Elisabeth Roudinesco, uma psicanalista contemporânea
Elisabeth Roudinesco é uma historiadora e psicanalista francesa de grande prestígio internacional.
Atualmente, é pesquisadora da Universidade de Paris VII Denis Diderot e uma das vozes mais reconhecidas da psicanálise contemporânea. Também é autora de uma das mais belas e interessantes biografias de Sigmund Freud.
De classe alta e filha de grandes intelectuais, Elisabeth Roudinesco se formou em Literatura na Universidade de Sorbonne.
Em seguida, fez um mestrado em Linguística e alguns cursos com conhecidos autores de sua época, como Michel Foucault e Gilles Deleuze. Posteriormente, fez doutorado em Letras.
“Passamos, assim, de uma situação histórica – na qual a psicanálise oferecia meios para curar a subjetividade desfeita ou descentrada – a um estado globalizado em que o sujeito, transformado em um depressivo, não quer mais saber o que acontece em seu inconsciente”.
-Elisabeth Roudinesco-
Em 1969, associou-se à Escola Freudiana de Paris, fundada por Jacques Lacan. Permaneceu ali por 12 anos e se formou psicanalista. Escreveu vários livros e atualmente é colaboradora do famoso jornal Le Monde de Paris.
Elisabeth Roudinesco e Freud
Uma das obras mais interessantes da psicanalista Elisabeth Roudinesco é a biografia de Sigmund Freud. Chama-se ‘Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo’ e é um extenso relato, com grande beleza literária, que foi premiado em várias ocasiões.
Ela declarou que sua intenção era fazer um balanço equilibrado do legado freudiano, principalmente porque nas últimas décadas o figura do pai da psicanálise foi caricaturizada.
A biografia não é uma reivindicação da obra freudiana, mas uma investigação exaustiva. Elisabeth Roudinesco explorou vários mitos que circulam em torno da figura de Freud e conseguiu estabelecer os limites de sua veracidade. Também conseguiu contextualizar a gênese da psicanálise e seu sentido histórico.
Roudinesco consegue mostrar a psicanálise como uma das vertentes de uma grande ebulição intelectual na Europa. O feminismo, o surrealismo e várias abordagens do anarquismo aconteciam ao mesmo tempo que avançavam os conhecimentos sobre o inconsciente.
Freud não foi um gênio solitário, mas um dos pilares de um momento histórico muito prolífico.
A psicanálise hoje e a interpretação de Elisabeth Roudinesco
Para Elisabeth Roudinesco, uma das contribuições mais importantes de Freud foi ter entregado a cada indivíduo a responsabilidade sobre o seu destino. Cada um deve ser o herói de sua própria vida, responsabilizar-se pelo que lhe acontece e inclusive pelo que não acontece.
No âmbito psicanalítico, é cada indivíduo que reelabora sua história e dá um sentido à mesma.
Essa visão é diametralmente oposta ao que o behaviorismo propõe, que Elisabeth Roudinesco define como “uma técnica bastante estúpida, embora às vezes funcione”.
Ela faz esta afirmação levando em consideração a radicalidade do que nessa escola é chamado de “conduta objetiva”, ou seja, a observável ou externa, desconsiderando ou minimizando a importância dos fenômenos inconscientes.
Em relação às polêmicas sobre a psicanálise, que alguns rotularam como “anticientífica”, Roudinesco afirma que não se trata de uma teoria fácil de digerir. Garante que na época de Freud tudo chegou a ser psíquico e que na atualidade tudo chegou a ser orgânico.
Ela acredita que, no mundo atual, há pessoas que sofrem e desejam um comprimido para evitar esse sofrimento. Por isso os psiquiatras se tornaram distribuidores de medicamentos, mas esse modelo também já mostra sinais de estar em crise.
A evolução da psicanálise
Para Elisabeth Roudinesco, a psicanálise também deve evoluir em vários aspectos. Um deles é o de assumir novas realidades, como as famílias homoafetivas e a diversidade sexual.
Ela comenta que alguns de seus colegas acreditam que as famílias homoafetivas não devem ser formadas, pois atentam contra o Complexo de Édipo. A isso, Roudinesco responde: “Então, é preciso mudar o Complexo de Édipo”.
Ela acredita que esse conservadorismo não é positivo para uma doutrina que sempre foi libertária.
Além disso, ela acredita que a psicanálise deveria considerar a opção de realizar intervenções mais curtas. A velocidade do mundo é outra.
Por isso, conservando a opção básica de realizar análises que poderiam durar anos, também deveria ser apresentada a alternativa de processos mais curtos. Elisabeth Roudinesco acredita que é possível abordar psicanaliticamente um problema específico, e não necessariamente toda a história de vida.
Uma mudança na cultura
Roudinesco não acredita que, na nossa época, exista mais angústia ou mais problemas mentais do que antes. Na sua opinião, o que mudou foi a cultura.
Na época de Freud havia uma grande repressão perante o mal-estar. Agora, em contrapartida, esse mal-estar não apenas é abertamente expresso, mas exposto e publicado. É por isso que parece haver mais problemas hoje em dia, mas isso não é verdade.
Elisabeth Roudinesco é, sem dúvida, uma psicanalista que contribuiu muito para a difusão de sua escola. Também é uma mulher brilhante, que não teme as mudanças nem a autocrítica. Uma autora que vale a pena ler e analisar.
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Derrida, J., & Roudinesco, É. (2002). Y mañana, qué… Fondo de Cultura Económica.