Por que tenho problemas para seguir regras?

Se desde criança pediam para você ir pela direita e você ia pela esquerda, se é difícil para você seguir regras e você se sente mal assumindo as condições sociais, lhe explicaremos a que se deve tais comportamentos.
Por que tenho problemas para seguir regras?
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 23 junho, 2023

É verdade que quase ninguém gosta das regras e que, em momentos muito específicos, é possível reagir com algumas gotas de desafio e rebeldia ousada. No entanto, há quem tenha sérios problemas em seguir as regras desde a infância. São homens e mulheres rotulados como “difíceis”, por causa de seu comportamento e atitude.

Por trás desse perfil haveria desde uma personalidade criativa que precisa quebrar as regras, até alguma condição psicológica. Assim, aqueles que apresentam transtorno de personalidade antissocial (TPA) têm como principal característica transgredir todos os protocolos e diretrizes sociais. Esta característica apresenta muitas explicações interessantes.

Há pessoas com um forte sentido do direito. Acham que estão acima dos outros e, por isso, têm dificuldade em se manter em ambientes altamente estruturados onde prevalecem regras fixas.

Problemas em seguir as regras: a que se deve?

Você acha difícil se adaptar aos ambientes de trabalho? Você foi um daqueles que sempre deixou seus pais de cabeça para baixo por não obedecê-los? Você se sente desconfortável em contextos onde os outros esperam que você atenda a certos padrões? Os problemas em seguir as regras são desencadeados pela necessidade quase persistente de desafiar a autoridade.

Quando essa pessoa é instada a cumprir regras ou convenções, o que se percebe é incômodo, desconforto e, às vezes, raiva. É verdade que a maioria de nós não gosta de sentir que está sujeito a certas condições, nem a regras trabalhistas, sociais ou de qualquer outro tipo. É como ver banidas a liberdade, o potencial e a capacidade de ação.

No entanto, a diferença entre os que têm dificuldade em aceitar as regras e os que as cumprem é o princípio da civilidade. Todos sabemos que para viver em sociedade é preciso obedecer a normas e regras, mas há quem as evite, transgrida ou levante a voz para protestar contra aquelas invisíveis cercas de arame farpado. O que está por trás dessas personalidades? Vamos analisá-lo abaixo.

1. Um maior “sentido do direito”

A Psicologia Social e a Ciência da Personalidade indicam em um artigo de pesquisa que aqueles que resistem ao cumprimento das regras muitas vezes apresentam o “sentido do direito”. São perfis com claras dificuldades em obedecer instruções, seguir protocolos e ajustar-se às dinâmicas mais comuns que se orquestram em qualquer contexto social. Personalidades com essa característica são descritas a seguir:

  • Dificuldades de integração.
  • Não aceitam receber um “não” como resposta.
  • Têm dificuldade em resistir à frustração.
  • Acham que têm mais preferências e direitos do que os outros.
  • Assumem que possuem maiores vantagens e competências do que os demais.
  • Esse comportamento define, em muitos casos, a preponderância do eu sobre o coletivo.
  • Aqueles que se sentem mais especiais e/ou superiores aos demais têm dificuldade em seguir as regras.

2. Todas as regras são injustas (inflexibilidade cognitiva)

Ter dificuldade em seguir as regras tem muito a ver com a forma como a realidade é processada. Existem pessoas com uma abordagem mental inflexível e reacionária. Isso faz com que ajam com desconforto a qualquer indicação, mandato ou simples sugestão, repreendendo que são orientações injustas, sem sentido e até prejudiciais.

Frequentemente, essas figuras afirmam ser livres para agir como quiserem. São perfis com dificuldades de integração e de estabelecer uma separação clara entre o que acreditam ser melhor e o que lhes é imposto de fora. Não entendem que, como seres sociais, precisamos de diretrizes mínimas para convivermos em equilíbrio e respeito.

Aqueles com transtorno de personalidade antissocial têm mais problemas para se conformar às normas.

3. Falta de disciplina na infância

Muitas pessoas que mostram problemas em cumprir as regras tiveram uma educação na completa ausência de regras e disciplina. Isso faz com que, ao atingir a adolescência e a idade adulta, todas as configurações sociais sejam processadas como uma ameaça. Também manifestam sérios problemas de adaptação e levam a uma vida psicossocial deficiente.

De acordo com a revista Pediatrics & Child Health, a disciplina eficaz na infância fornece uma base para o desenvolvimento de uma boa autodisciplina e adaptação social. Crescer sem limites dá ao mundo pessoas frustradas que não sabem o que se espera delas, muito menos como se integrar.

4. Transtorno opositivo desafiador em adultos (TOD)

O transtorno opositivo desafiador em adultos é caracterizado pelo constante desafio à autoridade. São perfis incapazes de se adaptar a qualquer cenário estruturado com regras. Isso faz com que não mantenham seus empregos e se tornem autênticos párias sociais.

Investigações como as publicadas no Journal of Psychiatric Research destacam que essa condição já começa a se manifestar por volta dos 4 ou 6 anos de idade e, geralmente, apresenta as seguintes características:

  • Impulsividade.
  • Desafio à autoridade.
  • Má regulação emocional.
  • Baixa responsabilidade pessoal.
  • Pouca resistência à frustração.
  • Incapacidade de seguir regras.
  • Irritabilidade e alterações de humor.
  • Comportamentos de risco e dependência.
  • Se definem como almas livres; homens e mulheres rebeldes.
  • Têm TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).

5. Rebeldia e criatividade

A personalidade altamente criativa e com traços rebeldes muitas vezes tem claras dificuldades em assumir normas. Ela os processa como algo que os coage e que veta seu potencial. São perfis com sérios problemas de adaptação a trabalhos altamente estruturados e rotineiros. Elas ficam desesperadas, ficam entediadas, tornam-se reacionárias e manifestantes.

Nesse caso, não há traços patológicos, o que se encontra é um estilo de personalidade orientado para a abertura, a liberdade, o desejo de experimentar e ir além do que está estabelecido para se desenvolver como ser humano. São idealistas, figuras que, mais de uma vez, acabam frustradas. Afinal, o funcionamento em sociedade implica sempre o cumprimento de algumas regras.

6. Personalidade antissocial e problemas para seguir as regras

Quando se fala em transtorno de personalidade antissocial, logo se visualiza quem arrasta mais de um processo criminal ou quem esteve preso. A verdade é que esta condição se enquadra num espectro e, como explica um estudo da Universidade de Birmingham, apenas metade destas pessoas são condenadas.

É uma condição mental que ocorre com comportamentos bastante impulsivos, alta irritabilidade e baixíssima empatia. Nesta ordem, o traço recorrente na personalidade antissocial é a incapacidade de obedecer às regras. Elas têm dificuldade em viver em sociedade.

A terapia comportamental dialética pode ser eficaz para ajudar as pessoas a melhorar seu comportamento e compreender o valor de seguir as regras.

Como lidar com os problemas para assumir as normas?

As normas são importantes. Toda sociedade precisa regular o comportamento individual para que cada pessoa entenda seu papel e respeite a convivência geral. As regras evitam o caos, previnem a anarquia e até comportamentos violentos. Isso não impede, claro, que muitos de nós consideremos algumas normas injustas.

No entanto, graças à flexibilidade cognitiva, valores éticos, civilidade e empatia, entendemos a importância de cumprir os marcos legais e comportamentais que regem quase todos os cenários sociais. Agora, o que acontece com aqueles que mostram problemas em obedecer às regras? Em geral, aquele que frequentemente desafia as regras é muito resistente a mudanças. Além do mais, ele acha que não há nada de errado com seu comportamento.

Recomendações se você tiver problemas para seguir regras

O que fazer, portanto, neste tipo de situação? Como orientar alguém que tem dificuldade em cumprir diretrizes, normas e regras sociais? Tome nota das seguintes recomendações:

  • Aumentar a empatia.
  • Treinar habilidades sociais.
  • Capacitar em inteligência emocional.
  • Apresentá-lo a dinâmicas de trabalho em grupo.
  • Intervir para promover a flexibilidade cognitiva.
  • Conversar  sobre a compreensão do valor dos padrões e sua importância na sociedade.
  • A terapia comportamental dialética é uma abordagem eficaz para lidar com comportamentos disfuncionais.
  • Abordar o efeito gerado pela quebra das regras: punições, solidão, desentendimentos, conflitos, falta de adaptação.

Para concluir, as normas são decisivas na vida cotidiana, porque permitem uma melhor convivência, favorecem a coesão social e medeiam o autocontrole pessoal. Se não formos treinados nessas habilidades desde a infância, chegaremos à idade adulta com grandes dificuldades para nos adaptar e ter uma vida psicossocial plena.


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