Biografia de José Ortega y Gasset, um filósofo que transcende gerações

José Ortega y Gasset, vinculado ao novecentismo, favoreceu um movimento de renovação cultural, filosófica e ideológica fundamental para a posterior geração de 27.
Biografia de José Ortega y Gasset, um filósofo que transcende gerações
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

Conheça a biografia de José Ortega y Gasset, um dos filósofos espanhóis de maior destaque. Intelectual, ensaísta, jornalista, orador… Seu discurso liberal e regenerador continha as essências do perspectivismo e do propósito de vida.

Pertenceu ao movimento do novecentismo e à Geração de 14, onde também estavam figuras como Pablo Picasso e Juan Ramón Jiménez.

Suas obras mais representativas, como ‘Espanha invertebrada’ (1921), ‘A desumanização da arte’ (1925) e, sobretudo, ‘A rebelião das massas’ (1930), descreveram uma página muito interessante da história: a situação social e intelectual que a Europa vivia em meados do século XX.

Ortega refletiu como ninguém a erupção das massas que se expressavam através da arte, dos valores cívicos e de uma filosofia liberal.

Não podemos nos esquecer de que este célebre filósofo desenvolveu seu trabalho em um contexto altamente complexo. A ascensão do comunismo era enfrentada com os fascismos. O sindicalismo com o nacionalismo e, por sua vez, com a classe popular, aquela que começava a se fazer ouvir através dos movimentos culturais e também do consumismo.

“Eu sou eu e as minhas circunstâncias, e se não as salvo, não salvo a mim”. Esta frase tão representativa de José Ortega y Gasset dava a entender a influência deste cenário, no qual assumir que embora o ser humano não possa controlar as circunstâncias que acompanham a sua vida, sempre há uma certa margem, um espaço próprio onde podemos ser responsáveis por nós mesmos e fazer mudanças.

“A vida foi dada a nós, mas não veio pronta”. 
-Ortega y Gasset-

Ortega y Gasset quando jovem

José Ortega y Gasset: biografia de um filósofo liberal

José Ortega y Gasset nasceu no seio de uma família que vivia confortavelmente na Madrid de 1883. Sua mãe era Dolores Gasset, filha de Eduardo Gasset, fundador do jornal Imparcial, onde mais tarde seu próprio pai, José Ortega Munilla, trabalhou como diretor.

Era um lar muito unido à filosofia, ao intelectualismo, ao jornalismo e também à política. Tudo isso fez, sem dúvida, com que Gasset não hesitasse muito ao definir qual seria o seu caminho pessoal. Estudou filosofia e letras em Bilbao e, mais tarde, terminou seus estudos em Berlim.

Após a obtenção do diploma, começou a trabalhar como professor de psicologia e ética, até que em 1910 foi aprovado para ser professor de metafísica na Universidade de Madrid.

Foi a partir de 1920 que sua vida como acadêmico mudou de rumo. Fundou a Revista de Occidente, uma publicação reivindicativa e liberal, com o objetivo de trazer à Espanha correntes intelectuais mais inovadoras, abertas em vez de seletivas.

Mais tarde, chegariam as traduções das novas tendências filosóficas, como Edmund Husserl e Bertrand Russell.

O objetivo de José Ortega y Gasset era tão específico quanto elevado. Ele desejava abrir seu país para o ar de renovação que já era respirado na Europa. Queria que o povo despertasse, que se rebelasse diante do conservadorismo.

“A vida é uma série de colisões com o futuro: não é uma soma de tudo que fomos, mas sim do que desejamos ser”. 
-Ortega y Gasset-

A etapa política da biografia de José Ortega y Gasset

Ortega y Gasset foi eleito deputado durante a II República. Fundou, junto com Marañón e Pérez de Ayala, a Agrupación al Servicio de la República.

Manteve esse posto com muita esperança até que, pouco a pouco, começou a sentir certas discrepâncias com o rumo equivocado que, ao seu parecer, estava sendo seguido pela República. No entanto, tudo mudou em 1936 com a Guerra Civil.

Ele não teve outra opção a não ser viver no exílio. Foram cerca de 10 anos buscando refúgio na França, Holanda, Argentina e Portugal.

Seu retorno em 1945 permitiu um reencontro com muitos intelectuais de ideias semelhantes com os quais poderia continuar trabalhando. Assim, em 1948 fundou, junto com Julián Marías, o Instituto de Humanidades.

Biografia de José Ortega y Gasset

A partir deste momento, sua figura voltou a se destacar entre o panorama cultural espanhol.

Foi professor de vários cursos de filosofia, publicou suas ideias liberais em vários jornais, livros e ensaios. Fundou o jornal El Sol (1917), a revista España (1915) e a Revista de Occidente (1923).

José Ortega y Gasset foi uma figura de relevância inegável que inspirou, mais tarde, a geração de 27. Seu legado como intelectual inovador, suas ideias pessoais e seus princípios filosóficos cruzaram fronteiras, chegando não apenas à Europa, mas também à América Latina.

Ele faleceu em 1955 em sua casa, em Madrid, aos 72 anos.

A obra-chave de José Ortega y Gasset: A Rebelião das Massas

José Ortega y Gasset esteve vinculado a três correntes básicas. A primeira era o novecentismo, um movimento de renovação cultural. O segundo foi o perspectivismo (um conceito definido por Friedrich Nietzsche que propunha a ideia de que não há uma verdade única, cada um tem a sua própria visão).

O terceiro enfoque que determinou o seu trabalho foi uma ideia desenvolvida por ele mesmo. Tratava-se do vitalismo, uma ideia segundo a qual assumir a inevitável inter-relação entre a pessoa e a sua realidade.

Estes pilares foram fundamentais na hora de escrever uma de suas obras mais representativas: ‘A Rebelião das Massas’ (1930).

O fim da vida de José Ortega y Gasset

O perigo de uma coletividade que não raciocina

Um aspecto fundamental que é apreciado em cada página de ‘A Rebelião das Massas’ é o fim do conservadorismo e o início de algo novo que nem sempre é tão positivo quanto poderíamos pensar.

Nesta mudança que a vida moderna traz, também surgem diversos desafios que a pessoa, o cidadão moderno e aparentemente livre, precisa entender.

  • Em primeiro lugar, o conceito de “massa” não tem nada a ver com o termo utilizado pelos marxistas.
  • A massa, para Ortega y Gasset, são pessoas que se desindividualizaram. Ou seja, não são mais figuras isoladas ou individuais. São uma coletividade que, com frequência, está condicionada mais por suas emoções do que por suas razões.
  • Estas massas já surgiam nas novas democracias da época. Portanto, embora o autoritarismo tenha sido deixado para trás, surgem outros perigos. Porque as coletividades também podem ser alienadas por outras figuras da vida pública.
  • No livro, Gasset fazia referência aos atos de vandalismo que ocorriam na França no final dos anos 30. Milhares de jovens iam para as ruas para queimar carros, para desabafar sua raiva guiados ou motivados por outras pessoas que buscavam “acender as massas”.

Um legado muito presente

‘A Rebelião das Massas’ é uma obra-chave da biografia do filósofo José Ortega y Gasset. Dela, emanan múltiplas ideias que ainda não perderam a sua validade. De fato, são muito atuais e nos convidam a refletir sobre algo que ele quis transmitir: se agirmos como grupos gregários, a própria democracia será ameaçada.

Fazemos parte de um contexto histórico e social do qual não podemos escapar. No entanto, devemos nos separar das massas que agem por instinto, devemos agir como seres individuais, responsáveis por nós mesmos e atentos sempre a quem quiser vetar as nossas liberdades.


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