Como serão as bibliotecas do futuro?

E se ao invés de um livro você pudesse escolher uma pessoa para te contar a história pessoal dela? As bibliotecas humanas têm esta função e as histórias de vida que nos contam são emocionantes, às vezes trágicas, mas sempre enriquecedoras.
Como serão as bibliotecas do futuro?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Pessoas com transtorno bipolar, com esquizofrenia, pessoas que sofreram abusos, com deficiência intelectual, idosos com uma vida cheia de infinitas vidas ou adolescentes que viveram em um contexto de guerra. O ser humano é diverso, fascinante e o melhor legado de conhecimento existente. É exatamente isso que as chamadas bibliotecas humanas abrigam: a sabedoria autêntica.

Convenhamos, nesta era dos e-books e onde o digital domina quase tudo, deixamos de ir às bibliotecas para ler livros. No entanto, em alguns países, é oferecida uma outra opção maravilhosa. É possível escolher um “livro humano” em vez de livros de papel.

As bibliotecas humanas são espaços onde as pessoas contam suas experiências para quem quiser ouvir. Isso nos permite nos encarnar na perspectiva de outras pessoas, em peles, corações e olhares que, por sua proximidade, tornam suas histórias mais vivas e emotivas. E nenhuma é igual a outra, todas permeiam e podem mudar completamente a forma como concebemos o mundo.

A Biblioteca Humana nos convida a “emprestar” uma pessoa para descobrir sua história, assim como faríamos com um livro.

mulher simbolizando bibliotecas humanas
As pessoas que vão a uma Biblioteca Humana saem com uma completa mudança de perspectiva.

Bibliotecas humanas: espaços de empatia

O projeto de bibliotecas humanas tem sua origem em Copenhague no ano 2000. Foi durante o Festival de Roskilde que o primeiro evento foi organizado por uma ONG dinamarquesa de jovens chamada Stop Volden (Pare a violência). Essa experiência durou 4 dias e mais de mil pessoas participaram. Teve um sucesso sem precedentes.

E em que consistia? Os visitantes podiam escolher seu “livro humano”. Um homem ou uma mulher lhes contava sua história de vida, suas circunstâncias diante de uma realidade particular. Essas bibliotecas de carne, osso e coração são formadas por pessoas que sofreram exclusão social, preconceito ou estigma. Além disso, o leitor tem a oportunidade de fazer perguntas.

O objetivo é desafiar os estigmas

Nas bibliotecas humanas há pessoas que viveram uma guerra. Há aqueles que lidam com esquizofrenia, transtorno bipolar, que superaram um transtorno de comportamento alimentar ou tentaram tirar a própria vida em algum momento. Existem alcoólatras. Também as pessoas que atravessaram um mar para encontrar uma vida melhor…

O objetivo dessas plataformas é transmitir aprendizado e quebrar estigmas. Porque não há nada tão poderoso quanto a palavra, o testemunho em primeira pessoa e o rosto que nos fala direto. Assim, e embora seja verdade que originalmente estes eventos foram criados com o intuito de favorecer a inclusão daqueles que se percebem excluídos, agora outros propósitos vão aparecendo.

Muitos têm a oportunidade de dar voz às suas necessidades, pensamentos e realidades únicas. Cada um de nós carrega histórias que podem ser úteis para os outros.

Muitas das pessoas que compõem as bibliotecas humanas são homens e mulheres com quem, em nossas vidas normais, jamais entraríamos em contato. Como podem ser ex-presidiários, viciados ou jovens com deficiência.

Meia hora para mergulhar em outros mundos alheios

Há histórias de vida que são escritas com uma caligrafia requintada. Tudo é perfeito, vidas de sonho que dificilmente foram tocadas pela adversidade. No entanto, há aquelas pessoas que escreveram o seu dia a dia com linhas um pouco mais tortas, com caligrafia apressada, mas narrando capítulos que todos gostaríamos de ouvir.

No entanto, nas bibliotecas humanas ninguém paga nada; basta escolher uma pessoa e ouvi-la por meia hora. Depois disso, o narrador desabafa e o ouvinte sai incrivelmente enriquecido. Essas dinâmicas não apenas despertam nossa empatia, permitindo banir certos preconceitos.

Conversar com um livro vivo é útil é para estimular e fomentar um tipo de comunicação que todos devemos ter no dia a dia. Aquela em que poder ouvir alguém que é diferente, que sofre, que está em desvantagem, que julgamos com os olhos sem conhecer… Esses diálogos profundos e sinceros devem fazer parte do nosso cotidiano.

bibliotecas humanas
O objetivo das bibliotecas humanas é fazer com que as pessoas parem de julgar umas às outras.

Onde encontrar bibliotecas humanas

O projeto The Human Library, originário da Dinamarca, já está em mais de 80 países ao redor do mundo. Para saber como funciona e entrar em contato podemos visitar o site original.

O objetivo é que as pessoas, através de “leituras” rápidas de 15 minutos, deixem seus leitores saberem quem são, como pensam e como são suas vidas. Nesses momentos, podem vir à tona ideias tabus, assuntos que não costumam ser falados e que, de alguma forma, acabam nos tirando da nossa zona de conforto.

Os benefícios que essa experiência inovadora nos traz não tem preço. Enquanto os livros de papel podem mudar nossas mentes, os livros de carne e osso nos aproximam ainda mais de nossa própria humanidade. Aquela em que nossos preconceitos devem cair de uma vez por todas.


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  • Proyecto Human Library: https://humanlibrary.org/
  • “Inside The Event Where People Are Open Books” HuffPost UK. 9 May 2017. Retrieved 2018-07-09.
  • Rice-Oxley, Mark (8 April 2012). “My day as Depression, a book at the Human Library”. The Guardian. Retrieved 2018-07-09.

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