Moonwalking: quando te criticam e culpam a sua reação

A pessoa te faz uma crítica destrutiva, te deixa reagir e depois ridiculariza a sua reação, te acusando de supervalorizar o que foi dito. Isso soa familiar para você? Essa forma de abuso tem um nome e sérias consequências psicológicas.
Moonwalking: quando te criticam e culpam a sua reação
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 dezembro, 2021

Moonwalking é uma sofisticada e eficaz técnica de abuso psicológico que tem o mesmo objetivo do gaslighting , ou seja, desgastar o outro. É um comportamento que consiste em criticar o outro membro do casal, fazê-lo perder a calma e depois acusá-lo ou ridicularizá-lo pela reação. É um golpe emocional que instiga uma resposta da outra pessoa para, então, menosprezá-la.

Sem dúvida, os terapeutas e psicólogos que mais investigaram os efeitos da crítica nas relações afetivas foram John e Julie Gottman. Suas pesquisas não censuram o direito de reclamar do outro. Porém, quando isso se expressa de forma acusatória e com o desejo de prejudicar o outro, a reclamação se torna uma crítica.

Geralmente, existe uma personalidade abusiva por trás da pessoa que constantemente recorre à crítica e tece uma teia com a qual aprisiona o casal na confusão e no sofrimento. O primo-irmão da crítica é o desprezo, e geralmente as duas posturas aparecem juntas, formando um recurso eficaz de abuso.

Vamos, portanto, saber mais sobre esse impressionante mecanismo de abuso mental.

Discussões do casal

O que mais sabemos sobre o Moonwalking?

É verdade que temos usado, nos últimos anos, termos anglo-saxões para categorizar comportamentos. Quando falamos de moonwalking , é importante lembrar que a psicóloga e escritora Viky Stark, uma especialista em relacionamentos, cunhou esse termo no ano passado em um artigo na Psychology Today.

Ele usou essa palavra em referência à famosa dança de Michael Jackson em que o dançarino dá alguns passos para frente e se desloca para trás. De certa forma, os agressores psicológicos praticam isso emocionalmente. Primeiro, criticam a pessoa parceira (indo em frente), depois aguardam uma reação e, finalmente, subestimam o que foi dito e humilham a outra pessoa (indo para trás) .

Em muitos casos, essa manipulação psicológica surge na brincadeira, naquele sarcasmo nocivo que rompe a autoestima da outra pessoa. Um exemplo disso seria dizer à outra pessoa que ela é tão desajeitada que parece uma criança de seis anos. Depois disso, vendo a sua reação, quem manipula acusa a outra pessoa de estar fazendo uma “tempestade em copo d’água”.

Moonwalking é uma forma de usar críticas que façam a outra pessoa se sentir rejeitada, magoada e menosprezada. A seguir, veremos os mecanismos por trás disso.

Os recursos do moonwalking

De vez em quando, em todo relacionamento, surgem desentendimentos, conflitos e divergências. Entretanto, tudo isso faz parte do ambiente normal e até saudável de uma relação, pois podemos aprender com essas situações. Além disso, muitos até se fortalecem ao se conhecerem melhor e ao adquirirem novas habilidades e recursos para avançar juntos.

Entretanto, quem pratica o moonwalking não deseja avanços para o casal. Essas pessoas buscam criar ambientes emocionalmente desgastantes para enfraquecer o outro e mantê-lo sob controle. É um jogo de forças que utiliza recursos psicológicos muito sofisticados:

  • Primeiro, a pessoa abusiva lança críticas muito específicas sobre a outra pessoa e em dimensões que intencionalmente causarão dor. Se a outra parte do casal está trabalhando muito para conseguir uma promoção, a pessoa abusiva vai jogar isso na sua cara.

Depois de criticar, a pessoa abusiva espera pacientemente pela reação da outra pessoa. Aqui começa a segunda fase do moonwalking :

  • A pessoa abusiva acusa a outra de ser muito sensível e superdimensionar tudo.
  • Ela não hesita em dizer que a outra pessoa tira tudo do contexto.
  • Além disso, como já foi dito, é comum alegarem que só estavam “brincando”.
  • Também costumam alegar que estão sendo mal interpretados e que a outra pessoa tem o costume de imaginar coisas.
  • Por último, e não menos comum, há muitas pessoas abusivas que repreendem a outra com a clássica acusação de que ela está sendo paranoica.
Mulher chorando

A crítica constante afeta a nossa saúde física e psicológica

O moonwalking consiste em críticas constantes e anda de mãos dadas com o desprezo. Os efeitos dessa forma de abuso psicológico são imensos. Temos, por exemplo, estudos como os realizados na Universidade da Pensilvânia que apontam algo importante: a crítica constante é particularmente prejudicial para pessoas que já possuem transtorno de ansiedade .

Nessa situação, é muito fácil cair em estados depressivos. Pesquisas como as realizadas pelo psicólogo social Robert Alan Baron mostram que essa dinâmica afeta nossa concentração, nossa capacidade de desempenho no trabalho e até mesmo nossa motivação para nos relacionarmos com o ambiente.

O abuso tem muitas formas, linguagens, mecanismos e estratégias. Nem toda dor vem do golpe físico, da gritaria ou do insulto. Frequentemente, pessoas abusivas recorrem ao atrito, a ataques furtivos, ao desprezo camuflado de sarcasmo e às críticas que enfraquecem a nossa resistência.

Precisamos reagir a tempo, nos defendermos e nos distanciarmos daqueles que nos querem mal, daqueles que manipulam nossa autoestima e nosso equilíbrio psicológico.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Baron, R. A. (1988). Negative effects of destructive criticism: Impact on conflict, self-efficacy, and task performance. Journal of Applied Psychology, 73(2), 199–207. https://doi.org/10.1037/0021-9010.73.2.199
  • Hirschberger, Gilad & Florian, Victor & Mikulincer, Mario. (2003). Strivings for Romantic Intimacy Following Partner Complaint or Partner Criticism: A Terror Management Perspective. Journal of Social and Personal Relationships. 20. 675-687. 10.1177/02654075030205006.
  • Porter E, Chambless DL, Keefe JR. Criticism in the Romantic Relationships of Individuals With Social Anxiety. Behav Ther. 2017 Jul;48(4):517-532. doi: 10.1016/j.beth.2016.11.002. Epub 2016 Nov 11. PMID: 28577587.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.