Como encobrimos nossas emoções?
As emoções consideradas negativas normalmente seguem certas condutas ou ações orientadas para afastar esse estado emocional. Trata-se de uma estratégia que as pessoas usam bastante e que funciona muito bem a curto prazo, porque nos gera alívio e nos livra dos incômodos sintomas fisiológicos das emoções.
O problema ocorre a longo prazo, quando a solução é apenas uma correção rápida e paliativa diante da necessidade imediata de nos desfazermos do problema. Essas condutas são justamente as responsáveis para que o problema se mantenha ao longo do tempo, e quando menos esperamos a frágil barreira que levantamos desmorona.
Alguns exemplos dessas condutas podem ser comer compulsivamente diante de uma crise de ansiedade, ligar desesperadamente para o companheiro quando temos um ataque de ciúmes para termos certeza de onde ele está, usar drogas ou apostar grandes quantidades de dinheiro.
A tolerância das emoções
Na psicologia, geralmente explicamos aos pacientes – e asseguramos que eles entendam isso perfeitamente – que suas condutas, além dos pensamentos negativos, são os verdadeiros responsáveis pela sobrevivência do problema – seja na superfície ou no interior – e que até você não coloque um fim neles, o dano emocional dificilmente ficará integrado e a dor ou desconforto será atenuado.
Via de regra, as pessoas rejeitam essa teoria porque é muito difícil para elas tolerar a emoção, deixar acontecer, sentir. Os sintomas às vezes são tão desagradáveis que fazemos tudo que for possível para não ficarmos mal, ainda que estejamos cientes de que depois podemos nos encontrar numa situação ainda mais delicada.
Por exemplo, existem pessoas que, ao encarar uma situação problemática, tornam-se muito ansiosas porque sua interpretação geralmente é muito exagerada e vista como terrível e insuportável, e por conta disso descontam tudo numa atividade mega calórica.
É evidente que essa atividade não vai solucionar seu problema. Na realidade, vai acabar criando um novo problema se a pessoa se acostumar com essa dinâmica.
Ou seja, tolerar uma ansiedade intensa é mais complicado do que a opção alternativa de encontrar uma solução rápida e pouco avaliada. De fato, o padrão comportamental de comer contra a ansiedade nessas situações está tão estabelecido que, antes de perceber, a pessoa já está assaltando a geladeira ou os armários em busca de comida.
O ideal teria sido ter uma conduta alternativa para lidar com a ansiedade, como a respiração profunda, analisar bem o problema, buscar soluções e alternativas, pensar de maneira mais racional e executar a solução escolhida, isso sim, sabendo lidar com a nossa ansiedade.
Algumas formas de encobrir as emoções
Todos nós em algum momento tentamos encobrir nossas emoções para sofrer menos, ainda que seja para obter um alívio momentâneo. Mesmo que isso não se converta em um hábito, ainda assim é muito problemático. Como comentamos anteriormente, muitas vezes encontramos um problema ainda maior: o problema psicológico.
Algumas maneiras através das quais tentamos encobrir nossas emoções podem ser:
A comida
A comida tem um poder muito grande nas pessoas por causa do prazer que proporciona, além de matar a fome.
Por outro lado, uma compulsão alimentar, sobretudo com alimentos doces e calóricos, pode nos levar a acreditar que nossa ansiedade foi reduzida e inclusive eliminada. Por isso, podemos tender a moderar nossos estados emocionais com comida, algo que logicamente pode trazer consigo um grave transtorno alimentar.
As drogas
As drogas, assim como a comida, também atuam nos centros de prazer e de recompensa, liberando dopamina em nosso cérebro e fazendo com que nos sintamos bem por um breve intervalo de tempo.
O tabaco, o haxixe, o álcool e o resto das drogas funcionam como um atenuante emocional muito potente. As pessoas com baixa tolerância à frustração são mais propensas a ter um problema com o vício de drogas.
Jogatina compulsiva
Assim como os anteriores, o jogo compulsivo atua como uma recompensa, pois ainda que percamos mais dinheiro do que ganhemos, a expectativa de ganhar nos mantém alerta e motivados, nos distrai das preocupações e nos invade momentaneamente. Depois, se perdemos, o problema pode ser ainda maior.
Sedentarismo
Muito típico de estados depressivos. As pessoas, para não sofrerem mais e se livrarem do esforço, “deixam de viver”, tornam-se inativas, ficam em casa, cancelam planos e, no pior dos casos, até precisam pedir demissão do trabalho. Essa conduta também envolve um peso secundário carregado por parte de familiares e amigos, como mais atenção e cuidados, o que leva a um aumento do esforço.
Falta de assertividade
Ter um comportamento muito agressivo ou ser muito submisso e ceder em tudo são dois comportamentos que podemos ter com os outros. Sendo agressivos exigimos que os outros façam o que queremos e, a curto prazo, tendemos a conseguir nosso objetivo; sendo passivos nos livramos do sentimento de culpa que poderíamos ter ao defender nossos direitos.
Comportamentos de segurança
Olhar sorrateiramente o celular do companheiro, nos assegurarmos mil vezes de que apagamos o gás ou fazer inúmeros exames médicos são comportamentos que também nos livram da ansiedade de que algo ameaçador pode acontecer, ainda que não sejam muito realistas.
Existem outros comportamentos de segurança como levar uma garrafa de água com você caso ocorra um ataque de pânico, ter um aparelho de pressão sempre por perto ou dar palestras com um amuleto da sorte.