O experimento de Quattrone e Tversky sobre o poder das mentiras

No experimento de Quattrone e Tversky, ficou evidente que as pessoas têm uma forte tendência a contar mentiras para si mesmas e a acreditar nelas. Nós modificamos ou suprimimos informações reais, às vezes conscientemente, às vezes não, para evitar conflitos internos.
O experimento de Quattrone e Tversky sobre o poder das mentiras
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 19 maio, 2020

Se alguém perguntasse, a maioria de nós diria que nunca mente ou engana. Quase todos nós acreditamos que o que pensamos é verdade e que somos completamente sinceros na maioria das nossas palavras e ações. No entanto, o experimento de Quattrone e Tversky mostrou que não é bem assim.

O experimento de Quattrone e Tversky foi realizado em 1984 e publicado inicialmente no Journal of Personality and Social Psychology. O principal objetivo desse estudo foi provar a existência de um viés cognitivo conhecido como “viés de autoconfirmação”. Ele envolve a necessidade de convencer a nós mesmos que o que pensamos é verdadeiro, mesmo não sendo.

Esse viés de autoconfirmação está relacionado às mentiras. No entanto, nesse caso, essas mentiras são focadas principalmente em nós mesmos. Nos referimos ao autoengano, que é um processo por meio do qual paramos de ver, ou de levar em consideração, aspectos da realidade que contradizem nossas crenças ou que nos deixam desconfortáveis.

O experimento de Quattrone e Tversky mostra que enganamos a nós mesmos com frequência. Não fazemos isso com um intuito malicioso ou por falta de respeito pela verdade. É simplesmente um mecanismo que nos ajuda a evitar aspectos dolorosos ou incômodos ​​da realidade .

“A racionalização pode ser definida como o autoengano pelo raciocínio”.
-Karen Horney-

Mulher com os olhos vendados

O experimento de Quattrone e Tversky

O experimento de Quattrone e Tversky tomou como base um grupo de 34 voluntários. Os pesquisadores informaram a e les que fariam uma pesquisa sobre “os aspectos médicos e psicológicos do atletismo”. Embora não fosse verdade, era necessário que eles acreditassem que fosse.

Então, os pesquisadores pediram que eles mergulhassem seus braços em água fria. Eles informaram os participantes que seu nível de resistência à água fria era um indicador muito importante de seu estado de saúde geral, o que também não era verdade.

Depois, pediram a eles que realizassem outros tipos de tarefas. Essas tarefas incluíam andar de bicicleta e outras atividades similares, e pretendiam ser apenas uma distração.

Ao final de tudo isso, conversaram com os voluntários sobre “expectativa de vida“. Nessa conversa, os pesquisadores informaram a eles que havia dois tipos de corações. O tipo I era mais resistente e, portanto, menos vulnerável ao desenvolvimento de doenças cardíacas com o tempo. O tipo II, por outro lado, era um coração fraco e suscetível a doenças.

Uma reviravolta no experimento

Após essa primeira fase, o experimento de Quattrone e Tversky teve uma reviravolta. O grupo de voluntários foi dividido em dois. Separadamente, os pesquisadores disseram ao grupo um que os braços submersos na água fria eram um indicador que permitia estabelecer se cada um deles tinha um coração do tipo I ou do tipo II.

Eles acrescentaram que aqueles que tinham um coração do tipo I, isto é, forte e resistente, conseguiam ficar mais tempo com os braços submersos em água fria. Informaram ao outro grupo o contrário – aqueles que tinham um coração forte e resistente durariam menos tempo com os braços submersos em água fria.

Depois disso, os pesquisadores solicitaram que todos os voluntários mergulhassem novamente os braços na água fria para que pudessem ser avaliados outra vez. O resultado foi curioso: os membros do primeiro grupo permaneceram com os braços na água fria por muito mais tempo em comparação com a primeira vez em que realizaram o experimento. Com o outro grupo, aconteceu o oposto.

Dois baldes cheios de água

As conclusões do experimento

O tempo ao longo do qual eles mantiveram seus braços na água fria variou, em média, 10 segundos.

Aqueles que inicialmente haviam mantido o braço submerso por 35 segundos e pertenciam ao grupo um agora chegaram aos 45 segundos. Aqueles que haviam mantido por 35 segundos e faziam parte do grupo dois agora só conseguiram chegar aos 25. O que os pesquisadores puderam concluir a partir disso?

Para esclarecer as conclusões, os pesquisadores perguntaram a todos os participantes se as informações sobre os dois tipos de coração os fizeram resistir mais ou menos tempo com seus braços na água fria para provar que tinham um coração forte. Dos 38 voluntários, 29 negaram. Depois, perguntaram se eles acreditavam que tinham um coração saudável. 60% daqueles que negaram que haviam sido influenciados pelas informações sobre o coração disseram que sim.

De acordo com os pesquisadores, os resultados provaram que temos uma forte tendência a nos enganar. Alguns suprimem completamente dados reais, apenas para provar que estão certos. Ao fazerem isso, evitam situações que podem ser incômodas ​​ou preocupantes.


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  • Trivers, R. (2013). La insensatez de los necios. La lógica del engaño y el autoengaño en la vida humana. Katz Editores.


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