Na verdade, o que são os complexos?

Todo mundo tem complexos. Não se trata exatamente de eliminá-los, mas sim de integrá-los à nossa identidade e controlá-los para que não nos prejudiquem.
Na verdade, o que são os complexos?
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Compreender os complexos é uma das ferramentas psicológicas necessárias para a vida. Identificar e dar sentido aos nossos complexos abre muitas portas e nos ajuda a nos entendermos, uma vez que é sobre eles que construímos a nossa personalidade.

Na maioria das vezes, eles também são “peças” soltas em nossa estrutura, já que muitos dos complexos são construídos sobre episódios ou ideias que nos marcaram. Na definição de J. Laplanche e Jean-Bertrand Pontalis, o conceito de complexo é enfatizado apontando para um “conjunto organizado de representações e memórias dotadas de intenso valor afetivo, parcial ou totalmente inconscientes”.

Como nascem os complexos?

Maçã com complexos olhando no espelho

Complexos e traumas estão intimamente ligados. Um complexo contém todos os pensamentos conscientes e inconscientes, sentimentos, memórias, sensações e, sobretudo, a autoproteção, tanto aprendida quanto inata, que têm associação com o trauma.

Entendemos como trauma uma situação que é vivenciada com sentimentos fortes e em que aparece a sensação ou percepção de ameaça que, por sua vez, deve ser explicada de forma lógica, com um fio de pensamentos.

Um comentário, uma pessoa, um lugar, um aroma, etc., que tenha sido associado à situação descrita acima, transporta-nos totalmente. Assim, ativa-se a sensação de ameaça e, por extensão, os mecanismos de defesa. Mecanismos que nos preparam para reagir diante de uma realidade subjetiva que pode ser muito diferente daquela que realmente existe.

Um dos mecanismos mais comuns é o da evitação. Uma pessoa complexada com o próprio corpo pode evitar ir à praia, ainda que ame o mar. Assim, os complexos têm seu correlato em nossos comportamentos de privação.

A teoria de Carl G. Jung

A palavra complexo foi aplicada pela primeira vez à psicologia por Carl G. Jung e popularizada pela discussão da psicanálise freudiana. Para Jung, os complexos são os “blocos de construção da personalidade “.

No fundo, todos nós temos complexos, e compreendê-los é a chave para superar os traumas que os produzem e nos superarmos a cada dia.

De acordo com Jung, toda a constelação de complexos deixa palpável um estado alterado de consciência, uma ruptura da unidade da consciência, dificultando tanto a vontade quanto a memória. Como consequência, o complexo é um fator psíquico cuja valência energética excede temporariamente a da consciência.

Um complexo ativo nos reduz momentaneamente a um estado de falta de liberdade, de pensamentos e atos obsessivos. Os complexos seriam, na verdade, de acordo com este autor, “as unidades vivas do psiquismo inconsciente, cuja existência e natureza só podemos reconhecer graças a eles”. Além disso, “se não houvesse complexos, o inconsciente não seria mais que um resíduo de ideias mortas”.

Homem pensando em seus complexos

Ter consciência dos próprios complexos para superá-los

Uma das tarefas essenciais da vida, se você quiser ser uma pessoa consciente e controlar a sua existência, é explorar os seus complexos na sua consciência. Nem sempre é possível impedir que disparem, mas é sim possível aprender a gastar menos tempo com eles.

Outra razão para entender um complexo é compreender o que está acontecendo quando outra pessoa está envolvida em um deles. Quando outra pessoa está envolvida em seu complexo, o relacionamento com essa pessoa é mais emocional.

Nas reações que temos quando interagimos com essa pessoa ou se ela está presente de alguma forma, tudo parece mais negativo, mais intenso, mais ameaçador. Você se sente na defensiva, culpado, rotulado. Tudo ao seu redor parece conspirar para evidenciar o que faz você se sentir inferior.

As pessoas complexadas geralmente são pessoas que se sentem inseguras e inferiores aos outros. Geralmente se sentem atormentadas, amarguradas, desconfortáveis e rejeitam as mudanças naturais da vida. Além disso, geralmente também têm problemas de autoestima.

Superar complexos implica necessariamente explorar dentro de si e tentar evidenciar qual é a sua origem.

Nem todos os complexos são superados da mesma forma, e em alguns casos é necessária ajuda profissional. Procurar sempre o lado positivo das coisas, valorizar as próprias virtudes e ser realista, saber o que se tem e onde chegar são algumas das formas de superar esses complexos. Além disso, é muito positivo estabelecer desafios e metas próximas e acessíveis para reforçar a autoestima.

Os complexos e as nossas expectativas

Normalmente, por trás de um complexo, esconde-se uma expectativa não realizada. A grande maioria das pessoas que sofrem de algum tipo de complexo pode até mesmo nos dizer que “a vida não é o que elas esperavam” ou que “não tenho o corpo que gostaria”.

Quando imaginamos como as coisas deveriam ser, tendemos a nos apegar a essa expectativa e, se algo não sair do jeito que queremos, sofremos. Atualmente, vivemos em uma sociedade que nos exige uma perfeição irreal. Devemos ter os melhores corpos, mais dinheiro do que qualquer outra pessoa, o melhor emprego, aparentar uma felicidade absoluta nas redes sociais… Cria-se em nós uma expectativa de perfeição impossível de alcançar. Assim, não é difícil se deixar levar por esse turbilhão atual e se sentir frustrado e complexado por não atender às expectativas impostas.

Portanto, a melhor maneira de superar os complexos é saber que cada um é da forma que é, sem nos compararmos com ninguém. Todos devemos trilhar o nosso caminho da melhor maneira possível e sermos felizes com o que temos. Sem dúvida, sempre podemos buscar algo além, porém sempre felizes com o que temos no presente.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.