através do filtro da sinceridade. Afinal, sem ela, dificilmente podemos falar de um vínculo autêntico.
Entretanto, é interessante saber que, neste campo, há sempre notáveis diferenças interindividuais. Assim, há pessoas que imediatamente compartilham aspectos íntimos de suas próprias vidas com aqueles que acabaram de conhecer. Por outro lado, há também muitas pessoas que são altamente herméticas.
E há também aqueles que ficam em dúvida, fazendo-se a clássica pergunta: até onde devo ir? O que devo ou não dizer a essa pessoa que me agrada e que acabei de conhecer?
A autorrevelação é uma viagem de ida e volta: compartilhamos pensamentos íntimos enquanto a outra pessoa deve fazer o mesmo. Se isso não acontecer ou se percebermos que estão mentindo para nós, é melhor deixar essa relação.
A autorrevelação é a pedra angular da intimidade emocional
Você quer começar um relacionamento amoroso? Então você deve praticar a autorrevelação. Quer construir um vínculo de amizade sólido e enriquecedor? Então, você deve praticá-la. É necessário compartilhar com essa pessoa os nossos aspectos privados. Em essência, para formar laços sociais e afetivos, as pessoas devem abrir partes confidenciais da sua mente e coração.
Isso significa que somos obrigados a nos expor? Toda relação exige um ato de fé, e esse passo de coragem exige praticar duas dimensões muito específicas: a reciprocidade e a autorrevelação. É assim que se constrói, dia a dia e passo a passo, essa intimidade emocional em que, de repente, construímos maravilhosos refúgios emocionais onde cabem duas pessoas que se sentem em total sintonia…
O problema da desigualdade percebida: quando revelamos mais do que revelam para nós
A Universidade de Amsterdã realizou uma pesquisa interessante em 2018. Nela, aprofundou-se a forma como a autorrevelação não só serve para construir relações sociais, como também é fundamental para desvendar o desenvolvimento e a manutenção de relacionamentos amorosos e de amizade. Ou seja, ela é algo que não só nos permite conectar com os outros, como também é necessária para atender e cuidar desses vínculos.
No entanto, em muitos casos, encontramos um fenômeno recorrente. A desigualdade percebida surge quando nos damos conta de que compartilhamos muito mais com as pessoas do que elas nos oferecem. Não se trata apenas de que se mostrem herméticas, mas que às vezes também não digam o que sentem, com a autorrevelação se tornando uma tergiversação.
Essas situações, como bem podemos imaginar, são prejudiciais. No entanto, há um fato inegável. O bem-estar e a felicidade interpessoal exigem uma troca constante de pensamentos e sentimentos sinceros. Quanto mais intimidade, mais união.
O quanto devemos compartilhar com os outros?
A autorrevelação ou a capacidade de se abrir para os outros, compartilhando detalhes pessoais, reverbera não apenas nas nossas relações, como também no nosso bem-estar psicológico. Ser capaz de falar sobre aspectos particulares de nós mesmos revela que somos capazes de confiar nos outros. E isso é algo necessário, saudável e que nos beneficia.
No entanto, quem opta pelo hermetismo demonstra essa desconfiança e ansiedade social que, de uma forma ou de outra, é prejudicial. Não conseguir confiar em ninguém nos deixa isolados, situando-nos assim na esfera da solidão. Entretanto, há um aspecto que devemos considerar: não é nada bom cair em extremos. Ou seja, não é aconselhável nos abrirmos completamente para alguém que não conhecemos, nem optar pela frieza e distanciamento emocional.
O segredo está na reciprocidade. Portanto, vamos compartilhar de acordo com o quanto compartilham conosco. Assim, vamos revelar tanto quanto acreditarmos e precisarmos, ponderando se a pessoa diante de nós oferece confiança, sinceridade e empatia. Afinal, essa é a chave para as relações saudáveis.
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- Altman, I., & Taylor, D. A. (1973). Social penetration: The development of interpersonal relationships. Oxford, England: Holt, Rinehart & Winston.
- Sprecher, S., & Hendrick, S. S. (2004). Self-Disclosure in Intimate Relationships: Associations With Individual and Relationship Characteristics Over Time. Journal of Social and Clinical Psychology, 23(6), 857-877. http://dx.doi.org/10.1521/jscp.23.6.857.54803