Inteligência existencial: a grande incógnita das inteligências múltiplas
Você já ouviu falar em inteligência existencial? É uma das grandes incógnitas, pois ao longo da história trabalhamos com definições de inteligência que não a incluíam.
De acordo com o dicionário, a inteligência é ‘a capacidade de entender ou compreender ‘, ‘a capacidade de resolver problemas’, ‘capacidade, habilidade e experiência’… Definir essa construção tem sido uma questão mais complexa.
Nesse sentido, dependendo do contexto histórico e do autor, a noção de inteligência adquiriu diferentes matizes, a ponto de hoje termos uma variedade de definições. Vejamos uma das perspectivas abaixo: a de Howard Gardner.
“Não é a inteligência que importa, o que realmente conta é o tipo de inteligência que você tem.”
-Howard Gardner-
Da inteligência única às inteligências múltiplas
Por muito tempo, a inteligência foi vista como unifatorial. Por outro lado, um indicador reducionista, o quociente de inteligência, tornou-se muito popular. Isso, embora possa ser obtido seguindo diferentes caminhos, a maioria deles é reducionista ou tendencioso em seu peso para as capacidades lógicas consideradas.
Depois de analisar o conceito de inteligência associado à medição e à única forma de aprender, alguns autores optaram por um conceito de inteligência mais rico e inclusivo. Exemplos disso foram:
- Daniel Golemman. Com seus trabalhos e palestras, tornou famoso o termo inteligência emocional. Trata-se da capacidade que temos de reconhecer e gerir as nossas emoções e as dos outros.
- Roberto Sternberg. Ele falou de três tipos de inteligência: analítica, contextual e experiencial.
- Howard Gardner, criador da teoria das inteligências múltiplas. Para este autor temos diferentes inteligências, ou capacidades específicas. Estas estão relacionadas entre si e poderíamos ser mais habilidosos de acordo com nossas capacidades.
Howard Gardner e a inteligência existencial
Howard Gardner é um renomado psicólogo que trabalhou durante anos na Universidade de Harvard. Seu trabalho deu origem a diferentes modelos de inteligência e, de fato, mudou a forma de ver esse construto, tendo influência nos campos educacional, social e psicológico.
Por exemplo, Gardner argumentou que a inteligência de uma pessoa dificilmente pode ser representada por um número, por mais padronizados que sejam os instrumentos de medição. Assim, ele dividiu esse construto em oito tipos de inteligência, a saber: linguística, lógico-matemática, espacial, musical, corporal, intrapessoal, interpessoal e naturalista.
Mas, especificamente, o que aconteceu com a inteligência existencial?
Inteligência existencial, do que se trata?
Gardner continuou a investigar e hesitou em incluir mais uma inteligência: a inteligência existencial. Acontece que depois do boom e do grande reconhecimento dado à teoria das inteligências múltiplas que agrupava oito inteligências, muitos se esqueceram de que a teoria continuou evoluindo.
Nesse sentido, a inteligência existencial refere-se à capacidade cognitiva que temos de perguntar e refletir sobre as grandes questões humanas, como:
- Amor.
- Vida e morte.
- O bem e o mal.
- Nossa natureza humana.
- A qualidade da existência.
Essas são questões existenciais sobre as quais a maioria de nós reflete em algum momento, alguns mais, outros menos. Assim, como nas outras inteligências, alguns de nós a desenvolvemos mais que outros.
Características da inteligência existencial
Para entender melhor do que se trata esse tipo de inteligência, apresentamos a seguir suas principais características:
- Supõe um alto nível de desenvolvimento em outros domínios cognitivos, como o raciocínio abstrato e profundo.
- Interesse por temas profundos, como a origem da vida e o propósito de nossa existência.
- Capacidade de observar a nós mesmos e aos outros de uma perspectiva profunda.
- Desinteresse em práticas sociais mundanas.
- Transcendência do físico e experiência de união com todos os elementos do universo.
- Defesa de valores universais, como paz, amor, sabedoria, bondade e verdade.
- Interesse em conhecimentos e práticas espirituais.
- Desejo de ajudar e servir os outros.
- Realizar práticas recorrentes de autocuidado e considerar o corpo como um receptáculo para a alma.
Exemplos de inteligência existencial
Da mesma forma, esse tipo de inteligência pode ser evidenciado no cotidiano por meio das seguintes situações:
- Agir com firmeza e clareza, mas sem violência, diante de qualquer ataque pessoal.
- Diante de um conflito, aprofundar nos fatos e suas possíveis soluções de uma perspectiva construtiva.
- Realizar ações solidárias, respeitosas e pacíficas, para garantir o bem da coletividade.
- Manter um profundo respeito por qualquer ser vivo, pois todos fazemos parte de uma unidade.
Abordagem à inteligência existencial
Como já dissemos, Gardner apenas levantou a possibilidade de que essa inteligência existisse, pois não tinha certeza de que havia um correlato neurológico. Ainda suscita dúvidas, mas garante que recebe mensagens de vários autores a confirmar a sua existência e a associá-la à inteligência espiritual.
Por isso, em seu livro Intelligence Reformulated: Multiple Intelligences in the 21st Century, ele defende que a definição de inteligência deve ser ampliada e dá conselhos práticos sobre sua aplicação pedagógica.
Aliás, no seu blog, Howard Gardner (2020), faz alusão à pandemia de covid-19, comentando que as nossas rotinas foram interrompidas e que surgiu a necessidade de nos protegermos a nós próprios e aos outros. Assim, tivemos mais tempo para pensar e nos questionar sobre a vida.
Estas dinâmicas surgidas após a covid-19 não são exclusivas da história da humanidade, mas fizeram com que este autor recuperasse a importância da inteligência existencial, pois passou a vê-la evidente na sua própria vida e na dos seus próximos.
Estratégias para desenvolver a inteligência existencial
Não é necessário ser filósofo, teólogo ou acadêmico para desenvolver a inteligência existencial, pois todos podemos explorá-la. Aqui estão algumas maneiras de fazer isso:
- Praticar a contemplação e a meditação para acessar um conhecimento mais profundo das coisas e de si mesmo.
- Estabelecer hábitos de autocuidado, como alimentação saudável, prática de exercícios físicos e atividades de lazer. Isso ajudará a manter seu corpo saudável e, portanto, mais forte em espírito.
- Estabelecer diálogos profundos com seu círculo íntimo, converse e discuta diversos temas, como o sentido da vida ou o sentido da morte. Para fundamentar suas respostas, podem ser lidos vários filósofos e assim se identificar com uma perspectiva geral.
- Realizar práticas solidárias em sua comunidade e promover a paz e a união entre as pessoas ao seu redor.
- Desenvolver abertura mental, para que você possa integrar outras posições e realidades em seu sistema de crenças.
Para concluir, destacamos que esse tipo de inteligência e o que ela implica pode nos ajudar a nos sentirmos mais conectados conosco e com os outros, o que sem dúvida aumenta nosso bem-estar. Então, o que você está esperando para desenvolver essa inteligência?
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