Interocepção: muito além dos 5 sentidos

Interocepção: muito além dos 5 sentidos
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 16 fevereiro, 2022

A interocepção é a capacidade de reconhecer os estímulos e sensações que nosso corpo nos envia. A arte de habitar e compreender este belo envoltório físico cheio de conexões, receptores, células e delicados tecidos. Ele nos envia as mais variadas mensagens, aquelas que nem sempre ouvimos. No entanto, práticas como o mindfulness podem nos ajudar a fazer isso.

Há quem diga que, no fundo, devemos agradecer por não ter este sentido tão bem desenvolvido ou perfeitamente afinado. Não pode ser prazeroso para ninguém ouvir como um leucócito enfrenta um agente infeccioso, como nossos sucos gástricos são liberados ou como é o som de um neurônio quando ele morre, por exemplo.

Entender o sentido da interocepção, dos sinais que nosso organismo nos envia, nos ajuda a agir de forma saudável.

No entanto, cabe dizer que não é preciso chegar a extremos para apreciar o que a interocepção nos proporciona. Assim, e apenas como exemplo, algo que ficou demonstrado em 2011, graças a um estudo realizado pelo psicólogo Hirokata Fukushima, é que esta função está intimamente relacionada com a empatia.

Quando nos conectamos com alguém para entender suas emoções, necessidades ou preocupações, nosso organismo reage de um modo particular.

Os estados afetivos alheios são como estímulos aos quais quase nunca somos indiferentes. O cérebro e o coração reagem, e às vezes inclusive a pele.

Compreender de um modo mais profundo os mistérios da função interoceptiva nos permitirá saber um pouco mais sobre como o corpo e a mente se relacionam. Ainda assim, e não menos importante, nos ajudaria também a cuidar melhor de nossa saúde. Entenderíamos esses indicadores que, às vezes, nos avisam que algo não vai bem dentro de nós.

Pintura de mulher

A interocepção em nossa vida diária

As pessoas dedicam uma boa parte de seu tempo ao autocuidado. Atendem a sua higiene, se alimentam de forma balanceada, fazem exercício, gostam de mostrar uma boa aparência, escolhem roupas de acordo com seu estilo, se penteiam, se maquiam, cuidam da pele e procuram ter um descanso noturno reparador.

Por mais curioso que pareça, há algo que deixamos passar despercebido nessa rotina: escutar ao nosso próprio corpo. Nós descuidamos do que ele nos diz quando nos envia, por exemplo, uma mensagem de dor. Tensão acumulada na nuca, uma dor de cabeça que martela nossa testa de forma insistente, etc. Nossa mente está estressada e todo o organismo reage diante dessa emoção desestabilizadora. No entanto, não damos a ele a atenção que merece.

Os atletas costumam ter o sentido da interocepção bem desenvolvido. Os bons atletas são capazes de discernir quando uma sensação física é normal ou patológica. Eles sabem quando a dor em um dos joelhos pode ser por uma simples sobrecarga ou indício de dano muscular.

Às vezes, são capazes de negociar com a dor durante horas para chegar à meta ou dar o melhor de si mesmos ao longo de uma partida. A conexão mente-corpo apresenta uma aliança eficaz para melhorar nosso rendimento quando precisamos.

Mulher correndo na praia

A interocepção e o córtex insular

A interocepção já foi muito estudada no âmbito da psicologia das emoções, aprendizado e biofeedback. Assim, nos últimos anos é comum encontrarmos a novos trabalhos para nos aprofundarmos mais neste tema. Um sentido tão especial e, ao mesmo tempo, importante do ser humano.

Um aspecto que é interessante ter em conta é que processos básicos como a sede, a fome, o sono ou a sensação de frio ou calor são mensagens que nosso sentir de interocepção nos envia. São mecanismos que garantem nossa sobrevivência e dos quais devemos ser conscientes. Outros, em contrapartida, são mais sutis e passam despercebidos.

Se nos perguntarmos qual estrutura do cérebro regula estes processos, podemos nos referir a um trabalho publicado em 2012. É o córtex insular, uma área muito profunda localizada na superfície lateral do cérebro. Ela regula processos como a consciência de nossas emoções e as sensações corporais.

O córtex insular é um centro de controle. Nele, fica em evidência a união sempre interessante e desconhecida entre a mente e o corpo…

Mulher meditando

Mindfulness e interocepção

Um modo de tomar consciência de nosso sentido de interocepção é através do mindfulness. 

Esta prática baseada na meditação e na atenção plena nos permite conectar com nossas sensações físicas. Assim, podemos nos relacionar muito melhor com o próprio ser e entender nossa mente. Além disso, também compreendemos nossas necessidades e a forma como o entorno e seus processos impactam o organismo.

Ser capaz de ouvir e discernir cada um dos sinais do corpo é investir em saúde e qualidade de vida. Gerenciaríamos muito melhor o estresse e anteciparíamos indicadores de possíveis doenças (como a hipertensão). Além disso, poderíamos ser mais produtivos ao conhecer nossos limites.

Seríamos conscientes de que não somos máquinas, mas sim um maravilhoso sistema delicado, formado por células, tecidos e emoções…


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