O que são comportamentos disruptivos e como eles se manifestam?

O comportamento disruptivo não aparece apenas na infância e na adolescência. Adultos com esse padrão apresentam traços antissociais, desafio à autoridade e comportamentos de risco. Explicamos mais abaixo.
O que são comportamentos disruptivos e como eles se manifestam?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 03 dezembro, 2024

Quando Pablo estava no ensino médio, ele era o mais problemático da turma. Brigava com os colegas, quebrava móveis da escola, ignorava instruções e tinha uma atitude muito desafiadora. Agora, aos 20 anos, ele ameaçou bater no chefe porque acabou de demiti-lo do trabalho. Este é um dos muitos exemplos de perfis comportamentais que podemos ver frequentemente em muitas áreas e que são conhecidos como comportamentos disruptivos.

São ações que interferem no funcionamento normal de um ambiente social. O impacto costuma ser imenso, tanto a nível acadêmico, familiar, profissional e pessoal do próprio indivíduo. A detecção precoce, combinada com intervenção multidisciplinar, pode trazer melhorias notáveis nesses casos. Saiba mais a seguir.

Comportamentos disruptivos: definição e características

Poucas realidades são tão importantes para o ser humano como a correta regulação das emoções e saber ajustar o comportamento em cada situação. Nesta conjunção, há um equilíbrio perfeito entre o cognitivo, o social e o emocional. Por isso, diz-se que os comportamentos disruptivos  são um dos maiores problemas para a convivência e o bem-estar.

Na verdade, um campo onde essa dinâmica é estudada é a educação. Nesse sentido, um trabalho realizado na Universidade do País Basco revela que há muito para compreender sobre essa dimensão comportamental. Precisamos desenvolver mais programas de intervenção para responder a essas crianças que, amanhã, deverão saber como agir em múltiplos ambientes sociais. Vamos cavar um pouco mais fundo.

Como se manifesta na população infantil e adolescente

Crianças e adolescentes com comportamentos disruptivos apresentam padrões consistentes de comportamento teimoso, irritável e não cooperativo. Essas características são visíveis no núcleo familiar, mas na escola o problema se agrava. A convivência com pares e figuras de autoridade torna-se disfuncional, manifestando-se quase sempre através das seguintes dimensões.

Sintomas emocionais

  • Desejo de vingança: quando são corrigidas, repreendidas ou praticam alguma ação que consideram injusta, essas crianças e adolescentes não hesitam em se deixar levar por essa emoção reativa para direcionar sua raiva para os outros.
  • Falta de responsabilidade: demonstram grande dificuldade em assumir a responsabilidade pelos seus atos. Na verdade, elas não hesitam em culpar os outros pelas suas más ações ou em justificar o seu comportamento de uma forma muito arbitrária e irracional.
  • Problemas para regular as emoções: há uma clara tendência à impulsividade. São, em geral, meninos e meninas com pouquíssima resistência à frustração e que explodem em ataques de raiva, com mudanças bruscas de humor. Além disso, mostram pouca capacidade de autorregulação.
  • Ansiedade e estresse: esse grupo populacional costuma apresentar traços de frustração, ansiedade, irritabilidade e, conforme consta no Italian Journal of Pediatrics, também expressam uma tendência marcante à depressão. Sentem que vivem num mundo injusto, que os oprime e castiga quase a cada momento.

Sintomas cognitivos

  • Vieses cognitivos: tendem a interpretar mal as ações ou intenções dos outros, assumindo hostilidade ou ameaças onde não existem.
  • Problemas de memória e atenção: o comportamento disruptivo se manifesta com problemas de concentração sustentada, lembrança de dados ou consolidação de informações.
  • Baixa capacidade de organização e planeamento: nesse perfil, costumamos observar uma clara falta de competências organizacionais. Isso torna difícil para eles gerenciar tarefas diárias e assumir responsabilidades.
  • Abordagem mental inflexível: têm sérios problemas na aplicação do raciocínio reflexivo, paciente e indutivo. Essa inflexibilidade os impede de tomar boas decisões e resolver problemas de forma eficaz.

Características comportamentais

  • Comportamento egoísta: tendem a se concentrar quase exclusivamente nas próprias necessidades ou desejos, sem levar em conta os dos outros.
  • Problemas de convivência: são crianças e adolescentes com sérios problemas de integração na sala de aula ou no grupo de pares, devido à sua atitude desafiadora e impulsiva.
  • Desafiam a autoridade: recusam-se a receber ordens ou instruções, questionam e discutem com os adultos e, além disso, demonstram atitudes desafiadoras e provocativas.
  • Agressão: esse grupo infanto-juvenil geralmente está por trás do bullying, intimida, usa linguagem violenta e pode levar a comportamentos agressivos com pessoas, animais ou móveis.

Como se manifesta na população adulta

Nos adultos, o comportamento disruptivo pode se manifestar de formas que afetam as relações pessoais e profissionais. A intervenção social e psicológica na população infanto-juvenil não é simples, por isso é comum chegar aos 18, 20 ou 30 anos com o mesmo padrão de comportamento. O problema é mais do que evidente. Vamos ver suas características:

  • Possíveis problemas de dependência.
  • Dificuldade em manter um emprego.
  • Tendência à ansiedade ou depressão.
  • Tendência a se envolver em brigas.
  • Problemas para manter relacionamentos.
  • Desentendimentos frequentes com outras pessoas.
  • Problemas mentais latentes podem piorar.
  • É possível envolver-se em atividades perigosas ou imprudentes.

Como sabemos se estamos enfrentando um transtorno disruptivo?

É importante ressaltar que existem comportamentos disruptivos que nem sempre são sinônimos de transtorno psicológico. Muitas vezes podemos ter na sala de aula crianças com problemas específicos de regulação do seu comportamento devido à má gestão emocional, o que não significa que apresentem algum problema clínico.

Nesses casos, é aconselhável fazer um bom diagnóstico, além de analisar seu ambiente, histórico e comportamento em diferentes cenários. Vejamos os critérios associados a transtornos disruptivos, de controle de impulsos e comportamentais de acordo com o DSM-5:

Característica central

Dificuldade contínua em resistir a impulsos ou tentações de realizar atos que possam ser prejudiciais a si mesmo e/ou aos outros. Essa peculiaridade aparece precocemente em crianças entre 4 e 5 anos. Porém, é na adolescência que atinge o pico máximo de intensidade. Então, diante dos problemas comportamentais, cria problemas de saúde mental.

Da mesma forma, o que sempre vemos é uma população infanto-juvenil que causa sérios problemas na sala de aula. A agressividade, os problemas de confiança e o tratamento violento de colegas e professores são esse elemento nuclear que sempre se repete.

Persistência

Não são ações ou reações específicas ou causadas por estados ocasionais de estresse ou ansiedade. Estamos diante de um padrão de comportamento persistente, em que a criança ou adolescente apresenta péssima adaptação social. A reatividade emocional, a impulsividade e a agressividade são características estáveis ao longo do tempo, que não costumam responder a simples correções, advertências ou imposição de limites.

Comportamentos habituais

Alguns comportamentos específicos costumam apresentar o perfil de um transtorno disruptivo e geralmente ocorrem em qualquer cenário e contexto. São os seguintes:

  • Falta de empatia.
  • Ausência de culpa.
  • Agressão a pessoas e animais.
  • Destruição de objetos e móveis.
  • Comportamentos repetitivos que violam as normas sociais.
  • A duração desse comportamento deve ser de doze meses ou mais.

Tipos de transtornos de comportamento disruptivo

Os transtornos disruptivos, de controle de impulsos e de conduta traçam um padrão perigoso para a segurança dos outros e para os padrões de qualquer sociedade. Da mesma forma, como apontam em publicação da Brain Sciences, constituem não um, mas vários transtornos com características próprias. Confira:

  • Piromania: rara, mas ocorre através de impulsos recorrentes ou fortes desejos de iniciar deliberadamente um incêndio.
  • Transtorno de conduta: padrão persistente de comportamento antissocial, agressivo ou desafiador que viola as normas sociais e os direitos dos outros.
  • Transtorno desafiador de oposição (TDO): atitude desafiadora e hostil em relação a figuras de autoridade, como pais, professores, supervisores, etc. Pode levar a respostas violentas ou muito conflituosas.
  • Transtorno explosivo intermitente : episódios repentinos de agressão extrema ou reações exageradas que não se alinham com a situação social em que se encontram. São características desreguladas que já podemos observar em crianças de 3 e 4 anos.
  • Cleptomania: comportamento impulsivo e irresistível de apropriação de objetos que, em muitos casos, nem sequer são úteis ou necessários para uso pessoal. O que muitas vezes se faz com eles é escondê-los, doá-los ou devolvê-los depois de alguns dias.
  • Transtorno de personalidade antissocial: é muito comum na população. The Egyptian Journal of Neurology, Psychiatry and Neurosurgery oferece esta informação e a descreve como uma clara falta de empatia, falta de vergonha, impulsividade, desrespeito pelas normas sociais e tendência à manipulação.

Causas associadas a esses comportamentos disfuncionais

Quando encontramos uma criança ou adulto que apresenta comportamentos disruptivos, é importante compreender o seu ambiente. Fatores como contexto, genética e biologia medeiam o desenvolvimento desse padrão comportamental. São realidades psicológicas muito complexas onde múltiplas dimensões se integram ao mesmo tempo. Vamos analisá-los a seguir.

Fatores biológicos

Existem trabalhos bastante completos como The Wiley Handbook of Disruptive and Impulse-Control Disorders (2017), que nos permitem ter uma visão mais abrangente dessa realidade clínica. Os comportamentos disruptivos têm frequentemente uma base biológica que não pode ser ignorada. Estes seriam os fatores que explicam isso:

  • Desequilíbrios químicos: níveis anormais de neurotransmissores como a dopamina e a serotonina podem afetar o comportamento e a regulação emocional.
  • Genética: esses tipos de ações geralmente têm origem genética. Se houver histórico familiar de distúrbios comportamentais ou de saúde mental, o risco é maior.
  • Neurobiologia: certas alterações em determinadas áreas do cérebro, como o sistema límbico e o córtex pré-frontal, relacionadas à regulação das emoções e ao controle dos impulsos, podem contribuir para esses comportamentos.

Fatores sociais ou contextuais

O ambiente em que se desenvolvem as pessoas que enfrentam essa realidade está bastante ligado à origem do diagnóstico. Veja o que considerar:

  • Contexto psicossocial: abandono, abuso psicológico ou sexual, pobreza e sentimento de negligência ou desproteção podem levar a esse tipo de comportamento.
  • Interação familiar: você certamente já deduziu essa variável. A falta de disciplina consistente, o abuso ou a exposição à violência em casa podem aumentar o risco de comportamentos disruptivos.
  • Falta de supervisão: a ausência de supervisão parental adequada pode incentivar a criança ou adolescente a participar de atividades de risco ou problemáticas. Aos poucos acaba normalizando-os e integrando-os.

Gatilhos psicológicos

Existem elementos do campo da psicologia, por exemplo, ligados ao manejo emocional, também entendido como causador do transtorno em questão. Estes são:

  • Distúrbios do desenvolvimento: quando realizamos uma avaliação psicológica dessas crianças ou adultos, geralmente é detectada a presença de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Ambas as realidades podem coexistir.
  • Problemas de regulação emocional: o substrato de todo comportamento disruptivo decorre sempre da dificuldade em gerir emoções intensas, como raiva ou frustração, que tendem a levar a reações impulsivas ou agressivas.
  • Baixa autoestima: às vezes, sentimentos de insegurança ou baixa autoestima podem desencadear comportamentos desafiadores como mecanismo de defesa. Contudo, tenha em mente que essa variável não explica por si só o padrão disruptivo. Deve ser acompanhada de vários dos elementos descritos acima.

Como os padrões disruptivos são tratados?

Os professores sabem que lidar com comportamentos disruptivos é muito cansativo. É o que destaca um trabalho publicado pela Universidade de Oslo. São necessárias abordagens muito estratégicas e empáticas que abordem a realidade de cada pessoa. Da mesma forma, é decisivo que esse trabalho comece desde cedo. Vamos ver.

Intervenções sócio-familiares

  • Analisar o contexto familiar da criança.
  • Criar um ambiente mais estruturado.
  • Fornecer uma boa psicoeducação sobre esse problema e seus efeitos.
  • Incentivar a comunicação aberta e estratégias disciplinares consistentes em casa.
  • Trabalhar em questões familiares que possam contribuir para um comportamento disruptivo.

Terapia psicológica

  • Fazer uma avaliação psicológica adequada.
  • Incluir ferramentas para controle de impulso.
  • Guiar no aprendizado de habilidades de empatia e regulação emocional.
  • Ajudar a criança a identificar pensamentos que levam a comportamentos disruptivos.
  • Ensinar técnicas de relaxamento, habilidades de comunicação e resolução de problemas.

Intervenções em sala de aula

  • Treinamento específico em comportamentos disruptivos.
  • Fornecimento de recursos para professores.
  • Recompensa de comportamentos positivos para encorajar sua repetição.
  • Inclusão de treinamento em sala de aula sobre comunicação emocional e controle de impulsos.
  • Criação de um sistema de pontos que possa ser trocado por prêmios ao atingir determinadas metas.
  • Implementação de um Plano de Educação Individualizado (IEP) para alunos com necessidades especiais.

Um problema silencioso com grande impacto

O comportamento disruptivo e inadequado, mais do que uma barreira à aprendizagem, é um problema de convivência. Não abordar o problema na escola e numa idade precoce resulta em adultos incapazes de se gerirem na sociedade. A violência, o desafio à autoridade e a infelicidade serão os pilares que guiarão as suas vidas. É preciso estar mais sensível a essa realidade.

Gerenciar tais comportamentos requer uma abordagem abrangente que atenda às necessidades individuais e às circunstâncias ambientais. Nesse objetivo, é necessário conjugar esforços e políticas por parte de todos os agentes sociais. A família, a escola e as administrações públicas devem olhar para essa dinâmica que, de alguma forma, afeta a todos nós.


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