Mark Twain: a biografia do “pai” da literatura norte-americana

Mark Twain retratou com inteligência e acertadamente as diferenças sociais que caracterizavam a intensa América do Norte do final do século XIX. 
Mark Twain: a biografia do “pai” da literatura norte-americana
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

William Faulkner definiu Mark Twain como o “pai” da literatura americana, e por isso, hoje vamos falar sobre a sua biografia.

Em sua época, os jornais viam Samuel Langhorne Clemens como um filósofo, um intelectual com ares de aventureiro, escrita ácida e muito inteligente, capaz de nos presentear personagens inesquecíveis, como Tom Sawyer, ou seu melhor amigo, Huckleberry Finn.

Não temos medo de dizer que se o Reino Unido teve Dickens, nos Estados Unidos a literatura e o jornalismo foram iluminados por uma figura similar. Mark Twain mostrou em sua escrita a mesma maestria e originalidade literária.

Além disso, sempre teve grandes dotes como orador e humorista, levando a cultura americana a uma época de ouro difícil de esquecer.

Ernest Hemingway chegou a dizer, inclusive, que a literatura norte-americana começou e terminou com ele. Fica claro que esta é uma opinião um pouco exagerada, pois temos também Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne e Herman Melville.

No entanto, houve algo que diferenciou Mark Twain primorosamente. Ninguém descreveu tão bem o caráter social, as desigualdades e o retrato da sociedade americana da época. Sua linguagem não era refinada, não emanava a essência dos escritores da costa leste.

Twain era um aventureiro das terras de Missouri e exibia a simplicidade e a pureza das pessoas humildes dos estados do sul, onde habitavam a escravidão, a necessidade e a mais elevada perspicácia.

 “Nenhum ser humano se sente bem sem a sua própria aprovação”.
-Mark Twain-

Samuel, um aventureiro do Mississipi

Desenho de barco antigo

A biografia de Mark Twain, ou de Samuel Langhorne Clemens, tem início com o seu nascimento em 30 de novembro de 1835, em Missouri. Passou a utilizar o pseudônimo de Mark Twain a partir de 1862, para escrever seus livros após vários anos trabalhando como piloto de barco de vapor fluvial.

Sua infância e todas as complexas vivências experimentadas nessa primeira juventude marcaram, como era de se esperar, grande parte de suas histórias e do seu caráter atento, aventureiro e fortemente crítico.

Entre as histórias que mais marcaram sua vida, há o fato de ter nascido exatamente quando o cometa Halley se aproximava da Terra. No entanto, o que determinou grande parte de seus primeiros anos foram, sem dúvida, as necessidades financeiras da sua família.

Não pôde terminar a escola, de maneira que desde bem cedo começou a trabalhar como tipógrafo e, mais tarde, como piloto fluvial.

Após o início da Guerra Civil (1861-1865), Samuel deixou o emprego e decidiu ir para Nevada em busca de ouro. Seu irmão havia sido nomeado secretário do governador desse estado. Assim, não hesitou em passar alguns anos conhecendo aquelas terras.

Tentou ficar rico (sem sucesso), conviveu com povos mórmons, trabalhou como jornalista para o Territorial Enterprise e, mais tarde, embarcou outra vez rumo a novas viagens. Dessa vez, andou pela Europa até chegar ao Oriente Médio.

O nascimento de Mark Twain

Mark Twain quando jovem

Samuel Langhorne Clemens deu lugar a Mark Twain após a publicação de um conto:  A célebre rã saltadora do Condado de Calaveras. O sucesso obtido com essa obra marcou um antes e um depois em sua vida. Então, após esse reconhecimento literário, vieram:

  • Guia para viajantes inocentes (1869)
  • Inocentes no estrangeiro (1882)
  • O príncipe e o mendigo (1882)
  • Um ianque na corte do Rei Arthur (1889)…

Todos esses títulos são meros exemplos da capacidade criativa e originalidade de uma figura que estava construindo para si um lugar próprio na sociedade cultural americana da época.

Nessa altura, já havia se casado com Olivia Langdon e perdido sua primeira filha, Susy, que faleceu de difteria aos dois anos.

Aquela perda o levou a sentir uma especial proximidade com o mundo infantil e juvenil. Foi em 1876 que lançou seu livro característico: Tom Sawyer. Mais tarde veio Hucleberry Finn.

Estes são dois tesouros literários que continham em suas páginas muito mais do que as simples aventuras de um garoto durante os dias prévios à Guerra Civil.

Mark Twain dissecou em detalhes (por meio de um estilo cômico e ácido) a essência dos Estados Unidos da época, onde eram muito presentes o racismo, a fome, as diferenças sociais e a crueldade humana.

As histórias estavam inscritas em um cenário amplamente familiar para Samuel: a costa do Mississipi, onde habitavam os personagens mais heterogêneos, as criaturas mais geniais…

A deriva pessoal e o reconhecimento na biografia de Mark Twain

Ilustração de Hucleberry Finn

Mark Twain foi uma das figuras mais comprometidas da época com os direitos humanos. Foi um firme partidário do abolicionismo e defendeu, por sua vez, a necessidade de justiça e respeito por outras comunidades étnicas e a emancipação da mulher.

Ele também fez um dos discursos mais famosos da época ao defender o voto feminino.

Ao mesmo tempo, Mark Twain ficou impressionado com a ativista política e surdo-cega Hellen Keller, e sempre se preocupou com o seu bem-estar. Ele chegou, inclusive, a pagar pela sua formação.

No entanto, o caráter aventureiro e arriscado do velho Samuel L. Clemens nunca o abandonou. Isso acabou fazendo com que enfrentasse dificuldades financeiras no final da sua vida. Foi um péssimo investidor e conseguiu sobreviver com dificuldade dando palestras.

Seus últimos anos foram marcados pelo sofrimento. Perdeu a esposa e os filhos. Dizer adeus àqueles a quem amou tirou um pouco do brio e da genialidade de seus livros.

No entanto, a Universidade de Oxford lhe concedeu um doutorado Honoris Causa por seu talento. Um reconhecimento pelo seu estilo e legado literário que continuamos apreciando até hoje.


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  • Lauber, John (1990). The Inventions of Mark Twain: a Biography (en inglés). Nueva York: Hill and Wang
  • Ledermann, W. (2013). Memorias literarias de la difteria: Mark Twain, WG Sebald y el síndrome de Stendhal. Revista chilena de infectología30(1), 98-102
  • Loving, Jerome (2010). Mark Twain: the adventures of Samuel L. Clemens. University of California Press

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