Cura do sono: o que é e por que não é mais utilizada?
A cura do sono data de muito tempo, embora tenha se formalizado como tratamento somente no início do século XX, principalmente na Rússia. Essa terapia mostrou obter resultados muito encorajadores contra a esquizofrenia, a depressão, a ansiedade, vícios e outros transtornos.
Atualmente, a cura do sono não faz parte dos tratamentos convencionais. No entanto, ela não desapareceu completamente. Alguns pacientes continuam a usá-la e alguns psiquiatras ainda recorrem a ela em casos especiais.
A cura do sono pode ser muito eficaz no tratamento de vários transtornos mentais. No entanto, o Hospital Chelmsford, na Austrália, relatou a morte de 25 pacientes entre 1963 e 1979 devido a essa terapia, o que a levou a ser descartada como uma opção de tratamento na maior parte do mundo.
“ Uma boa risada e um longo sono são as duas melhores curas para qualquer coisa.”
-Provérbio irlandês-
O que é a cura do sono?
Um dos primeiros sinais de um transtorno mental é a dificuldade para dormir. Da mesma forma, uma das maneiras de recuperar boa parte da estabilidade mental é através de um sono profundo e reparador. Esse benefício do sono é conhecido desde as origens da psiquiatria e da psicologia e foi o que motivou o desenvolvimento da cura do sono.
Esta terapia consiste em induzir ao sono profundo um paciente que sofre de um transtorno mental. É considerada uma terapia psiquiátrica intensiva, pois a pessoa deve dormir de 5 a 9 dias continuamente.
A pessoa permanece adormecida por meio da administração de diferentes medicamentos que induzem o sono. O paciente só acorda por breves períodos para se alimentar e ir ao banheiro. Pelo que se sabe, o primeiro a usar essa técnica foi MacLeod, em 1900.
No entanto, Jakov Klasi foi quem a instituiu como tratamento no Hospital Psiquiátrico Universitário de Zurich, na Suíça. Ele a chamou de “cura do sono prolongado” ou “narcose prolongada”, embora hoje ela seja conhecida como cura do sono.
Benefícios
Depois que Klasi a popularizou, a cura do sono começou a ganhar prestígio, sendo usada em quase todo o mundo. Ela provou ser particularmente eficaz para estabilizar pacientes extremamente agitados. Os psiquiatras descobriram que a sedação e o sono prolongado ajudavam a estabilizar mentalmente os pacientes.
Algumas condições mentais causam níveis elevados de dopamina, adrenalina e noradrenalina. Assim, tanto o estado de sono propriamente dito quanto a administração de medicamentos de forma contínua ajudam a normalizar e estabilizar o cérebro.
Pessoas em um estado de alta excitação nervosa são muito vulneráveis a qualquer estímulo do seu ambiente. Quando estão dormindo, no entanto, esses fatores externos são suprimidos, assim como a consciência, de modo que a atividade cerebral diminui e tende a voltar ao normal.
Efeitos colaterais e riscos
Desde o início, os terapeutas relataram vários efeitos colaterais desse tratamento. O próprio Klasi relatou a morte de 3 dos 26 pacientes que ele tratou com esse método. Além disso, outros psiquiatras evidenciaram outros problemas, como aumento da temperatura corporal, retenção urinária, disfagia e distúrbios da marcha e da fala.
Os medicamentos administrados foram trocados várias vezes e tudo parecia funcionar melhor. No entanto, esse tratamento também requer cuidados contínuos de enfermagem e acompanhamento médico constante. Monitorar o paciente é algo extremamente exigente e requer muitos recursos. Por esse motivo, quando os medicamentos antipsicóticos foram inventados, a cura do sono gradualmente entrou em desuso.
O golpe de misericórdia, no entanto, veio após a publicação de um relatório do Hospital Privado de Chelmsford, na Austrália. O documento afirmava que a cura do sono havia sido aplicada em 1.115 pacientes durante 15 anos, e que durante esse período 25 deles morreram. No ano seguinte, essa terapia foi proibida na Austrália e na Nova Zelândia.
Apesar de tudo isso, a cura do sono ainda é utilizada para casos específicos em diferentes partes do mundo. Foi comprovado que muitas das mortes relatadas estavam associadas a problemas médicos não relacionados à terapia em si. Em qualquer caso, se essa terapia for utilizada, deve ser aplicada em um centro especializado e por profissionais qualificados.
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Stucchi-Portocarrero, S., & Cortez-Vergara, C. (2020). La cura de sueño en la historia. Revista de Neuro-Psiquiatría, 83(1), 40-44.