Cancerofobia: O que é, sintomas e tratamentos recomendados

Você já se sentiu ansioso por causa de uma gripe, de um problema gastrointestinal ou de uma tosse que não passa? Questionar nossa saúde é normal e necessário para prevenir doenças. Mas quando o medo se torna constante, obsessivo e paralisante devido ao temor de que os sintomas possam refletir uma doença como o câncer, podemos estar diante de um caso de cancerofobia.
Esse medo irracional e persistente não é considerado um diagnóstico clínico formal no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Na verdade, o termo é usado descritivamente para se referir a um padrão que pode causar ansiedade intensa, amplificar sintomas leves e afetar a qualidade de vida. Neste artigo, compartilhamos os sinais que podem indicar que uma pessoa sofre dessa fobia e como lidar com isso com diversas estratégias.
Origem e manifestações da cancerofobia
A origem desse transtorno difere entre os indivíduos. Embora existam elementos emocionais, ambientais e pessoais que contribuem para seu surgimento, às vezes ele é desencadeado por ter um parente com algum tipo de câncer ou pela experiência pessoal do diagnóstico de um ente querido.
Também está associado a problemas de saúde traumáticos, mesmo que não estejam relacionados a um tumor; também com ansiedade generalizada, hipocondria e ler, ouvir ou assistir muitas notícias, campanhas ou conteúdos relacionados ao câncer, principalmente nas redes sociais.
Por outro lado, a cancerofobia se manifesta por meio de pensamentos negativos e envolve respostas emocionais e comportamentos específicos que interferem na vida diária. De exames médicos desnecessários a alterações de humor ou isolamento, os sinais variam em intensidade de pessoa para pessoa. Abaixo, compartilhamos os mais comuns:
- Problemas para dormir.
- Alterações de humor e irritabilidade.
- Ansiedade toda vez que você faz um exame médico ou ouve a palavra “câncer”.
- Em alguns casos, evitar notícias ou tópicos relacionados ao câncer ou, inversamente, rastrear obsessivamente informações sobre a doença.
- Pensamentos intrusivos como “Tenho certeza de que tenho câncer”, “Esta pinta parece preocupante” ou “E se o médico não a identificou a tempo?”
- Comportamentos repetitivos, como examinar o corpo diariamente em busca de caroços, ir ao médico repetidamente para obter conselhos ou garantias; ou tentar compulsivamente encontrar sintomas na Internet.
Como posso determinar se é preocupação ou medo excessivo?
Ao contrário da preocupação racional, que se baseia em informações reais e permite que você viva em paz entre as consultas, a cancerofobia aparece mesmo sem sintomas claros, causa pensamentos intrusivos e atrapalha a rotina, o descanso e o humor.
Segundo Supportive Care in Cancer, esse medo interfere nas atividades diárias, gera insegurança e dificulta que a pessoa planeje seu futuro ou gerencie o estresse adequadamente, porque ela vive com uma constante sensação de ameaça. Os impactos adversos dessa condição são os seguintes:
- Isolamento social, devido ao medo de ouvir notícias negativas ou de ficar doente.
- Danos aos relacionamentos pessoais, devido à necessidade constante de discutir o assunto ou evitá-lo.
- Redução da produtividade no trabalho devido a distrações, falta de frequência ou dificuldade de concentração.
- Manifestações físicas específicas, como distúrbios gastrointestinais, rigidez muscular ou palpitações, estão associadas a um estado prolongado de ansiedade.
Como faço para parar de pensar que tenho câncer? Estratégias para gerenciar esse medo
Antes de tudo, é fundamental entender que o enfrentamento e a superação desse transtorno levam tempo e, em muitas situações, exigem o acompanhamento de um psicólogo. No entanto, as táticas que descrevemos aqui ajudarão você a lidar com isso.
1. Filtre as informações
Embora buscar informações médicas possa parecer reconfortante no início, com o tempo isso pode desencadear um ciclo de ansiedade e obsessão. O corpo humano é complexo e muitos sintomas comuns não estão necessariamente relacionados ao câncer.
Portanto, é essencial obter informações apenas por meio de portais médicos endossados por sociedades ou instituições científicas reconhecidas, como a Organização Mundial da Saúde, a Sociedade Americana do Câncer ou associações locais de câncer. Evite fontes não confiáveis, como mídias sociais, fóruns ou sites sem suporte profissional.
Se determinado conteúdo aumenta sua ansiedade ou causa medo persistente, considere reduzir a quantidade de tempo que você gasta consumindo notícias. O excesso de informação, ou sobrecarga de informação, pode ser contraproducente porque há mais dados do que podem ser processados, e isso cria desorientação e ansiedade.
Observe que o julgamento de um profissional de saúde deve sempre prevalecer sobre o que você encontra na Internet. Dessa forma você não corre o risco de diagnósticos incorretos e alarmistas.
2. Reconheça pensamentos irracionais
É muito útil identificar se um pensamento é intrusivo, exagerado, desproporcional ou hipocondríaco. Para fazer isso, você pode se fazer perguntas como: “Tenho evidências reais para apoiar essa preocupação?”, “O que eu diria a um amigo na mesma situação?” ou “Estou prevendo um cenário catastrófico sem consultar um médico primeiro?”
Também é essencial que você saiba rotular o pensamento. Uma maneira de fazer isso é afirmar: “Este é um pensamento assustador, não um fato”, para que você possa reduzir o impacto emocional. E não faça associações automáticas, nem todo caroço ou massa significa câncer ou tumor.
3. Pratique relaxamento e bem-estar emocional
Reduzir a tensão emocional é fundamental para lidar com o medo persistente. Uma opção útil é praticar a respiração profunda: inspire por 4 segundos, segure por 4 e expire lentamente por 6. Repita esse ciclo por cerca de 5 minutos para se acalmar. Da mesma forma, você pode experimentar a meditação guiada por meio de aplicativos gratuitos que ensinam como começar com sessões curtas todos os dias.
Além disso, ioga, caminhadas na sombra ou escrita emocional podem ajudar você a canalizar suas preocupações e se conectar com o presente. Estabelecer rotinas de descanso, ouvir música leve, tomar um banho morno ou praticar a gratidão antes de dormir são alternativas que melhoram o sono e reduzem a ansiedade noturna causada pelo medo do câncer.
4. Faça mudanças no seu estilo de vida
Manter uma dieta equilibrada é essencial, mas sem ficar obcecado com o que é “ideal” ou “anticâncer”. Também é recomendável limitar o consumo excessivo de cafeína, álcool e outros compostos que aumentam a tensão emocional, como açúcares refinados ou alucinógenos.
Da mesma forma, caminhar, dançar, andar de bicicleta… Exercícios moderados ajudam a liberar a tensão, melhoram a autoestima e reduzem o monitoramento excessivo dos sintomas.
5. Procure assistência profissional
Para qualquer problema de saúde mental, especialmente em casos de cancerofobia, é essencial consultar um psicólogo ou psiquiatra nas seguintes situações:
- Se o medo interfere na sua vida diária.
- Se você passou por vários exames médicos sem resultados conclusivos, mas o medo persiste.
- Se houver histórico de ansiedade, hipocondria ou ataques de pânico relacionados a doenças graves.
Um dos tratamentos para esse tipo de fobia é a terapia cognitivo-comportamental, que se concentra em identificar e modificar os pensamentos e comportamentos que alimentam o desconforto psicológico.
Esse transtorno não deve tomar conta da sua vida
É compreensível sentir medo diante da perspectiva de enfrentar uma doença grave, mas quando o medo é constante e limitante, é importante reconhecê-lo e agir. Cancerofobia não é sinônimo de fraqueza, e sim uma manifestação de ansiedade que pode ser tratada com apoio profissional.
Se essa emoção o acompanha com frequência, lembre-se de que você não precisa passar por isso sozinho. Existem recursos, estratégias e especialistas prontos para ajudar você a recuperar seu bem-estar. Procurar ajuda é o primeiro passo para uma vida mais tranquila e livre de ansiedade desnecessária.
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