Como superar uma imagem corporal distorcida

Uma imagem corporal distorcida não é em si um problema. Pelo menos não até que se torna um terreno fértil para preocupação, insegurança e medo...
Como superar uma imagem corporal distorcida
Andres Camilo Espinosa Poveda

Escrito e verificado por o psicólogo Andres Camilo Espinosa Poveda.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O corpo é o veículo no qual viajamos pela vida; é natural que nos preocupemos com nossa aparência. O problema toma forma quando nossa imagem corporal é distorcida, gerando um desconforto que ameaça se tornar nossa sombra.

Assim, uma imagem mal adaptada do nosso corpo pode se tornar um verdadeiro fardo. Além de fazer com que comecemos a gastar muita energia para mudar essa imagem, também pode se tornar um terreno fértil para a insegurança e, finalmente, o medo.

A maneira como nos vemos

Vivemos interpretando a realidade que nos cerca. Estamos constantemente criando e atualizando teorias sobre o funcionamento do mundo, nas quais nos incluímos. Uma de nossas principais tarefas é atualizar com frequência ideias sobre como somos, nossas habilidades, sonhos, ideias, forças, fraquezas, etc. E também idéias sobre nossa imagem corporal.

A imagem que manuseamos do nosso corpo está enraizada em experiências muito precoces, opiniões de pessoas próximas a nós, os padrões de beleza a que estamos expostos e outras informações que podemos obter através dos nossos sentidos. Todas essas informações são consolidadas para formar uma imagem corporal, e com ela enfrentamos diversas situações do dia a dia.

Mulher triste olhando no espelho
A imagem corporal é formada pelo componente perceptivo, cognitivo, afetivo e comportamental.

Distorção na imagem corporal

O problema surge quando a imagem que formamos em nossa mente está muito longe da realidade. Isso pode acontecer devido a dois fatores, que combinados acabam causando muitos danos.

Em primeiro lugar, a interpretação que fazemos do nosso corpo não é totalmente precisa. Acontece com muitas coisas; nosso cérebro integra informações sobre a realidade, mas nem sempre os combina perfeitamente com os fatos.

Nossos sentidos fornecem dados sobre nosso corpo: o que vemos no espelho e propriocepção. No entanto, nesta interpretação uma informação é privilegiada em detrimento de outra, criando uma imagem desproporcional.

O segundo fator somado ao anterior é a necessidade de uma avaliação positiva ou negativa. Em geral, tendemos a interpretar as informações em uma escala de bom ou ruim, evitando pontos neutros.

Assim, a imagem corporal que construímos terá uma avaliação positiva ou negativa predominantemente não relativa, apesar de a informação com a qual é construída ser tudo menos absoluta.

Como agravante, o cérebro tende a dar mais valor às experiências negativas do que às positivas, então uma única experiência pode nos fazer valorizar nosso corpo como “ruim”.

As consequências de uma imagem distorcida

Esses dois fatores podem fazer com que a imagem corporal que formamos não só não corresponda à realidade, mas também seja amplamente distorcida e afete nossa saúde mental. Entre os sintomas que podem indicar que há uma imagem corporal distorcida, podemos encontrar:

  • Sensação contínua e intensa de que os outros estão olhando para as partes do corpo que menos gostam.
  • O que significa que muitos recursos são investidos, inclusive mentais, na tentativa de esconder supostos defeitos.
  • Além disso, a pessoa, em sua atividade contínua de ajuste e comparação com os outros, tende a atender às críticas e ignorar o elogio.

Como lidar com uma imagem corporal distorcida

De tudo o que vimos, tratar a imagem corporal distorcida requer uma abordagem integral.

Conhecimento

A parte cognitiva da atitude talvez seja a mais fácil de abordar e aquela pela qual devemos começar. Entender que a percepção que temos do nosso corpo não é cem por cento real é fundamental.

Trata-se de aceitar que a imagem que formamos pode estar errada, mesmo que nosso cérebro e nossos sentidos nos digam o contrário. Aceitar o erro e a relatividade em nossas ideias pode trazer muito alívio e tirar os fardos de nossos ombros.

Da esfera cognitiva também podemos desmontar juízos de valor prejudiciais em termos de bom ou ruim, entendendo que não existe um padrão único de beleza e que o correto é aceitar o corpo que temos.

Por meio da reflexão e da meditação, podemos descobrir as ideias ocultas que levam a distorções em nossa imagem corporal e desconstruí-las pouco a pouco. Não podemos impedir que o cérebro processe informações da maneira como processa, mas podemos estar cientes disso e construir esquemas cognitivos mais saudáveis.

Emoção

O domínio emocional é mais difícil, pois muitas vezes escapa ao nosso controle consciente. Não controlamos diretamente a maneira como nos sentimos, mas podemos gerenciar nossas emoções. Reconheça a ansiedade e o desconforto que nossa aparência nos causa e tente construir uma nova imagem com base em experiências positivas.

Não podemos controlar o que os outros pensam quando nos veem, mas podemos nos aceitar e pensar sobre nosso corpo em termos positivos. A ideia é criar uma carga emocional positiva relacionada ao corpo, para o qual é importante focar em conceitos favoráveis e confiáveis, como a autoaceitação, e não na opinião dos outros.

Tenha em mente que seu corpo pode mudar, assim como as pessoas que você conhece, mas a aceitação que você dá a si mesmo pode ser constante, e é por isso que é uma base mais forte para suas emoções.

Mulher olhando no espelho
Aceitar nosso corpo em termos positivos nos ajuda a nos sentirmos melhor.

Conduta

Por fim, a parte comportamental, que depende muito das duas anteriores para funcionar. Se os esquemas cognitivos não forem alterados e uma base emocional saudável não for construída, os esforços do comportamento podem jogar contra nós, aumentando a ansiedade. Pelo contrário, se colocarmos nossos pensamentos e sentimentos em ordem, a esfera comportamental pode ser produtiva e até divertida.

Uma vez que nos aceitamos, podemos tomar medidas para cuidar nosso corpo. Fazer exercícios, cuidar da alimentação, escolher roupas que gostamos, tudo isso pode aumentar a autoestima e melhorar a imagem corporal, desde que não seja motivado pela ansiedade.

Quando abandonamos os padrões de beleza absurdos da sociedade e o desejo de agradar os outros, atividades como exercícios são automotivadas e podem nos ajudar a nos sentir cada vez melhor, além de melhorar nossa saúde geral.

A distorção da imagem corporal pode causar danos consideráveis, chegando a um ponto em que nossos recursos individuais não são mais suficientes para implementar estratégias de enfrentamento adequadas. Nestes casos será necessário procurar a ajuda de um profissional.


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