Grupo mínimo, o experimento de Jane Elliot

O experimento de Jane Elliot marcou um antes e depois na psicologia social. Descubra as suas principais consequências neste artigo.
Grupo mínimo, o experimento de Jane Elliot
Francisco Roballo

Escrito e verificado por o psicólogo Francisco Roballo.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

O paradigma do grupo mínimo, de Jane Elliot, deu forma a um método da psicologia social. Ele se baseia no estabelecimento de diferenças entre pessoas com o objetivo de estabelecer grupos separados.

Trata-se de uma técnica que serve para demonstrar quantos traços diferentes são necessários para criar grupos definidos e, a partir disso, analisar o comportamento das pessoas.

Na década de 60 os Estados Unidos estavam imersos em uma crise social de caráter racial. A professora Jane Elliot realizou um experimento que seus alunos nunca esqueceriam, se baseando no paradigma do grupo mínimo.

A ideia era, ao mesmo tempo, simples e complexa: se baseava em provar que uma diferença arbitrariamente estabelecida poderia separar crianças e fazê-las enfrentar umas às outras.

O experimento do grupo mínimo de Jane Elliot

Jane Elliot, professora e ativista contra o racismo, fez um experimento com a turma de crianças pela qual era responsável.

Elliot estabeleceu arbitrariamente que as pessoas de olhos azuis eram melhores do que as pessoas de olhos castanhos. A professora deu um colar diferente para que as crianças de olhos azuis colocassem nas de olhos castanhos.

Crianças estudando juntas

A cor dos olhos

Com dois exemplos básicos e arbitrários, Elliot defendeu que as pessoas com olhos azuis eram melhores. Os estudantes, embora surpresos, não apresentaram maior resistência a nível argumentativo. Foi assim que Elliot criou dois grupos:

  • Olhos azuis. Eles tinham um número maior, se sentiam superiores e tinham o respaldo da autoridade (a professora). Por outro lado, tinham experimentado um certo poder sobre as crianças de olhos castanhos quando colocaram o colar nelas.
  • Olhos castanhos. Era um grupo de quantidade inferior, identificados por ser aparentemente mais tolos e infelizes. Não só eram inferiores em número, como também tinham a autoridade contra eles.

A discriminação

Pouco a pouco, as consequências do grupo mínimo tornaram-se evidentes. Uma diferença tão simples como a cor dos olhos, ao ser estabelecida pela autoridade, provocou uma separação entre os grupos.

As crianças de olhos azuis começaram a tratar as crianças de olhos castanhos de forma agressiva e pejorativa. As crianças de olhos castanhos começaram a sentir a discriminação e o abuso por parte do outro grupo.

Como a discriminação foi expressada?

Para começar, alguém ser chamado de “olhos castanhos” não deveria ser considerado um insulto. Mas, nesta escola, ter os olhos castanhos tinha sido estabelecido como uma inferioridade. Por isso, o adjetivo “olhos castanhos” era um insulto utilizado pelas crianças de olhos azuis.

As crianças de olhos azuis começaram a não querer brincar com as de olhos castanhos no intervalo e a humilhá-las constantemente.

O resultado do experimento de Jane Elliot

As consequências dessa divisão arbitrária chegaram ao limite quando houve violência física. Geralmente as crianças brigam, discutem e se batem, mas dessa vez o motivo era a cor dos olhos.

Foi então que o grupo de olhos castanhos denunciou os abusos em sala de aula. Faziam isso sob o ponto de vista de vítimas, intuindo que não teriam o respaldo da autoridade.

Da escola para a sociedade

É difícil não questionar os papéis sociais; se uma diferença arbitrária criou tantos problemas em um grupo de crianças, o que acontece em grande escala e tendo em conta os estereótipos com os quais lidamos diariamente?

Não é de se estranhar que diferentes grupos sociais desprezem outros baseados em diferenças étnicas, religiosas ou culturais. Estas diferenças já levaram a guerras e ódio entre amigos e familiares, que antes de perceberem tais diferenças como negativas, podiam conviver perfeitamente.

Uma questão de educação

A professora Jane Elliot refletiu sobre as consequências do grupo mínimo. É surpreendente como crianças que antes eram amáveis, cooperativas e amigáveis, se transformam em soberbas, discriminadoras e hostis ao pertencer a um grupo superior.

As expressões de ódio e discriminação dos adultos atuais têm origem em uma educação que os fez pensar que eram melhores do que os outros por aspectos arbitrários, como a cor ou o gênero, por exemplo.

O grupo mínimo na atualidade

Este paradigma nos ajuda a entender as problemáticas atuais em torno da discriminação.

No mundo atual, estão acontecendo grandes movimentos migratórios. Em muitos casos, as culturas nativas se sentem ameaçadas, e para reverter esse sentimento, criam sentimentos de superioridade junto a símbolos associados.

Assim, em muitos casos e sem passar muito tempo, estes sentimentos desembocam em expressões de ódio, como a discriminação racial ou o terrorismo.

A necessidade de uma educação sem discriminação

O objetivo do grupo mínimo é estabelecer diferenças isentas de objetividade, criando um clima de favoritismo. É assim que o grupo dominante sempre vai tirar mais proveito de todas as situações, ao estar respaldado pela autoridade.

Como pudemos ver, este procedimento pode ser tão sutil que passa despercebido.

Algumas dicas para evitar ou reduzir este efeito são:

  • Neutralizar as diferenças. Nos contextos educativos, a naturalização de diferenças superficiais entre crianças evita o sentimento de superioridade;
  • Atividades de integração. É bom misturar o melhor possível os indivíduos com diferentes traços, crenças e culturas em uma tarefa de objetivo comum;
  • O papel do professor. O autoritarismo costuma fazer com que um grupo mais parecido com o professor tenha um certo sentimento de superioridade e respaldo. O papel de professor deve ser mais conciliador do que discriminatório.

O experimento de Jane Elliot é importante para demonstrar quão frágil a convivência pode ser e como aspectos arbitrários e pouco objetivos podem colocar amigos, familiares e cidadãos uns contra os outros.

“A caridade é humilhante porque é exercida verticalmente e vinda de cima; a solidariedade é horizontal e implica respeito mútuo”.
– Eduardo Galeano-


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