Jean Laplanche, a precisão na psicanálise

Jean Laplanche escreveu, juntamente com Jean-Bertrand Pontalis, a obra mais precisa e completa já produzida sobre o vocabulário da psicanálise. Além disso, traduziu para o espanhol grande parte da obra de Freud. É reconhecido como um dos grandes expoentes dessa escola.
Jean Laplanche, a precisão na psicanálise
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 23 outubro, 2019

Jean Laplanche foi um dos nomes mais reconhecidos da psicanálise do século XX. Seu nome está associado principalmente à obra Vocabulário da Psicanálise , produzida na companhia de Jean-Bertrand Pontalis em 1967.

Esta obra se tornou fundamental para essa escola de pensamento. Atualmente, é uma referência obrigatória para a compreensão da obra de Freud e de seus desenvolvimentos subsequentes.

Jean Laplanche também é conhecido por ter desenvolvido uma obra que pretendia ser fiel aos principais conceitos do pensamento freudiano, embora isso não o tenha impedido de expandir vários aspectos centrais da sua teoria. Em particular, a teoria da sedução e elementos-chave da teoria do desenvolvimento psicossexual.

 “Não se pode retornar a Freud sem fazê-lo sofrer (…) um determinado trabalho: trabalho sobre a obra e (…) trabalho que coloca a obra em questão”.
-Jean Laplanche-

Uma de suas principais obras foi Novos Fundamentos para a Psicanálise, publicada em 1987. Nela, procura separar a psicanálise de outras disciplinas às quais esta estava vinculada, à frente das múltiplas interpretações de diferentes autores.

Em particular, a separa da biologia, da linguística e da antropologia.

Os enigmas da mente

Infância e os primeiros anos da juventude de Jean Laplanche

Jean Laplanche nasceu em Paris em 21 de junho de 1924. Seu pai era originário de Borgonha e sua mãe de Champagne. Sua família se dedicava ao cultivo de vinhedos e à produção de vinho. Por isso, desde muito jovem, viveu em um ambiente campestre na cidade de Beaune.

Já em sua juventude, engajou-se na Ação Católica, uma organização de cunho esquerdista que buscava a justiça social. Em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, fez parte da resistência francesa. Movimentava-se de um lugar a outro transmitindo mensagens secretas.

Com o fim da guerra, fundou um grupo chamado Socialismo ou Barbárie, juntamente com Cornelius Castoriadis e Claude Lefort. O grupo começou a desenvolver uma revista homônima na qual fazia uma crítica radical a Stalin e às posturas totalitárias da esquerda.

Na realidade, ele nunca deixou de ser um militante político, sendo lembrado também por sua participação ativa no famoso maio francês de 1968.

Um formação de primeira

Durante os anos 40, Jean Laplanche se formou na conhecida Escola Normal Superior de Paris, uma das mais prestigiadas do mundo na área da filosofia. Lá, teve como companheiro Michel Foucault. Naqueles anos, foi aluno de eminências como Gaston Bachelard, Jean Hyppolite e Maurice Merleau-Ponty.

Formou-se em Filosofia em 1950; nesse momento, entrou em contato com Rudolph Lowenstein. Posteriormente, conseguiu completar sua formação acadêmica na Universidade de Harvard durante um ano.

Nessa fase, seu interesse pela psicanálise estava aumentando a ponto de psicanalisar-se com Jacques Lacan em seu retorno à Europa. Lacan o aconselhou a estudar medicina e Jean Laplanche aceitou a sugestão.

Mais tarde, atuou como estagiário em vários hospitais psiquiátricos de Paris. Apresentou sua tese de Medicina em 1959, intitulada Holderlin e o problema do pai.

Também ingressou na Sociedade Internacional de Psicanálise e, em 1961, começou a trabalhar como professor na Universidade Paris-Sorbonne.

As engrenagens da mente humana

O caminho de Jean Laplanche na psicanálise

Jean Laplanche trabalhou ao lado de Jacques Lacan em seu famoso retorno a Freud. No entanto, em 1964 afastou-se definitivamente do modelo lacaniano.

Para ele, haviam começado um retorno a Freud, mas acabaram construindo um único caminho para Lacan. Juntamente com outros psicanalistas que se identificavam com sua posição, fundou a Associação Psicanalítica de Paris.

Posteriormente, tornou-se diretor do Centro de Pesquisa em Psicanálise e Psicopatologia da Universidade Paris VII.

Seu interesse pela psicanálise não diminuiu e, assim, fundou a revista Psicanálise na Universidade. Ele queria permanecer fiel aos conceitos de Freud, mas jamais abandonou a posição crítica em relação aos mesmos. Considerava que o enfoque do pai da psicanálise era excessivamente biológico.

Afastando-se de Lacan e também de Freud, Laplanche propôs sua teoria da sedução generalizada. A partir dessa teoria, também propôs uma interpretação diferente do processo psicanalítico e de cura.

Entre 1970 e 1994, realizou vários seminários que mais tarde foram compilados na obra Problemáticas, traduzida para vários idiomas.

Jean Laplanche visitou a América Latina em três oportunidades e deixou uma importante marca nos psicanalistas dessa região. Este homem estudioso, disciplinado e com um senso de humor requintado morreu em 2012 na cidade em que viveu durante sua infância.

Curiosamente, morreu em 6 de maio, data em que é comemorado o aniversário do nascimento de Freud.


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  • San Miguel, M. (2004). El psicoanálisis: una teoría sin género. Masculinidad/feminidad en la obra de Sigmund Freud. La revisión de Jean Laplanche. Universidad Pontificia comillas de Madrid. Revista de Psicoanálisis, (6).

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