A influência da microbiota nos vícios

Você sabia que o nosso intestino tem o seu próprio sistema nervoso que se comunica com o cérebro? Por esse motivo, os pesquisadores consideram a relação dos microrganismos intestinais com certas patologias, como os vícios.
A influência da microbiota nos vícios
María Vélez

Escrito e verificado por a psicóloga María Vélez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Os vícios são um tipo de distúrbio muito difícil de tratar devido à multiplicidade de fatores que os influenciam. Portanto, as pesquisas sobre os seus mecanismos e possíveis tratamentos não param. Hoje, sabe-se muito sobre os mecanismos que os produzem, mas resultados interessantes que podem ser muito relevantes, como o papel da microbiota na abstinência no combate aos vícios, continuam aparecendo.

A microbiota é o conjunto de micróbios encontrados na boca, vagina, pele e intestinos. Esse ecossistema corporal já foi relacionado a outras patologias, como autismo, Parkinson, ansiedade e esquizofrenia. Aparentemente, também contribui para o desenvolvimento dos vícios.

Eixo cérebro-intestino

Atualmente, sabemos que o trato digestivo tem o seu próprio sistema nervoso, o sistema nervoso entérico, que é composto por mais de 500 milhões de neurônios. Assim, ele se comunica com o sistema nervoso central (SNC), contribuindo para o funcionamento e o equilíbrio do cérebro.

A comunicação entre esses dois sistemas é dinâmica e bidirecional, de modo que a microbiota pode modificar a atividade neural do cérebro e vice-versa. No entanto, a influência não é direta, uma vez que o cérebro é protegido pela barreira hematoencefálica. Assim, os neurotransmissores intestinais atuariam através das células da parede intestinal, fazendo com que elas se comuniquem com o SNC.

Nesse sentido, verificou-se que o sistema nervoso entérico é capaz de produzir grande parte dos neurotransmissores que possuímos, como a dopamina, GABA e serotonina.

A influencia da microbiota nos vícios

Os vícios e a microbiota

A dependência de substâncias ocorre porque elas ativam o centro de recompensa do cérebro, estimulando a secreção de neurotransmissores, especialmente a dopamina. Isso produz uma sensação muito agradável à qual o cérebro se acostuma rapidamente, exigindo mais e mais doses ou quantidades.

Como indicado anteriormente, sabe-se atualmente que o sistema nervoso entérico também produz neurotransmissores como a dopamina e que, quando a microbiota não está equilibrada, está relacionada ao aparecimento de patologias. Isso despertou o interesse pela relação entre a microbiota e os vícios, com resultados muito impressionantes.

Microbiota e alcoolismo

Em 2014, foi publicado um estudo analisando a relação das bactérias intestinais e a dependência de álcool. Nele, foi analisado se havia alteração na permeabilidade intestinal e na microbiota de pessoas que sofrem de alcoolismo, e se isso estava relacionado aos sintomas de dependência.

Dessa forma, descobriu-se que aquelas pessoas que desenvolveram a síndrome do intestino permeável, que provoca uma permeabilidade intestinal aumentada, apresentavam níveis mais altos de ansiedade e uma síndrome de abstinência mais intensa.

Além disso, tanto a composição da microbiota quanto a sua atividade foram alteradas. Os pesquisadores concluíram que, na dependência do álcool, a microbiota desempenha um papel importante, especialmente no risco de recaída.

Mulher sentindo ansiedade

Vício em comida

A relação entre dependência alimentar e microbiota também foi investigada através da análise das fezes de pessoas saudáveis, seu IMC e imagens cerebrais. Para isso, os pesquisadores se concentraram nos metabólitos, que são produzidos devido à degradação do triptofano, um aminoácido presente em muitos alimentos e que, após a sua decomposição, se transforma em serotonina e, portanto, influencia o humor e o comportamento.

Este processo tem duas implicações. Por um lado, o triptofano, uma vez decomposto pelas bactérias intestinais, é eliminado pelas fezes. Por outro, na degradação, o triptofano se transforma em indol, um metabólito envolvido no eixo intestino-cérebro.

Assim, os pesquisadores perceberam que o indol estava relacionado a um maior grau de obesidade e a uma ingestão alimentar mais descontrolada. Isto ocorre devido à sua ação no sistema de recompensa, especificamente com circuitos relacionados à amígdala cerebral.

Novos tratamentos

Essas descobertas fornecem uma perspectiva diferente sobre os vícios, bem como novos tratamentos possíveis. Restaurar o equilíbrio da flora intestinal pode aliviar alguns dos principais aspectos dos vícios?

Alguns pesquisadores propõem, por exemplo, intervir nos hormônios intestinais. Outros, em vez disso, propõem tratamentos que, apesar de simples e usados ​​na medicina chinesa, podem ser muito impressionantes.

É o caso do transplante da microbiota fecal. Este procedimento consistiria basicamente em um transplante de fezes, pelo qual microrganismos de um doador saudável seriam administrados no intestino de um paciente receptor.

Até agora, a eficácia desse tratamento foi comprovada apenas na colite recorrente, portanto a sua aplicação em outras patologias é, no momento, somente uma ideia. No entanto, o papel da microbiota nos vícios e outras doenças continua sendo investigado na esperança de encontrar novas formas de tratamento.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.