Doença de Pick e os comportamentos inadequados
Insultos, comentários inesperados e ácidos, comportamentos de assédio e até agressividade. Os familiares de pacientes com a doença de Pick sofrem o indizível com esse tipo único de demência. Poucos fenômenos são mais chocantes do que ver uma mudança tão radical em uma pessoa próxima que, de repente, torna-se alguém incapaz de respeitar as normas sociais.
Não é uma doença neurodegenerativa comum, como o Alzheimer pode ser. Na verdade, sua prevalência, de acordo com um estudo da Universidade do Chile e de Sydney, na Austrália, é de 15 a 22 casos por 100.000 habitantes. Também deve ser observado que ela tem um curso severo e letal.
Aparece cedo, em média entre os 50 e 53 anos. No entanto, são conhecidos casos de jovens na casa dos 20 anos que apresentaram esse distúrbio neurológico. Esta é uma doença cuja expectativa de vida é bastante curta.
Não há cura e os tratamentos não impedem essas mudanças radicais no comportamento e na personalidade. Isso torna o cuidado desses pacientes sempre muito complicado e, acima de tudo, doloroso. Muitos são os familiares que acabam sendo vítimas tanto de agressões físicas quanto verbais por parte daquele pai, mãe ou irmão que tinha tanto carinho e respeito por eles até pouco tempo.
Vamos aprender um pouco mais sobre esse tipo de demência.
A doença de Pick: quadro clínico e gatilhos
Quando falamos sobre demências, o estereótipo recorrente geralmente é a doença de Alzheimer. Além disso, também é comum associarmos essas doenças neurodegenerativas a uma sintomatologia muito específica: confusão, perda de memória, problemas de orientação…
A doença de Pick tem diferenças claras em comparação com o mal de Alzheimer. Afeta outras áreas do cérebro e também possui características bioquímicas únicas. Além disso, o primeiro sintoma é sempre a mudança de personalidade. É uma doença cerebral grave que passa por três fases muito específicas e que culmina, infelizmente, com a morte do paciente devido a essa degeneração progressiva.
Qual é a origem?
No momento, ainda não sabemos o que causa essa doença. A alteração se concentra exclusivamente nos lobos frontal e temporal, formando uma demência frontotemporal. Pacientes com a doença de Pick apresentam uma peculiaridade que o psiquiatra Arnold Pick descobriu em Praga em 1892.
- Existem algumas substâncias anormais nas áreas frontais afetadas: são os corpos de Pick.
- Estes são conglomerados escuros que contêm uma alteração da proteína tau.
- Estudos clínicos como o realizado no Albert Einstein College de Nova York indicam que esse tipo de demência tende a ser progressiva e fatal em pouco mais de 4 anos. Os corpos de Pick se degeneram e alteram completamente o funcionamento dos neurônios.
- Além de afetar os lobos frontal e temporal, também altera o sistema límbico e o hipocampo, regiões ligadas, como sabemos, às emoções e à memória.
- A incidência é baixa: a cada 100 pacientes com Alzheimer, há um com a doença de Pick.
Quais são os sintomas da doença de Pick?
A afetação desse tipo de demência nas áreas frontais se traduz em uma rápida alteração das habilidades sociais, com o paciente perdendo completamente a capacidade de assumir as normas convencionais.
- Há uma desinibição comportamental.
- A pessoa mostra um comportamento sexual impróprio e rude.
- A personalidade discorre entre a piada e a agressão. Eles tendem a ser irônicos com as pessoas ao seu redor e, depois de um tempo, proferem insultos altamente violentos, independentemente de serem membros da família.
- Ocorre um entorpecimento emocional, alterações do humor marcantes, apatia, irritação…
- Pouco a pouco, os sintomas depressivos se desenvolvem.
- À medida que a doença progride, aparecem falhas de memória e sintomas semelhantes aos do Alzheimer.
- Também aparecem distúrbios de linguagem, como ecolalia (repetir involuntariamente uma palavra ou frase que acabaram de ouvir).
- Da mesma forma, também é comum o surgimento de hiperoralidade, um tipo de fagia em que a pessoa coloca na boca tudo o que encontra (pedras, lápis, roupas, etc.).
- Os reflexos primitivos, como sugar, balançar a cabeça ou agarrar, também são manifestações comuns da doença de Pick.
Existem tratamentos para este tipo de demência?
Sabemos que quanto mais precoce o aparecimento da doença, pior é a progressão e mais cedo o paciente morre. É uma demência de grande gravidade e impacto pessoal. A família testemunha como aquele ente querido de repente se transforma em alguém completamente diferente.
É também uma doença que surge em pessoas ainda jovens e que, em média, morrem 6 a 7 anos após os primeiros sintomas. Não há cura e os tratamentos disponíveis permitem tratar apenas o aspecto emocional, como a depressão e os altos e baixos emocionais.
O aspecto mais complexo da doença de Pick é que ela progride muito rapidamente e as alterações sofridas pelo paciente são constantes. Isso torna muito difícil dar uma resposta médica rápida para evitar essas alterações. Sabemos, no entanto, que, em média, a demência passa por três fases:
- Primeiro estágio: mudança de personalidade, alteração de juízo e pensamento.
- Segunda estágio: problemas de memória, mudanças emocionais e alterações de linguagem.
- Terceiro estágio: deterioração rápida e geral que termina com a morte do paciente.
Por fim, mas não menos importante, nessas situações é muito importante oferecer uma assistência adequada e integral à família. O impacto emocional é imenso. Cuidar de um paciente com a doença de Pick não é fácil; eles precisam enfrentar a sua hipersexualidade e também a sua agressividade. São, portanto, situações de alto sofrimento em que o apoio social e psicológico deve ser constante.
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