Hanns Sachs e a obra de arte na psicanálise

A principal contribuição de Hanns Sachs foi ter aplicado as teses da psicanálise à interpretação das obras de arte. Ele as definiu como o fruto de um sonho coletivo da civilização.
Hanns Sachs e a obra de arte na psicanálise
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 09 abril, 2020

Hanns Sachs foi um daqueles psicanalistas que não se encaixavam no modelo tradicional da primeira geração da psicanálise. Embora o seu nome não seja tão conhecido, ele fez importantes contribuições para a doutrina de Freud. Em particular, foi um excelente formador de psicanalistas e também aplicou a teoria psicanalítica às obras de arte.

Ao contrário de outros colegas, Hanns Sachs tinha uma atitude despreocupada em relação à vida. Isso lhe permitiu se adaptar muito bem a várias situações e gerou muitas simpatias, mas ele também recebeu um forte comentário de Freud sobre isso.

Ele tinha uma grande fraqueza pela sedução amorosa e era amante de um bom vinho e da boa comida. Da mesma forma, também era apaixonado pela literatura.

“Amigo, o verdadeiro trabalho do poeta é escrever e interpretar sonhos. Ele acredita que a ilusão mais segura vive no sonho dos seres humanos. A arte de fazer versos e poetizar é dizer a verdade dos sonhos”.
– Hanns Sachs –

Hanns Sachs também é considerado um dos melhores biógrafos de Sigmund Freud. Ele publicou algumas memórias em 1945, nas quais ficou registrado o seu grande carinho e admiração pelo pai da psicanálise. Esse texto foi uma referência obrigatória para aqueles que mais tarde escreveram a história dessa corrente humanística.

Hanns Sachs, um advogado que se tornou psicanalista

Hanns Sachs, como a maioria dos psicanalistas da primeira geração, veio de uma família judia. Seu pai era um advogado muito prestativo, que gozava de uma sólida posição econômica. Sachs nasceu em Viena (Áustria) em 10 de janeiro de 1881; estudou direito na Universidade de Viena e obteve o doutorado em 1904.

Ele exercia a sua profissão sem problemas, mas quando leu A Interpretação dos Sonhos de Sigmund Freud, sentiu uma paixão crescente pela psicanálise. Ficou tão impactado que resolveu se aprofundar nessa doutrina. Por isso, ele começou a participar regularmente das conferências de Freud. Um dia, ele decidiu visitá-lo e levou de presente uma tradução das Baladas do Quartel, Rudyard Kipling.

Assim começou uma amizade que durou para sempre. Hanns Sachs ficou fascinado com Sigmund Freud. Ele começou a visitá-lo e em 1909 ingressou na famosa Sociedade Psicológica das Quartas-feiras. Lá ele se tornou um seguidor ortodoxo das teses de Freud, até o fim de seus dias.

Hanns Sachs

Hanns Sachs: psicanálise, pedagogia e arte

Hanns Sachs também começou a fazer parte do chamado “Comitê Secreto”. Ele foi, sem dúvida, um dos discípulos mais próximos de Freud. Juntamente com Otto Rank, fundou a revista Imago e tornou-se o seu editor desde 1912. Esta revista emblemática da psicanálise procurava estender as teses de Freud a todos os campos das ciências sociais.

Em 1920, Sachs se estabeleceu em Berlim. Lá, ele começou a fazer atividades como formador de novos psicanalistas. Por suas mãos passaram incontáveis ​​aspirantes que viram nele um grande pedagogo. De fato, Erich Fromm fez a sua psicanálise didática com Hanns Sachs. Naquela época, a regulamentação deste trabalho era muito flexível. Por isso, não era incomum Sachs sair de férias com seus alunos e com os pacientes deles.

Ele sentia tanta admiração por Freud que colocou um busto dele no seu escritório, em frente ao sofá em que atendia seus pacientes. Em 1925 ele assessorou, juntamente com Karl Abraham, a escrita de um roteiro para o cinema mudo. O resultado foi a obra Os Mistérios da Alma, considerado o primeiro filme inspirado nos postulados freudianos.

Um discípulo fiel

Hanns Sachs foi convidado pela Sociedade Psicanalítica de Boston para dar algumas palestras em 1932. Ele aproveitou a situação para se estabelecer nos Estados Unidos, porque pressentia as atrocidades da ascensão gradual dos nazistas. Ele também sabia que os psicanalistas americanos suspeitavam daqueles que faziam a análise sem ser médicos. Então, ele exigiu a garantia de oito sessões por dia.

Ilustração de Freud

Embora ele nunca tenha deixado de ter contato com os psicanalistas ortodoxos, Hanns Sachs foi um dos psicanalistas emigrantes que melhor se adaptou à vida nos Estados Unidos. Ele conseguiu consolidar uma vida confortável e luxuosa.

É por isso que Freud, em uma de suas cartas, se refere a ele em termos duros, observando: “o lado vulgar que sempre esteve presente nele se tornou ainda mais nítido. Um verdadeiro novo rico, gordo, pretensioso, esnobe, enfeitiçado pelos Estados Unidos ou seduzido pelos grandes sucessos que alcançou”.

Apesar disso, a biografia carinhosa que Hanns Sachs escreveu sobre Freud mostra que ele sempre amou e admirou o seu grande professor. Da mesma forma, ele foi citado diretamente por Freud na obra Psicologia das Massas, que em outra ocasião o chamou de “o único amigo que tenho nos Estados Unidos”. Sachs morreu em 10 de janeiro de 1947 em Boston.


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  • Sachs, H. (1947). Observaciones en los análisis didácticos. Revista de psicoanálisis, 5(2), 501-512.

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