Por que o fechamento é necessário quando um relacionamento termina?

No meio popular, é muito comum ouvir falar da necessidade de “fechar” ciclos. Como isso se aplica ao mundo dos relacionamentos? Vamos ver a seguir.
Por que o fechamento é necessário quando um relacionamento termina?

Última atualização: 29 dezembro, 2022

A série de televisão de humor negro A Sete Palmos contou a vida de uma família americana cujo negócio era uma casa funerária. Os protagonistas tinham que lidar com seus problemas domésticos e, ao mesmo tempo, manter uma compostura séria para ajudar seus clientes a administrar o luto, que muitas vezes era difícil devido às mortes bizarras narradas no início de cada episódio. Essa foi uma forma de representar a importância do fechamento.

Na série, o luto era mais difícil quanto mais inexplicável e estranha era a perda sofrida. Portanto, ao longo de cada episódio, a necessidade de fechamento e as diferentes formas de alcançá-lo puderam ser apreciadas.

Terminar um relacionamento é uma perda significativa para os envolvidos e, portanto, costuma envolver um processo de luto. Este processo será mais fácil se tivermos uma explicação razoável de por que o fim aconteceu.

Obter uma explicação satisfatória nos permitirá “fechar” o relacionamento de uma forma psicologicamente apropriada.

Homem preocupado com uma separação

O que é o fechamento cognitivo?

O fechamento cognitivo é a necessidade que temos de encontrar uma explicação satisfatória para situações ambíguas ou incertas (Kruglanski e Webster, 1996).

Quando encerramos um relacionamento, precisamos entender por que o fim ocorreu e, dessa forma, dar sentido a ele em nossa narrativa vital. Essa explicação se tornará parte dos nossos esquemas mentais e nos ajudará a explicar e prever melhor o mundo no futuro.

Porém, quando um relacionamento termina e a outra pessoa simplesmente desaparece sem explicação ou não entendemos por que ela agiu de uma determinada maneira, ficamos com a sensação de que algo está faltando.

A falta de fechamento é um sentimento incômodo porque a falta de informação nos impede de nos conhecermos melhor e torna difícil entendermos um pouco mais o mundo que nos rodeia.

No final das contas, precisamos integrar as experiências vividas, dar-lhes sentido dentro dos nossos valores pessoais e utilizá-las para aumentar o conhecimento que, no futuro, nos permitirá descrever, explicar e prever a nossa realidade com mais precisão.

A necessidade de fechamento de acordo com a personalidade

Embora para a maioria das pessoas isso seja necessário até certo ponto, nem todos temos a mesma necessidade de fechamento. Dependendo da nossa personalidade, sentiremos a necessidade de fechamento de uma forma mais ou menos urgente (Neuberg, Judice e West, 1997):

  • Pessoas com grande necessidade de fechamento são caracterizadas por terem uma grande intolerância à incerteza. Eles tendem a ser obsessivos, viciados em ordem, regras e previsibilidade. Eles precisam de estruturas de realidade muito bem definidas. Eles podem ser autoritários e dogmáticos, pois estão convencidos de que conhecem o “jeito certo” de fazer as coisas. Eles tendem a ser conservadores política e socialmente.
  • Em contraste, pessoas com baixa necessidade de fechamento são caracterizadas por uma maior criatividade, bem como por uma maior tolerância à incerteza e surpresa. Eles tendem a ser pessoas mais impulsivas e também cognitivamente mais complexas. Sua maior flexibilidade cognitiva os torna mais capazes de se mover e se adaptar em situações ambíguas ou contraditórias.
  • Por fim, também há pessoas com a necessidade de evitar o fechamento. Nesse caso, a pessoa suspende o compromisso com o seu senso crítico. Em outras palavras, a pessoa prefere não saber o que aconteceu, porque ela assume que a explicação vai lhe fazer mais mal do que simplesmente se expor à incerteza.

O que fazer quando não conseguimos obter o fechamento no fim de uma relação e precisamos dele?

É claro que não podemos (não devemos) forçar outras pessoas a atender às nossas necessidades. Quando a outra pessoa não coopera e se distancia de nós sem explicação, somos deixados no limbo relacional.

No entanto, como costumamos ensinar na terapia, adotar uma atitude saudável significa aceitar o desafio de administrar nossa parcela de responsabilidade em cada situação. Nesse caso, teremos que ser os responsáveis pela falta de fechamento.

O que podemos fazer exatamente? Para terminar de solucionar uma perda que carece de explicação, não há outra opção a não ser renunciar a essa explicação. É difícil, é injusto, mas se refletirmos bem, veremos que também é conveniente para nós.

A alternativa seria permanecer preso indefinidamente em um interrogatório pessoal contínuo. Em algum momento, teremos que parar de fazer isso e seguir em frente.

Através da dolorosa jornada de luto, tendo lidado com emoções como tristeza, culpa ou raiva, no final nosso objetivo deve ser a aceitação. E para terminar de aceitar o ocorrido, temos que abrir mão de todos os fardos que nos prendem, inclusive a busca por respostas, ou seja, a necessidade de explicação. Deixar ir nos libertará.

Mulher triste pela separação

Quando esse processo termina?

O fechamento cognitivo em um relacionamento ocorre quando conseguimos acessar uma explicação plausível de por que as coisas aconteceram dessa maneira.

Sentimos a necessidade de experimentar o fechamento porque esta explicação nos ajuda a compreender aspectos de nós mesmos, dos outros e do mundo ao nosso redor.

Trabalhar para estreitar o relacionamento com o outro permite dar sentido à perda sofrida e dizer adeus a uma parte importante das nossas vidas.

Infelizmente, muitas vezes os relacionamentos não terminam de forma madura e o fechamento não é completo, deixando-nos sem respostas para nossas dúvidas. Nestes casos, abrir mão do fechamento é uma forma de se sentir mais livre. Abandonar a necessidade de explicação nos permitirá seguir em frente.


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  • Kruglanski, A. W., & Webster, D. M. (1996). Motivated closing of the mind: “Seizing” and “freezing.” Psychological Review, 103(2), 263–283. https://doi.org/10.1037/0033-295X.103.2.263
  • Neuberg, S. L.; Judice, T.; West, S. G. (June 1997). «What the Need for Closure Scale measures and what it does not: Toward differentiating among related epistemic motives». Journal of Personality and Social Psychology 72 (6): 1396-1412. doi:10.1037/0022-3514.72.6.1396.

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