Ignorância racional: uma faca de dois gumes
Ignorância racional é um conceito cunhado pelo economista Anthony Downs em seu tratado Uma Teoria Econômica da Democracia. Refere-se aos casos em que uma pessoa decide agir sem ter todas as informações que poderia coletar sobre, por exemplo, uma decisão que deve tomar, pois o custo de aquisição desse conhecimento é superior ao benefício que ele gera.
A ignorância racional é considerada uma faca de dois gumes porque, às vezes, economiza tempo e esforço desnecessários. Não é possível, e muitas vezes não é conveniente, querer saber tudo ou ir a fundo em algum assunto que, em última análise, não tem grandes repercussões.
No entanto, também há casos em que a ignorância racional tem um custo elevado, mesmo que ele não seja percebido diretamente. Existem situações em que evitar a educação e o conhecimento tem um impacto na redução do bem-estar. O problema é que isso não é percebido dessa forma, porque essas consequências não são claramente detectáveis.
“O primeiro passo da ignorância é presumir saber, e muitos saberiam se não pensassem que sabem.”
-Baltasar Gracián-
A ignorância racional e a sua faceta útil
Existem muitos exemplos que podem ilustrar o conceito de ignorância racional, como uma decisão de compra. Se alguém quiser comprar um calçado, pode escolher várias formas de tomar a sua decisão.
A maneira mais onerosa é descobrir tudo que você precisa sobre os diferentes tipos de calçados, suas marcas, materiais, fabricação, etc. É muito difícil que, mesmo que pretenda seguir esse caminho, a pessoa consiga realmente coletar todas as informações que puder, e ela pode passar semanas, ou até meses, coletando todas as informações. No final, ela provavelmente adquirirá os sapatos mais adequados.
A questão é: levando em consideração o custo de um par de sapatos e a sua vida útil, valeu a pena investir tanto tempo e esforço na tomada de decisão? Em condições normais, a resposta é não. Nesse caso, a ignorância racional é uma boa opção. Ou seja, essa decisão requer apenas algumas informações básicas, ou talvez uma consulta a outros consumidores, sem a necessidade de se aprofundar no mundo do calçado.
O outro lado
Existem exemplos corriqueiros que podem ilustrar o outro lado da ignorância racional. Voltemos às decisões de compra, mas desta vez vamos pensar em comida.
Nesse campo, uma pessoa também pode atuar minimizando o tempo e o conhecimento alocado para a compra. No entanto, a dieta está intimamente relacionada à saúde a longo prazo. Saúde e vida são conceitos indissolúveis.
Portanto, uma pessoa pode optar por comer o que encontra no mercado, sem adquirir mais detalhes a respeito e se orientar apenas por algumas informações básicas.
O problema aqui é que, a longo prazo, essa pode ser uma decisão muito cara. Se você compra apenas produtos processados, porque eles também podem ser preparados com mais rapidez, pode estar comprometendo a sua saúde e, nesse sentido, a sua decisão está errada. Nesse caso específico, o custo de ignorar pode ser maior do que o tempo e o esforço despendidos no conhecimento.
Ignorância racional a nível coletivo
Os economistas têm aplicado o conceito de ignorância racional especialmente a nível social e, mais especificamente, no âmbito político. Quase todos os estudos a esse respeito enfocam o comportamento do eleitor. Como um único voto, na maioria dos casos, não determina o resultado de uma eleição, o eleitor médio costuma subestimar a sua importância.
Ao mesmo tempo, conhecer e compreender as propostas dos diferentes candidatos é um exercício que muitos consideram excessivo. Envolve focalizar a atenção, por um tempo considerável, em questões complexas. Significa também contrastar as diferentes propostas e escolher aquela que melhor atende às suas expectativas e interesses.
No entanto, o que um único eleitor recebe em troca é percebido como “quase nada”. Sente que o seu voto não é decisivo e, por isso, percebe como muito alto o esforço que deve fazer para adquirir conhecimentos, em comparação com o que obtém desse exercício. Portanto, a grande maioria dos eleitores opta por não se informar; se votarem, o fazem com base em dados mínimos.
Assim, concluiu-se que a ignorância racional a nível coletivo é útil em termos econômicos, mas muito onerosa em termos sociais. Como no exemplo dos alimentos, o preço é pago a longo prazo e costuma ser alto.
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- Pérez, A. R., & Comeig, I. R. (1998). Efecto de la información asimétrica sobre el riesgo y el comportamiento de las sociedades de garantía recíproca: un análisis empírico. Revista Española de Financiación y Contabilidad, 469-497.