Crise existencial, muito além do sofrimento

Uma crise existencial também é uma oportunidade para nos conectarmos com o nosso ser mais profundo e fazer uma transformação para encontrar o nosso caminho.
Crise existencial, muito além do sofrimento
María Alejandra Castro Arbeláez

Escrito e verificado por a psicóloga María Alejandra Castro Arbeláez.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

Há momentos na vida em que nos sentimos sobrecarregados, momentos em que pode aparecer a tentação de nos fazer perguntas como: Por que estou aqui? Qual é o meu propósito? Estou fazendo a coisa certa? O que há depois da morte? Cada pessoa se perguntará sobre diferentes questões. No entanto, todos nós podemos passar por uma crise existencial em algum momento de nossas vidas.

Ela pode aparecer a qualquer momento e pode afetar tanto pessoas com recursos financeiros quanto aquelas sem os mesmos. Então, não parece estar relacionada às nossas condições materiais.

Geralmente acontece quando nosso senso de controle diminui. É como se tudo aquilo de que estávamos seguros se tornasse incerto. Toda crise pode trazer sofrimento, mas podemos ver a crise existencial além disso. Vamos nos aprofundar.

“Se não está em suas mãos mudar uma situação que te causa dor, sempre poderá escolher a atitude com que encara esse sofrimento”.
-Viktor Frankl-

Crise existencial: do que se trata?

Crise existencial: do que se trata?

Refere-se aos momentos em que questionamos a nossa existência. Além disso, geralmente acontece de maneira inesperada e afeta a visão que costumamos ter da vida. É quando começamos a nos fazer perguntas que podem abalar as bases de nossas convicções mais fortes.

As crises existenciais muitas vezes trazem consigo um mar de sentimentos e pensamentos. Ou seja, elas agem em nosso mundo cognitivo e emocional de maneira intensa. É por esta razão que muitas pessoas as veem como algo negativo: elas podem ficar sobrecarregadas com várias sensações e percepções desconhecidas.

Além disso, as crises existenciais podem estar relacionadas às crises de identidade. Quando duvidamos do que somos, podemos estender esta dúvida sem limites, questionando tudo e todos.

Como identificar uma crise existencial?

A principal característica a se ter em mente é a sensação de vazio que pode acompanhar a crise. Embora isso não seja exclusivo da crise existencial, geralmente é o caso. Vejamos, além disso, outras características que nos ajudam a identificar se estamos passando por um momento como este:

  • Falta de sentido. Quando não contamos com um norte e não encontramos um significado para a nossa vida, nem para o mundo.
  • Sentimento de incerteza. Há um sentimento de insegurança que gera dúvidas sobre a vida e a morte, o bem e o mal, etc.
  • Instabilidade emocional. Surgem várias emoções e pensamentos que nos tiram a tranquilidade.
  • Déficit na capacidade de tomar decisões. Como não sabemos o que fazer, quem somos, qual é o sentido da vida e para onde ir, é difícil assumir responsabilidades e fazer determinações.
  • Insatisfação.
  • Insônia.

No entanto, estas características podem variar dependendo da pessoa. Não podemos esquecer que cada ser humano é diferente. Além disso, é importante destacar que uma crise deste tipo pode levar a ou estar presente em transtornos mentais como a depressão. Mas atenção! Isto não significa que, se tivermos uma, estamos com depressão.

Colocar a crise existencial a nosso favor

Embora esta situação possa parecer agonizante, podemos usá-la em nosso benefício. Mas como? Vendo-a a partir de outra perspectiva. Dando valor ao nosso potencial e fazendo uso dele para nos sentirmos melhor.

Viktor Frankl, neurologista e psiquiatra austríaco, enfatizou esta maneira de encarar a crise existencial. Ele propôs que o homem tem a capacidade de situar-se acima da situação que atravessa, isto é, pode superar as adversidades; para isso, é necessário dar um sentido à essa situação específica e à existência.

Assim, Frankl criou a Logoterapia, um tipo de psicoterapia que propõe que o principal motor do ser humano é a busca de sentido. Além disso, ele vê o ser humano como único e irrepetível, então o processo de cada um será diferente.

Como identificar uma crise existencial?

A logoterapia de Viktor Frankl

Através deste tipo de terapia podemos descobrir qual é o nosso propósito e, assim, ver um significado para a vida. Trata-se de ir além do sofrimento; trata-se de ver a crise existencial como uma oportunidade para explorar e progredir.

A logoterapia é praticada há muitos anos. Um exemplo de seu valor atual é o artigo intitulado Análisis existencial y Logoterapia: Bases teóricas para la práctica clínica (Análise Existencial e Logoterapia: Bases Teóricas para a Prática Clínica) escrito por José Genger, que detalha os sistemas de diagnóstico e tratamento psicoterapêutico utilizados atualmente.

Além disso, podemos deixar de nos ver como pessoas que sofrem e se frustram com o mar de emoções que nos inundam e encarar como um momento para praticar nossa capacidade de resiliência. Ou seja, a capacidade de superar situações adversas.

Ao mudar nossa perspectiva, podemos ver conceitos, ideias, recursos… que ignoramos. Além disso, quando aceitamos que as crises são uma parte intrínseca do nosso viver, em muitos casos a angústia deixa seu lugar para a serenidade.

Sair de uma crise existencial sem dificuldades, no entanto, é uma tarefa quase impossível; assim, temos a oportunidade de explorá-la, reconhecê-la e buscar o que a motivou e aonde ela pode nos levar.

As crises existenciais são parte da vida. A maneira como lidamos com elas é assunto de cada um, mas se fizermos isso a partir de uma perspectiva positiva, na qual prevalece o aprendizado, estaremos optando por um caminho mais saudável. Portanto, o importante é ir além do sofrimento ou da dúvida, de forma a sairmos fortalecidos da crise.


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  • Gengler, J. (2009). Análisis existencial y logoterapia: bases teóricas para la práctica clínica. Psiquiatría y salud mental, 26(3-4), 200-2009.
  • Frankl, V. (2015). El hombre en busca de sentido. Herder Editorial.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.