Ensino à distância: o caos cibernético entre pais e filhos

O coronavírus também afetou o ambiente educacional, que foi forçado a se reajustar com o ensino à distância. O psicólogo Marcelo Ceberio fala sobre o tema a seguir.
Ensino à distância: o caos cibernético entre pais e filhos

Última atualização: 09 julho, 2020

Atualmente, existem diferentes situações da vida que ainda estão em confinamento. Dizem que cada casa é um mundo, e é verdade. Dentro de casa se desenvolvem maneiras de viver, estilos de personalidade e relações de vários tipos, entre outras coisas. Entre as várias novas realidades desses últimos meses está o ensino a distância.

Há pessoas que trocam os horários, comem demais, ficam improdutivas, se desorganizam e perdem o rumo durante o isolamento. Outras são mais rígidas: estabelecem e seguem os horários para as refeições e para dormir, mantendo a rotina.

O isolamento dos últimos meses também afetou as pessoas que moram sozinhas, fazendo-as viver de uma maneira muito particular. De qualquer forma, com ou sem filhos, sozinhos ou acompanhado, a crise causada pelo coronavírus é absolutamente subjetiva, como todas as experiências.

O confinamento forçou uma mudança no estilo de vida dos mais velhos, mas também dos mais jovens, que passaram da escola ao ensino à distância para continuar tendo aulas. Mas o que o ensino à distância realmente implica?

Pai e filho estudando juntos

Começaram as aulas!

A tecnologia, sempre tão criticada pelos adultos por promover um estilo de vida sedentário, a falta de comunicação e a tendência de se isolar, hoje se tornou essencial para se comunicar sem sair de casa. Graças à tecnologia, enquanto o corpo permanece parado, a mente pode estar em diferentes lugares.

Como professor universitário, o mundo virtual sempre me ajudou a lecionar em outros países ou províncias sem precisar viajar, mas hoje isso acontece mais do que nunca. Atualmente, as aulas virtuais são essenciais para continuar o ano letivo

Ensino primário à distância

A verdade é que o ensino à distância é outra coisa. Isso porque, apesar de ter sido adotado há pouco tempo, ele já criou inúmeros conflitos entre pais e filhos e entre pais e professores.

Por um lado, existem famílias com um, dois ou mais filhos em diferentes séries do ensino primário. E quanto mais crianças, mais complicações. Parte disso se deve ao fato de que nem todas as casas têm mais de um computador.

Assim, os pais acabam se irritando com os filhos por não saberem quem devem priorizar para o uso do computador, ou com os professores por colocarem aulas de diferentes cursos no mesmo horário. Os conflitos também surgem porque as crianças discutem entre si sobre quem deve usar o computador primeiro. Conclusão: o caos é instaurado.

Uma grande ajuda (o que não acontece) seria melhorar a organização dos cursos, garantindo que os horários das aulas sejam os mesmos para todas as crianças, por exemplo.

Outro detalhe não menos importante é que a maioria dos pais pertence a uma geração que não cresceu com o computador e, portanto, não são familiarizados com a tecnologia. Com isso, muitas crianças ensinam os pais a navegar na internet.

Assim, muitas dessas crianças acabam fazendo com que seus pais se sintam inferiores por só saberem usar o Word, um pouco do Excel e, é claro, o Facebook, nem mesmo o Instagram. Isso cria um conflito geracional.

Mas o problema não termina aí. As escolas não estavam preparadas para adotar o ensino à distância. Assim, de um dia para o outro, elas tiveram que se organizar para dar seguimento às aulas que começaram presencialmente.

De repente, a escola com a qual os pais estavam satisfeitos agora se tornou caótica. Não apenas porque eles precisam navegar nas redes para transmitir conhecimento, mas por navegarem na incerteza e na desorganização da tentativa de organizar as aulas e, com isso, reduzir o caos.

Os desafios do ensino à distância

Os desafios do ensino à distância

Dependendo das plataformas de aprendizado, os pais se viram diante de nomes que nunca ouviram antes: Jitsi, Webinar, Sakai, Moodle, Ed Modo e, claro, Zoom, o rei de todos os programas.

E não apenas isso, a escola teve que aprender a usar cada um desses programas e depois ensinar aos professores, para que ensinassem aos pais e estes fizessem o mesmo com os filhos. Em toda essa cadeia, é impossível que não surjam problemas!

Portanto, os alunos devem aprender não apenas o conteúdo das disciplinas, mas também a usar essas plataformas de aprendizado. Além disso, eles devem ensinar os próprios pais ou até mesmo os próprios professores. Sem mencionar as tarefas escritas que devem ser enviadas para a plataforma.

Nessa situação, pais desorientados tentam orientar crianças desorientadas, junto com professores desorientados que tentam orientar a desorientação dos pais e de seus alunos. O mais curioso é que quem está desorientado acaba desorientando a todos, inclusive a si mesmo.

Se a tudo isso acrescentarmos as dificuldades de conexão à Internet, tudo se encaminha para o caos explosivo. Para completaralém de ter que fazer a tarefa, as crianças também querem brincar, pular, falar, jogar os bichos de pelúcia no tapete, usar o tablet, jogar videogame, etc. Enquanto isso, os pais ficam cada vez mais mal-humorados e intolerantes, porque estão exaustos.

Crianças brincando

Vamos parar!

Por favor, pare! Porque se você não parar o caos, ele o dominará. Para restaurar a ordem, você deve se organizar e estabelecer limites.

Você faz o que pode e, se uma tarefa não puder ser cumprida, os professores e a escola devem entender a situação. É um momento especial da vida, absolutamente particular.

Não se esqueça de que o estresse de viver em quarentena é agravado pelo estresse do ensino à distância das crianças. Portanto, reduzi-lo implica adiar e desacelerar para melhorar o processo de aprendizagem. E não nos referimos ao aprendizado dos conteúdos acadêmicos, mas à adaptação a esse novo sistema online.

Não pretenda ser gênio do ciberespaço, YouTuber, chef de cozinha, intelectual ou super-pai.

Neste momento histórico, você deve apenas aprender a ser tolerante, a não exigir mais de si mesmo e a simplesmente ser você mesmo construindo uma vida melhor, porque assim você e seus filhos serão melhores.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.