As dívidas emocionais
As dívidas emocionais têm um efeito semelhante ao das dívidas materiais: causam angústia, geram culpa e viram um obstáculo que atrapalha a vida. A diferença é que enquanto as dívidas econômicas são concretas e têm termos acordados, as emocionais geralmente são fruto de fantasias e, por isso mesmo, são confusas e enganadoras.
Uma dívida emocional aparece quando você se compromete com você mesmo ou com os outros a fazer algo e depois não pode cumprir. Por vezes esse compromisso é explícito: você diz em voz alta que o fará, mas outras vezes a dívida se configura de maneira inconsciente e você nem sequer sabe ao certo se deve cumprir ou não com algo que sabe que esperam de si, mas que na prática você nunca se comprometeu a fazer.
O certo é que uma vez que você aceitar, consciente ou inconscientemente, que “deve algo” em termos emocionais, irá criar uma autoexigência permanente. E se não o fizer, como costuma acontecer, vão surgir permanentemente no seu interior mensagens que te marcam e atormentam, fazendo com que você se sinta culpado.
Você repete de diferentes maneiras que “tem uma dívida pendente”, e isso pode até se converter em uma força poderosa que irá condicionar os seus atos e impedi-lo de alcançar os seus objetivos.
As diferentes dívidas emocionais
As dívidas emocionais podem surgir em situações pendentes que, por diferentes motivos, ficaram em pontos suspensos. Um exemplo disto é quando você diz algo ofensivo, injusto ou hostil a uma pessoa, e essa mesma pessoa desaparece subitamente.
Este desaparecimento repentino pode ser por causa de um falecimento ou então porque a pessoa decidiu se afastar de você sem que você possa fazer nada. Resta então o sabor amargo de não ter tido a oportunidade de pedir perdão, explicar a sua conduta, ou fazer as pazes.
Existe outro tipo de dívidas emocionais mais complexas e imperceptíveis que têm origem nos compromissos que você adquire de forma implícita com os outros ou com você mesmo. Quando você era uma criança, talvez tenha pensado em ser médico e salvar muitas vidas. Esse era o seu sonho. Mas você cresceu e a sua vida tomou outro rumo. O sonho “ficou de molho”, mas até hoje a ideia de que você decepcionou a si mesmo o persegue , de que você renegou uma missão essencial da sua existência.
Também pode acontecer de o pai, a mãe ou outra figura com a qual você tenha um vínculo emocional muito forte crie o compromisso. Talvez tenha sido outra pessoa a querer que você fosse um grande médico ou um atleta bem sucedido. Mas você alcançou outras metas e, mesmo assim, algo em seu interior o deixa inquieto e lhe faz pensar várias vezes que “está em dívida” com essas pessoas amadas.
Finalmente, as dívidas emocionais também podem resultar de experiências negativas ou traumáticas para você. Por exemplo, você sofreu uma afronta quando estava na escola: um grupo de amigos o “intimidou” e você não reagiu. Com o passar dos anos, você se repreende por não ter se defendido e se sente em dívida consigo mesmo.
Não há dívida que não se pague…
Há um ditado popular que diz que “não há prazo que não se cumpra, nem dívida que não se pague”. Isto também se adequa às dívidas emocionais. Quando você aceita o fato de que deve algo a alguém, consciente ou inconscientemente, irá procurar formas de saldar a dívida. É como se você estivesse “em falta” ou “pecando”, e isto vai se traduzir em uma série de sentimentos e percepções negativas sobre si mesmo.
As dívidas emocionais são facilmente transformadas em tristeza sem que, aparentemente, exista algum motivo para se sentir assim. Ou em ansiedade: uma angústia imprecisa, que não se sabe de onde vem, mas que se mantém latente no seu interior.
Você também pode se transformar em uma pessoa nervosa, pessimista ou invejosa. Ou naquele tipo de pessoa que está sempre irritada e que, ao mesmo tempo, se envergonha de fazer e não fazer, de dizer e não dizer. Em suma: são várias as formas como uma dívida não resolvida se instala na sua vida.
Se há uma acumulação de dívidas emocionais, também haverá uma acumulação de tristeza, raiva, ressentimento ou angústia. Se você se sente invadido por sentimentos negativos, mas não consegue explicar o porquê de se sentir assim, vale a pena fazer uma análise das possíveis dívidas emocionais que possam existir na sua vida.
Existe alguma situação que não teve um desfecho claro? Há alguma expressão de afeto, de repúdio ou de indignação que tenha ficado entalada? Existem fantasias sobre o que você podia ter sido ou o que devia ter feito que, no entanto, não cumpriu?
Essas e outras perguntas parecidas são as que você deve fazer. Se identificar situações concretas que fazem com que você sinta como se tivesse dívidas emocionais, o que deve fazer é saldar as suas contas. Remediar objetivamente o que for possível e reparar simbolicamente o que é impossível mudar.