Por que fazer um contrato em uma relação amorosa?

Por que fazer um contrato em uma relação amorosa?
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 27 julho, 2019

É muito romântico falar de amor e de relacionamentos por meio de frases e palavras doces e detalhes repletos de afeto. A espontaneidade é um dos aspectos mais bonitos de algumas relações, mas com o tempo essa característica tende a ocupar um terreno cada vez menor no mundo construído a dois. Por este motivo, alguns podem pensar na importância de fazer um contrato em uma relação amorosa.

Quando o casal já está há mais tempo junto, já tem uma rotina e um dia a dia comum do cotidiano, há muitas expectativas que se reajustam. Ainda que o amor siga vivo, todo dia surgem pequenas dificuldades que devem ser resolvidas ou trabalhadas. E se elas são jogadas para baixo do tapete, começam os problemas.

“Um casamento genial não acontece quando um par perfeito se une. Ocorre quando um par imperfeito aprende com as suas diferenças”.
-Dave Meurer-

A convivência fortalece o vínculo, mas ao mesmo tempo dá origem a situações que podem gerar desgaste. Definitivamente, os dois membros do casal possuem histórias diferentes, costumes diferentes e formas de agir diferentes. Juntar essas duas pessoas com todas as suas características únicas nem sempre é uma tarefa fácil.

Ao mesmo tempo, à medida que passam os dias, as semanas, os meses e os anos, o amor também vai sofrendo mudanças. Há momentos em que parece nem estar mais lá. Surgem as crises, e com elas a dúvida: vale a pena seguir em frente? Estar junto com alguém está sempre baseado em um contrário implícito dizendo que sim, vale a pena. Então, será que seria bom tornar esse contrato algo explícito para proteger o vínculo desses momentos de crise e do desgaste?

O contrato em uma relação amorosa

Todo casal precisa de acordos para conviver em paz. O mais comum é que eles aconteçam de forma espontânea e sem nenhuma regra em particular. À medida que vão surgindo diferentes situações, pactos parciais vão se formando e, na prática, cada um decide se vai cumpri-los ou não.

Casal em barco

A maioria dos acordos são feitos de forma implícita. Nem sempre, no entanto, esses acordos são justos e razoáveis. Muitas vezes uma das pessoas cede, mesmo sem convicção, a exigências ou a negligências da outra parte, simplesmente porque não quer um conflito ou considera a luta uma causa perdida. Isso não quer dizer que a pessoa esteja satisfeita ou cômoda com a situação.

A convivência sempre traz tensões consigo. Isso, no entanto, pode se tornar algo crítico quando um dos dois, ou ambos, resiste a cumprir seu papel. Não estamos falando apenas das pequenas tarefas ou necessidades cotidianas, mas também de aspectos mais profundos como a fidelidade, a atenção, a disponibilidade e a consideração pelo outro.

Em muitos momentos, diversos pactos são rompidos de forma implícita. Podem surgir brigas com argumentos de que eles nunca existiram, ou de que não tinham sido compreendidos corretamente. Por isso, o implícito pode não ser a melhor opção para fazer acordos.

Os acordos explícitos

Alguns casais vivem a partir da proposta de uma substituição das regras implícitas do jogo por outro modelo de regras que estejam expressas através de um contrato. Esses pactos vão muito mais além de concordar sobre quem vai passear com o cachorro cada dia, ou quem vai lavar a louça depois do jantar ou limpar o banheiro. Estamos falando de temas como o que é considerado infidelidade ou que tipo de atitude pode ser tomada quando alguém sente que está abandonado emocionalmente.

O jornal The New York Times publicou recentemente a história de um casal que construiu uma série de regras e normas, ou seja, um contrato que continha um guia completo para guiar o relacionamento. As propostas vão desde divisão do tempo e tarefas até temas relacionados com o dinheiro e normas para o caso de doenças, visitas em casa e conversas sobre temas difíceis. O casal que conta sua história diz que o resultado foi espetacular.

Bonecos de casal em miniatura

Vale a pena que cada casal elabore um contrato no qual esteja registrado seu próprio código de comportamento, como se fosse um regulamento, para garantir uma maior harmonia e um cuidado com o vínculo amoroso? É uma forma de matar toda a espontaneidade ou um meio realista para enfrentar o fato de que o amor também é construído a partir de decisões racionais e da vontade?

O não valorizado comum acordo

Quem sabe em uma sociedade como a norte-americana esse tipo de regulamento para casais seja uma opção completamente plausível. Em algumas culturas latinas, no entanto, é possível que um acordo desse tipo não seja facilmente aceito, mas também não podemos dizer que não poderíamos tentar alcançar esse tipo de pacificação.

Definitivamente a convivência, seja lá com quem for, é muito mais harmônica quando as regras do jogo são claras para todas as partes envolvidas, além, é claro, de serem cumpridas livremente. Isso evita conflitos desnecessários e aposta em uma forma civilizada de lidar com obrigações e deveres. Nesse sentido, pode ser que alguns pactos que forem aceitos e cumpridos ajudem o relacionamento a fluir e contribuam também para preservar a boa convivência.

Estátuas em forma de tesoura

Claro que quando falamos de um relacionamento amoroso estamos falando de muito mais que apenas um acordo para alcançar a organização. Há uma multiplicidade de sentimentos, emoções e expectativas que nunca são totalmente conscientes, mas que ao mesmo tempo fazem parte da relação e marcam nossas ações e pensamentos. O amor entre duas pessoas nunca poderá ser reduzido a um catálogo de regras. Em todos os vínculos humanos sempre haverá um espaço marcado por alguma incerteza que escapa do controle. E tudo bem. É aí que mora a paixão.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.