Chaim Ferster, a biografia de um sobrevivente que enganou a morte

Foram poucos os seres humanos que conseguiram sobreviver aos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Chaim Ferster foi um deles. Ele não conseguiu sair com vida de uma dessas fábricas da morte, mas sim de oito delas no total. Ele enganou a morte graças ao seu bom senso.
Chaim Ferster, a biografia de um sobrevivente que enganou a morte
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 08 maio, 2020

Chaim Ferster não é uma celebridade do mundo do cinema ou da música, nem um destaque no campo da arte, mas é um sobrevivente. Esse homem de 97 anos, que exala saúde e deixou de trabalhar só aos 92 anos, é um símbolo para o mundo inteiro.

Do seu jeito, ele venceu os nazistas ao conseguir fugir de todas as suas tentativas de assassinato não apenas uma vez, mas em oito ocasiões diferentes.

Ainda que Chaim Ferster tenha passado os que deveriam ter sido os melhores anos da sua juventude tentando suportar os horrores da guerra, essas experiências não o arruinavam emocionalmente. Esse é, provavelmente, o seu maior triunfo.

Ele não sobreviveu para falar sobre a dor ou a desgraça à qual ele e sua família foram submetidos sem escolha, e sim para refazer a sua vida sem que a sombra do passado tivesse qualquer influência.

“Devemos aceitar a decepção como algo finito, mas nunca devemos perder a infinitude da esperança”.
Martin Luther King

Chaim Ferster é hoje um homem doce, grato e sábio. Ele já contou a sua história centenas de vezes, já que é um dos poucos prisioneiros dos campos de concentração nazistas que ainda estão vivos e podem narrar em primeiro mão o que acontecia nesses lugares tão mortais.

Ele é também um bisavô, teve um casamento feliz que durou 65 anos e foi o fundador de uma empresa de muito sucesso que trouxe prosperidade para a sua vida.

Arame farpado em um campo de concentração

Uma época escura

Chaim Ferster nasceu no dia 18 de julho de 1922 em uma cidade chamada Sosnowiec, na Polônia. Sua família era judia ortodoxa e fazia parte da comunidade que representava aproximadamente 21% da população naquela época.

Ele lembra que todos viram com um certo medo a ascensão progressiva do nazismo na Alemanha. E eles não estavam errados.

Em 1939, o local onde morava foi invadido rapidamente pelos nazistas. Começava a Segunda Guerra Mundial e também a imposição do antissemitismo. Primeiro veio a obrigação de portar uma estrela amarela na roupa, depois a discriminação nas ruas e a incerteza do que viria pela frente.

Logo, foram formados os guetos judeus. Chaim Ferster tinha apenas 17 anos mas ainda lembra do medo que dominava aquela época.

O ano de 1942 trouxe uma mudança definitiva para a sua vida. Seu pai morreu de pneumonia, pois no gueto judeu não era possível conseguir nem mesmo os remédios mais básicos. A família também foi afetada pelas grandes restrições de acesso à comida.

Nesse mesmo ano, a Gestapo exigiu que sua mãe e sua irmã se apresentassem às autoridades. Ninguém nunca mais ouviu falar delas.

A tragédia e a esperança

Chaim Ferster e os outros judeus compreenderam que quando alguém era chamado para se apresentar a Gestapo, ninguém nunca mais voltaria a saber o seu paradeiro.

Mas ninguém sabia muita coisa sobre os campos de concentração até então. A informação que circulava era baseada em rumores e informações desencontradas. Nesse contexto, no entanto, seu tio lhe deu um sábio conselho que ainda iria salvar a sua vida. Recomendou que ele aprendesse alguma atividade que fosse útil para os alemães.

Chaim Ferster começou então a aprender sobre a mecânica de máquinas de costura no gueto. Foi uma excelente escolha. Em 1943, chegou a sua hora. A Gestapo pediu que ele se apresentasse e ele foi então enviado para um campo de concentração.

O começo foi muito difícil. Ele esteve nos campos de Oświęcim, Graditz e Niederorschel. Ele se lembra de um momento no qual os prisioneiros foram obrigados a consertar uma estrada em uma temperatura de 25 graus abaixo de zero.

Os nazistas, no entanto, logo se deram conta dos seus conhecimentos técnicos e lhe deram trabalhos menos cruéis. Isso foi essencial para que Chaim Ferster se tornasse um sobrevivente anos depois. Mas o caminho não foi fácil.

Em Graditz ele contraiu tifo, já que havia uma epidemia, e costuma mencionar uma imagem tenebrosa com pilhas de cadáveres, perfeitamente organizados, dos corpos de todos aqueles que tinham sucumbido ao vírus.

Campo de concentração de Auschwitz
Campo de concentração de Auschwitz

Chaim Ferster é um sobrevivente

Já era quase 1945 quando Chaim Ferster foi transferido para Auschwitz. Ele conta que chegou lá a meia-noite, em meio a um silêncio aterrador. Lá, tatuaram sua pele com um código e ele sofreu grandes privações.

No entanto, dois meses depois ele foi transferido novamente, dessa vez para Niederorschel, por que estavam precisando de mecânicos. Para ele, foi como se mudar para um resort.

Devido ao avanço dos aliados, o campo de Niederorschel foi fechado em 1945. Todos os prisioneiros foram enviados para o temido campo de Buchenwald, local onde eram feitas execuções coletivas todos os dias.

Os nazistas, a essa altura, já sabiam que iam perder a guerra, mas antes que isso acontecesse, eles queriam acabar com a maior quantidade possível de judeus.

Chegou o momento da sua execução. Ele estava na fila para o local onde elas aconteciam quando os Aliados tomaram o campo e libertaram todos os prisioneiros. Em seguida veio o regresso para uma dura realidade. Mais de 30 dos seus familiares haviam sido mortos.

Um dos seus tios sobreviventes havia emigrado para Manchester, para onde ele foi e pôde recomeçar sua vida. Chaim Ferster derrotou os nazistas porque, finalmente, era um sobrevivente e se tornou um judeu feliz.


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  • Comins-Mingol, I. (2015). De víctimas a sobrevivientes: la fuerza poiética y resiliente del cuidar. Convergencia, 22(67), 35-54.


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