Dessensibilização sistemática ou exposição?

Embora às vezes sejam consideradas iguais e em outras ocasiões sejam diferenciadas de forma errônea, a dessensibilização sistemática e a exposição são técnicas muito valiosas no âmbito psicológico para tratar problemas relacionados à ansiedade. 
Dessensibilização sistemática ou exposição?

Última atualização: 06 maio, 2020

A dessensibilização sistemática e a exposição são técnicas bastante utilizadas na psicologia. Normalmente, são de grande utilidade para que uma pessoa consiga entrar em contato com um estímulo que assusta ou causa ansiedade, reduzindo a sua reação.

Por isso, podem ser técnicas muito úteis para tratar transtornos de ansiedade (funcionam especialmente bem em fobias), transtornos do humor e transtorno obsessivo-compulsivo.

São duas técnicas muito polivalentes, pois a ansiedade é uma emoção constante em qualquer transtorno mental. No entanto, as limitações que uma delas apresenta podem ser cobertas pela outra, como o problema do abandono ou a negação a se expor através de uma exposição com prevenção de resposta.

Assim, são técnicas importantes para eliminar o medo através do próprio medo.

Jovem tendo crise de ansiedade

O que é dessensibilização sistemática e o que é exposição?

A dessensibilização sistemática (DS) e a exposição têm como objetivo fazer com que a pessoa deixe de temer um estímulo como, por exemplo, falar em público, ter medo de cobras ou ter medo do futuro. Elas buscam que este estímulo deixe de ser perigoso para a pessoa.

A dessensibilização sistemática pretende alcançar uma associação entre estímulos que antes provocavam uma resposta de ansiedade e respostas por parte da pessoa que são incompatíveis com essa ansiedade. Por isso, busca conseguir um contracondicionamento, rompendo o vínculo com o estímulo.

A exposição, ou exposição com prevenção de resposta (EPR), busca impedir que a pessoa evite ou escape diante de estímulos de fobia ou de ansiedade, de modo que as condutas que funcionam como condutas de segurança desapareçam. Assim, elas deixam de sustentar a ansiedade apresentada, que acaba desaparecendo.

Como a DS e a EPR se diferenciam?

É bastante comum pensar que a grande diferença entre a dessensibilização sistemática e a exposição com prevenção de resposta seja o modo como ambas são aplicadas. No entanto, existem outras diferenças.

Na DS, como dissemos anteriormente, há uma busca por um processo de contracondicionamento, incluindo técnicas de relaxamento. Se a pessoa mostra ansiedade diante de um estímulo, há uma busca para que a pessoa pare e relaxe, para depois apresentar outra vez o estímulo. No entanto, os processos inerentes às técnicas não são iguais? A DS é uma exposição com técnicas de relaxamento?

O que se sabe é que a diferença entre as duas técnicas está no processo de aprendizagem. No caso da DS, como já mencionamos anteriormente, acontece um processo de contracondicionamento; no caso da EPR, um processo de extinção.

O modelo de Van Egeren tem a solução

Van Egeren (1970) apresenta quatro fenômenos em função de duas dimensões: a inibição recíproca e o curto ou longo prazo.

Nas quatro modalidades há a diminuição dos níveis de ansiedade diante do estímulo ansiogênico, mas os processos de aprendizagem inerentes às quatro modalidades são diferentes. De fato, em duas delas existem processos de aprendizagem (longo prazo) enquanto nas outras duas restantes existem processos psicofisiológicos (curto prazo).

A inibição recíproca faz referência ao uso de algum elemento incompatível com sentir ansiedade. Por exemplo, uma técnica de relaxamento ou uma respiração controlada. Isso aparece na DS, mas não na EPR.

Assim, Van Egeren defendia que os estímulos podem deixar de ser ansiogênicos ou fóbicos por meio de processos de:

  • Habituação: quando não existe inibição recíproca, ou seja, quando não existe uma técnica de relaxamento, o que pode ocorrer é que, a curto prazo, a pessoa se habitua ao estímulo ansiogênico. Isto não significa que, ao aparecer novamente esse estímulo, a resposta ansiogênica não vá aparecer. A habituação ocorre a curto prazo e, por isso, é um processo psicofisiológico, não de aprendizagem.
  • Inibição recíproca: igualmente, a curto prazo, a inibição recíproca pode ser utilizada para diminuir os níveis de ansiedade. No entanto, como na habituação, não significa que quando este estímulo voltar a aparecer a pessoa deixará de sentir ansiedade.
  • Extinção: a extinção acontece no longo prazo e quando não há inibição recíproca. Neste caso, a pessoa está exposta ao estímulo ansiogênico sem poder utilizar condutas de segurança ou de inibição recíproca. Este é o processo de aprendizagem da EPR: expor até conseguir extinguir.
  • Contracondicionamento: também possui efeitos a longo prazo e, quando funciona, é a longo prazo. É o processo de aprendizagem da DS, como já mencionamos.

A DS é pavloviana e a EPR é operante?

Algumas pessoas diferenciam a dessensibilização sistemática e a exposição argumentando que a primeira é pavloviana e a segunda é operante.

Quando dizemos que é pavloviana, estamos dizendo que a DS se ocupa dos estímulos condicionados. Um exemplo de estímulo condicionado (EC) poderia ser um carro, sendo a resposta condicionada (RC) a ansiedade diante de um possível acidente. Neste caso, não existem esforços nem castigos que mantenham uma conduta.

No entanto, a EPR pode tratar de estímulos pavlovianos, e não apenas dos operantes. É útil para os operantes porque a EPR evita qualquer conduta por parte da pessoa que reforce a ansiedade.

Por exemplo, quando uma pessoa com uma fobia direcionada a ônibus evita este meio de transporte, está reforçando a ansiedade que o ônibus causa. Na EPR, de modo geral, busca-se que a pessoa não fuja nem evite o ônibus; o objetivo é que ela pegue o ônibus, não que reforce a conduta contrária.

A exposição, ainda assim, pode assumir EC e RC. No exemplo anterior, é possível expor uma pessoa a um carro, sem nenhum tipo de inibição recíproca ou relaxamento, para que comprove que o acidente não acontecerá.

Mulher nervosa na terapia

Qual técnica devo utilizar?

A EPR é utilizada em diversos transtornos de ansiedade. Atualmente, é a intervenção de conduta mais utilizada para o tratamento de obsessões e compulsões do transtorno obsessivo-compulsivo. Também tem sido utilizada em fobias específicas, como a agorafobia e a fobia social.

A DS, por outro lado, tem sido utilizada para o tratamento de fobias ou transtornos nos quais a ansiedade é um elemento importante, como os transtornos alimentares, as disfunções sexuais, a insônia, o alcoolismo, etc. É, além disso, recomendada para reduzir o medo e a tensão sentidos por alguns pacientes asmáticos no momento da crise.

A DS também é útil quando a exposição ou a EPR são problemáticas: um homem cujos níveis de ansiedade o impedem de realizar a exposição (em cujo caso as técnicas de relaxamento poderiam ser adequadas), ou exposições de difícil aplicação, como em uma fobia de voar de avião.

Alguns autores, por outro lado, entendem que a dessensibilização sistemática também apresenta processos de extinção e não de contracondicionamento. Estes sugerem que qualquer técnica que faça com que os sujeitos sejam expostos aos estímulos temidos na ausência de consequências adversas seria tão eficaz quanto uma DS para eliminar respostas de medo.


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