Como chegar a acordos sobre questões delicadas nas relações afetivas?

No contexto do relacionamento amoroso, via de regra, tendemos a pensar que existem mais acordos e mais profundos do que os que realmente existem. Assim, em algumas ocasiões, surgem conflitos que nem sequer desconfiávamos. Então, chegou a hora de negociar. E é muito importante saber como.
Como chegar a acordos sobre questões delicadas nas relações afetivas?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Você já se viu em uma situação desconfortável ou muito estressante em seu relacionamento? Você se sentiu, talvez, obrigado a fazer algo que não queria? Esse é um território velado sobre o qual não se fala muito. Isso ocorre porque muitas vezes se assume que no universo dos laços afetivos a flexibilidade é maior do que realmente é.

No entanto, ficaríamos surpresos com o número de dinâmicas do dia-a-dia que exigiriam um acordo explícito de ambas as partes. Na verdade, se pensarmos bem, boa parte dos nossos problemas no campo do amor vem justamente da sobrecarga de frustrações, aborrecimentos e angústias não resolvidas.

O consentimento nas relações afetivas implica algo mais do que dar permissão para uma atividade ou comportamento específico. Uma conversa é necessária para decidir por que é melhor limitar certas condutas ou até mesmo não realizá-las. Também é importante que haja compreensão e respeito nesses limites consensuais que remarão a favor do bem-estar nesse vínculo.

O consentimento implica saber comunicar em cada situação para saber o que o nosso parceiro quer e o que não quer, evitando, assim, assumir que tudo é permitido.

menino e menina falando sobre consentimento em relacionamentos afetivos
O respeito mútuo exige saber quais são os limites que cada um de nós tem em cada situação.

O que são os consentimentos nas relações afetivas?

Quando falamos da questão do consentimento, talvez a primeira coisa que pensamos seja no aspecto sexual. É verdade que esse campo é tradicionalmente controverso, em que é comum pensar que, quando somos um casal, o que um quer o outro também quer. Mas não é bem assim. Estamos falando de um âmbito em que é decisivo chegar a acordos satisfatórios, e para isso é necessário comunicar desejos e necessidades.

No entanto, o consentimento nas relações amorosas vai muito além do sexo. Imagine uma situação em que a pessoa amada tenha o hábito de nos usar como uma parede na qual projeta toda a sua negatividade. Ou seja, ela joga sobre nós todas as suas frustrações, ódios e ressentimentos que ela arrasta, por exemplo, do trabalho ou de sua família.

Ser um casal implica deixar espaço para compartilhar problemas mútuos e oferecer apoio, é verdade. No entanto, existem limites emocionais que devem ser respeitados para não sobrecarregar o outro. Ninguém tem que nos usar, por exemplo, como um recipiente para jogar todo o desconforto interno. A sobrecarga que algo assim pode nos acarretar pode ser imensa.

Vamos nos aprofundar nesses limites e acordos aos quais deveríamos chegar com a pessoa amada.

Privacidade pessoal, um direito muitas vezes violado

Como apontamos, muitas de nossas tensões dentro de um relacionamento são resultado de comportamentos que ultrapassam nossos limites. Há comportamentos que nem sempre soubemos frear e que acabam, mais cedo ou mais tarde, enchendo a paciência, a dignidade e o bem-estar.

Sem dúvida, existem inúmeras situações nesse sentido. No entanto, há uma área onde os desacordos são frequentes e onde o consentimento implícito também é frequentemente assumido.

  • O consentimento nas relações afetivas também tem a ver com o respeito à privacidade em todas as suas formas. Nosso parceiro pode ter o hábito de pegar nosso celular e ler nossas conversas. Também pode usar nosso computador pessoal ou tablet. Pode até ter o hábito de compartilhar nossos problemas com seus amigos ou familiares. Pode ser até mesmo habitual que ele entre no banheiro quando o estamos ocupando e isso não nos agrada.

Todas essas situações relacionadas à intimidade exigem uma comunicação adequada para decidir sobre o que é permitido e o que não é. Respeito, compreensão e cumprir com esses limites marcados são fundamentais.

Devemos entender que ser um casal não nos dá carta branca para compartilhar tudo. Há locais que exigem privacidade e intimidade, onde preferimos que o outro não os acesse.

Fronteiras emocionais e a linha borrada que os separa

Violações de limites em um relacionamento também têm a ver com o domínio emocional. E esta é provavelmente uma área que gera alguma contradição para nós. Anteriormente, demos o exemplo da pessoa que lida com o estresse no trabalho ou em disputas familiares. Tenhamos isso em mente: também é necessário conversar com o parceiro para saber qual o momento mais apropriado para falar sobre o que o preocupa, irrita ou o deixa indignado.

Nem sempre nos sentimos dispostos e aptos a ouvir o parceiro como desejamos e merecemos. Da mesma forma, também é necessário levar em consideração o tipo de comunicação que é usado nessas situações. Muitas vezes, a carga emocional associada aos nossos problemas é tão intensa que, quase sem perceber, acabamos usando a comunicação violenta com o outro.

Pesquisas do Kobe College no Japão, por exemplo, indicam que o contágio emocional nas relações afetivas é muito alto. Portanto, também é necessário estabelecer limites nesse aspecto. Todos nós lidamos com nossos desentendimentos em outras áreas fora do nosso relacionamento e, embora seja permitido compartilhar esses problemas, é necessário cuidar da maneira como o fazemos.

Nosso parceiro pode ouvir nossos problemas, mas não é sua obrigação resolver o que acontece conosco. Você pode fornecer apoio emocional e validação, mas nem sempre estará com disposição e vontade de fazê-lo. Perguntemos quando é melhor falar sobre certas coisas.

casal representando a necessidade de obter consentimento nas relações afetivas
Nas relações sexuais também deve haver consentimento mútuo.

Sexo e consentimento nas relações afetivas

“Tenho o consentimento do meu parceiro para ter contato físico ou interação sexual sempre que eu quiser?” Por mais impressionante que pareça, nem todas as pessoas que se encontram em um relacionamento se fazem essa pergunta. Em média, supõe-se que, pelo simples fato de estar em um vínculo afetivo, a disposição do outro é absoluta.

Suposições ou tomar certas realidades como certas nunca é uma boa ideia, especialmente em um relacionamento. O consentimento nas relações afetivas também exige saber se a outra pessoa quer fazer sexo ou praticar certas técnicas sexuais. A comunicação nessa área é fundamental, assim como o esclarecimento e o estabelecimento de limites.

Em essência, é verdade que, quando estamos com um parceiro há muito tempo, geralmente nos acomodamos na rotina relacional. Nesse contexto, é fácil supor que tudo é permitido. Negligenciamos o importante ato de voltar e monitorar ativamente os acordos que construímos desde o início. Caso você não tenha feito isso, se você esqueceu esse aspecto importante, é hora de se dedicar a ele.


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  • Jawer, Michael. (2013). “Our Boundaries, Our Selves: Emotional Thresholds and Personal Psychosomatic Health” – in Journal of Interpersonal Biology Studies.

  • Kimura, Masanori & Daibo, Ikuo & Yogo, Masao. (2008). The Study of Emotional Contagion From the Perspective of Interpersonal Relationships. Social Behavior and Personality: an international journal. 36. 27-42. 10.2224/sbp.2008.36.1.27.


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