O cérebro e a alimentação: comer de forma saudável não é tão fácil quanto parece
O cérebro e a alimentação têm uma relação direta, uma associação à qual nem sempre damos a importância que merece. Vivemos em uma época em que somos bombardeados com termos como “comida de verdade” e “alimentação consciente“. Também somos incentivados a seguir uma dieta para atender a certos padrões de beleza ou escolher os chamados “superalimentos” que cuidarão ao máximo da nossa saúde.
Agora, há algo que devemos considerar: teríamos que prestar mais atenção em como a comida nos faz sentir do que em como ela provoca mudanças em nossa imagem corporal. Porque a verdade é que o cérebro também modula o tipo de alimento que escolhemos com base em como nos sentimos, o que nem sempre funciona a nosso favor.
Dessa forma, ao invés de ficar obcecado em seguir certas dietas ou em escolher produtos que pareçam muito saudáveis, seria aconselhável aplicar outra abordagem. Regular e controlar as emoções é tão importante quanto escolher o que colocar no prato todos os dias.
A dieta afeta nossas emoções e as emoções, por sua vez, impactam as nossas escolhas alimentares. Comer bem depende de muitos fatores que nem sempre levamos em consideração.
Como o cérebro e a alimentação se relacionam?
Se há uma coisa que o cérebro adora, é gordura, açúcar e sal. Para nossos ancestrais distantes, era difícil acessar esses recursos muito úteis para a sobrevivência. Desse modo, parece que estamos programados de alguma forma para consumir o máximo que pudermos quando os tivermos ao nosso alcance. A forma como seu consumo ativa nossos circuitos de recompensa é muito intensa, e poderíamos até dizer que eles são reforçadores muito poderosos.
Dessa forma, toda vez que passamos por momentos difíceis e altos e baixos, é comum tentar ativar nosso circuito de recompensa dessa forma. O fast food, rico em gorduras, sal e açúcares, gratifica o cérebro e nos dá um prazer instantâneo. No entanto, esse prazer é breve e também viciante. Aos poucos, vamos passando a ter hábitos alimentares prejudiciais à saúde física e psicológica.
A fome emocional e o cérebro “trapaceiro”
Seria maravilhoso ter um cérebro que sempre nos motivasse a escolher a opção mais saudável para incluir em nossa dieta. No entanto, a maneira como comemos é baseada na nossa educação, cultura e biologia. Desse modo, se nos perguntarmos agora que fator influencia mais a forma como comemos, a resposta é simples: as emoções.
O cérebro não nos ajuda a manter uma dieta correta. Estudos, como os realizados na Universidade de Amsterdam, mostram algo revelador. Pessoas que comem apenas pelas suas emoções demoram mais para se sentir saciadas. Ocorre um problema na estimulação do receptor GLP-1 associado à saciedade.
Estar ansioso ou sentir-se mal em relação aos problemas afeta diretamente a forma como nos alimentamos. O cérebro e a alimentação estão intimamente relacionados porque, se as emoções modulam o nosso comportamento, também afetam a forma como comemos.
Somos o resultado dos nossos bons (ou maus) hábitos
O cérebro é o resultado sofisticado da nossa evolução. Além disso, há algo evidente: a dieta em si tem sido um fator indiscutível na seleção e no progresso humano. Ir da caça e coleta primitivas para a dieta paleolítica muito mais rica em nutrientes foi um marco evolutivo.
O cérebro e a alimentação são o resultado claro de nossos hábitos de vida. Tanto é verdade que muitas das doenças atuais, de acordo com um estudo do Dr. Bob Weinhold, especialista em epigenética, dependem em grande parte dos fatores externos que nos cercam.
Sociedade, educação, trabalho, estresse, cultura… Todos esses elementos afetam a forma como nos alimentamos e isso, mais do que os genes, afeta a nossa saúde.
O cérebro é moldado pelo que vemos, sentimos e o que a sociedade nos transmite. Hoje em dia, comer bem leva tempo. Nosso estilo de vida, baseado na pressa, preocupação e pressão, nos convida a alimentar as emoções, não o corpo.
Cérebro e comida: as emoções afetam a alimentação (e vice-versa)
As emoções também são comidas, ou melhor, elas nos impelem a escolher alguns produtos em vez de outros. Isso também nos convida a refletir sobre o fato de que, na realidade, não podemos diferenciar entre alimentos “bons” e “ruins”. O problema está na quantidade e na dificuldade de ter uma alimentação variada e balanceada.
O cérebro e a comida se retroalimentam de duas maneiras. Por um lado, sabemos que a maneira como nos sentimos afeta os produtos que escolhemos comer em cada momento e situação. Agora, o que damos ao nosso corpo também influencia a forma como nos sentimos.
A título de exemplo, pesquisas como a realizada na Universidade de Foggia, na Itália, indicam que a dieta mediterrânea, por exemplo, favorece nossa saúde mental. No entanto, basear nossa dieta (exclusivamente) em um alto teor de gordura saturada e níveis calóricos elevados pode levar à depressão.
Para concluir, tentemos sempre lembrar que, muito além dos modismos e gurus da dieta, existem as nossas emoções. Uma alimentação saudável também exige saber administrar o estresse, a ansiedade, a autoestima, e todos os aspectos que afetam o equilíbrio psicológico.
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