O contracondicionamento no tratamento de vícios

Descrevemos em detalhes a técnica do contracondicionamento e mostramos as formas mais comuns de aplicá-la na terapia.
O contracondicionamento no tratamento de vícios
Alicia Escaño Hidalgo

Escrito e verificado por a psicóloga Alicia Escaño Hidalgo.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

O contracondicionamento no tratamento de vícios é uma das técnicas fundamentais para alcançar o difícil – mas não impossível – objetivo de abandonar um hábito destrutivo.

Dizem que devemos cortar o mal pela raiz e este é, ainda que isso possa parecer algo simples, basicamente o objetivo da técnica de contracondicinoamento. Ela é feita para eliminar os estímulos que podem desencadear o comportamento de vício. No artigo de hoje, vamos nos concentrar mais na questão dos vícios, mas o contracondicionamento pode ser realizado no contexto de qualquer hábito destrutivo.

Essa técnica se encaixa no contexto das técnicas de autocontrole da terapia cognitivo-comportamental. Supõe uma ação concreta com o objetivo de eliminar, substituir ou modificar estímulos que podem nos levar a dar a resposta que queremos evitar.

Como dissemos mais acima, a técnica em si é bastante simples: temos que fazer mudanças nos estímulos anteriores à resposta para evitar emitir o comportamento.

No entanto, o fato de parecer simples não implica que seja realmente tão fácil de alcançar o resultado final. Para isso, tanto o terapeuta quanto o paciente devem ser capazes de aplicar a técnica de maneira adequada, com empatia de um lado e comprometimento do outro. Dessa forma, os resultados estarão praticamente garantidos.

Por um lado, o terapeuta deve ser empático com a pessoa que está na frente dele, mas isso sem perder o contato com a realidade. Nem todos os estímulos que queremos suprimir ou modificar realmente podem passar por esse processo, e nesses casos teremos que encontrar alternativas.

Por outro lado, o paciente deve estar muito motivado e muito convencido de que quer mudar. Se a pessoa está, segundo o Modelo de Prochaska e Di Clemente, em um estado pré-contemplativo ou contemplativo, será difícil que realize o contracondicionamento. O paciente deve ter tomado uma decisão e se comprometer a realizar as tarefas propostas pelo seu terapeuta.

Homem fazendo terapia

Como colocar a técnica em prática

Existem muitas formas de colocar o contracondicionamento em prática, desde eliminar diretamente o estímulo que antecede a resposta até fazer mudanças fisiológicas dentro do nosso organismo. Seja como for, o terapeuta terá que se assegurar de que o paciente é capaz de realizá-lo e de que o ato é factível na prática.

Esse último ponto depende muito de cada caso, dos recursos com os quais a pessoa conta, do apoio social, autocontrole, motivação, etc.

Nesse sentido, sabemos que é muito melhor trabalhar sobre as engrenagens mais iniciais ou primárias na cadeia do comportamento. Ou seja, se eu sofro de dependência emocional em relação a uma pessoa e sempre que eu consumo álcool eu a procuro, é melhora trabalhar primeiro sobre o comportamento de beber do que sobre o comportamento de evitar ligar para a pessoa.

Algumas formas por meio das quais podemos colocar o contracondicionamento em prática são:

  • Eliminar estímulos antecedentes. Essa opção é realizada sobretudo quando o comportamento de vício é muito grave e a pessoa carece de habilidades de autocontrole. Um exemplo poderia ser uma situação na qual o paciente está tentando parar de fumar e, sempre que toma café, precisa acompanhá-lo de um cigarro. Nesse caso, deveríamos aconselhar eliminar o café totalmente, já que assim seria mais fácil que o autocontrole do paciente funcionasse, evitando o cigarro associado a esse momento.
  • Diminuir estímulos antecedentes. Essa é uma forma de contracondicionamento indicada quando o paciente tem um certo autocontrole e, além disso, não se pode eliminar de maneira radical os estímulos antecedentes. Um exemplo seria um caso no qual o paciente sente que cada vez que sai na rua, aparece um impulso fortíssimo de comprar ou adquirir objetos. Nesse caso, é mais realista pedir ao paciente que deixe em casa os cartões de créditos e que saia com pouco dinheiro em espécie. Não seria realista pedir que cancele seu cartão de crédito ou que saia de casa sem dinheiro nenhum.
  • Atrasar o comportamento. Outro modo bastante eficaz de enfrentar um comportamento de vício é se comprometendo a atrasá-lo. Muitas vezes sentimos um forte impulso de ir ao mercado e comprar aquele chocolate que parece que está nos chamando. Nesse caso, devemos tomar a decisão de não ir, mas só pelos próximos 20 minutos. Nesse período, e isso é importante, devemos nos engajar em algum outro comportamento para nos distrairmos. Se esse compromisso for cumprido, há uma grande chance de que, passados os 20 minutos, o impulso já tenha perdido força e possamos controlá-lo mais facilmente.
  • Fazer mudanças a nível fisiológico. Por último, uma boa opção para não cair na teia do comportamento de vício é fazer mudanças no próprio organismo. Existe uma opção de contracondicionamento para casos graves de alcoolismo. Trata-se de um remédio, Dissulfiram ou Antabuse. O paciente alcoólatra toma o remédio e a ação que este tem sobre o organismo é a de suprimir a enzima que se encarrega de metabolizar o álcool.

Por tanto, o que vai acontecer é que o paciente vai ter uma reação realmente desagradável à substância, com vômitos, taquicardia, sudorese, etc.

Além desse caso extremo de contracondicionamento, outro exemplo de usar mudanças que acontecem no nível fisiológico poderia ser ir ao mercado logo após ter almoçado, sem fome, para evitar comprar produtos hipercalóricos.

Mulher pensativa

Conclusões sobre o papel do contracondicionamento no tratamento de vícios

O contracondicionamento é uma técnica muito eficaz para tratar vícios quando é aplicada de maneira apropriada. No entanto, é difícil que o abandono total da substância seja alcançado só com ela. Por isso, o contracondicionamento deve ser combinado com outras técnicas para maximizar o efeito final.

Algumas das técnicas com as quais ela pode ser compatibilizada geralmente fazem parte do grupo das terapias cognitivas. Estas são destinadas a mudar crenças errôneas que o paciente pode ter sobre o seu problema, ou então outras técnicas como as de relaxamento, técnicas para lidar com a síndrome de abstinência e até mesmo o mindfulness.


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  • Labrador, F.J (2008). Técnicas de modificación de conducta. Editorial Pirámide


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