O experimento de Gilbert: compreensão e crença

O experimento de Gilbert apoia uma conclusão inquietante: quando alguém nos fornece uma informação, tendemos a acreditar que ela é verdadeira. Isso nos torna vulneráveis, porque podemos ser enganados com facilidade.
O experimento de Gilbert: compreensão e crença
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 14 fevereiro, 2020

O experimento de Gilbert foi realizado para tentar resolver um debate que estava vigente há nada mais, nada menos, do que quatro séculos. Este debate havia começado no século XVI e seus protagonistas eram dois grandes filósofos: René Descartes e Baruch Spinoza. O motivo da controvérsia era a maneira como as crenças se formam no ser humano.

René Descartes, representante máximo do racionalismo, defendia que o entendimento e a crença eram dois processos separados. Segundo ele, primeiro as pessoas adquiriam a informação, depois a analisavam, e depois decidiam se acreditavam nela ou não. Em outras palavras, para Descartes as crenças eram produto da análise da informação recebida.

Baruch Spinoza , por outro lado, afirmava algo diferente. Para este filósofo, o entendimento e a crença eram dois processos que ocorriam simultaneamente. Ele destacava que, ao obter uma informação e compreendê-la, formamos crenças automaticamente. Em poucas palavras, acreditamos no que nos dizem ou escrevem, sem submeter a informação a uma análise detalhada.

“Inteligência é o que você usa quando não sabe o que fazer”.
-Jean Piaget-

Homem pensativo

O experimento de Gilbert

O debate entre os dois filósofos nunca foi completamente resolvido. Para comprovar a validade de cada uma destas teses, surgiu o experimento de Gilbert. Seu criador foi o psicólogo Daniel Gilbert, juntamente com seus colegas, em 1993.

A pergunta central da pesquisa era se a compreensão e a crença eram dois processos separados ou ocorriam de forma simultânea.

Para definir qual das teses era a correta, foram reunidos 71 voluntários. Cada um deles recebeu um texto que detalhava um roubo. Com base no que leram, os voluntários tinham que decidir qual seria a sentença dada ao ladrão.

O texto tinha linhas em verde e outras em vermelho. Os participantes foram informados de que as linhas em verde correspondiam a afirmações que eram verdadeiras. As linhas em vermelho, por outro lado, eram falsas. Eles precisavam levar isso em conta para compreender as circunstâncias do roubo e definir a sentença mais justa.

O desenvolvimento do experimento

As afirmações que estavam em vermelho, e que eram falsas, continham informações sobre os detalhes do crime. Algumas delas faziam o roubo parecer mais violento. Diziam, por exemplo, que o ladrão estava armado ou que apresentou comportamentos agressivos.

Outros textos continham frases com afirmações que pretendiam, de certa maneira, “suavizar” o crime. Diziam, por exemplo, que o ladrão tinha família e filhos e que havia roubado por necessidade. Também destacavam sua atitude “amável”, e em nenhum momento violenta.

Durante o desenvolvimento do experimento de Gilbert, metade dos participantes foi interrompida com distrações. Os pesquisadores permitiram que a outra metade completasse o exercício sem nenhum tipo de distração.

Esperava-se que quem tivesse sido distraído agisse de forma mais natural, precisamente porque eles perdiam o controle sobre a situação e eram induzidos a se comportar como se comportariam normalmente.

Os mecanismos do cérebro

Os resultados

No final do experimento de Gilbert, houve uma diferença significativa entre as sentenças do subgrupo que havia sido distraído em comparação com que manteve o controle total sobre a atividade. Em geral, o grupo de voluntários que havia sido objeto de distrações não levou em conta que o texto continha afirmações falsas e verdadeiras.

Os que haviam recebido textos nos quais haviam sido incluídas informações falsas sobre o ladrão muito mais cruel definiram uma pena duas vezes maior do que os demais. Quem recebeu as afirmações falsas que favoreciam o delinquente lhe outorgaram até menos da metade da pena.

Por outro lado, os que não haviam sido distraídos durante o experimento de Gilbert ignoraram as afirmações falsas e deram uma pena de acordo com o delito cometido. Eles tiveram tempo suficiente para fazer esta discriminação informativa, e por isso foram mais justos.

O inquietante deste experimento é que, se considerarmos a vida cotidiana, o que é falso e verdadeiro não aparece escrito em vermelho ou verde.

O experimento de Gilbert comprovou que o filósofo Baruch Spinoza tinha razão. A compreensão e as crenças se formam simultaneamente. Isso quer dizer, basicamente, que tendemos a crer em tudo que os outros nos dizem.

Isso é positivo até um certo ponto, pois caso contrário passaríamos a vida inteira comprovando a veracidade das afirmações. No entanto, também é preocupante, já que podemos acreditar com facilidade em detalhes que não são verdadeiros.


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  • Gendler, T. Experimentos mentales filosóficos, intuiciones y equilibrio cognitivo. Trabajando en el laboratorio de la mente, 149.


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