Neuroética: características e desenvolvimento

Descubra o que é a neuroética, suas bases e seus principais ramos de estudo. Além disso, conheça as razões pelas quais essa disciplina tem uma enorme projeção de futuro.
Neuroética: características e desenvolvimento
Bernardo Peña Herrera

Escrito e verificado por o psicólogo Bernardo Peña Herrera.

Última atualização: 14 janeiro, 2024

A neuroética é uma disciplina que abriu caminho na comunidade científica internacional devido ao grande número de estudos e pesquisas sobre o cérebro nos últimos anos.

No entanto, pode-se falar dela como uma disciplina independente desde 2002, quando um grupo de especialistas de várias áreas e campos se reuniram para estudar as implicações éticas e sociais da pesquisa cerebral, já que a bioética clássica era considerada genérica demais.

Em 2002, a Society for Neuroscience organizou pela primeira vez uma conferência sobre a neuroética. Mas só em 2006 foi fundada a Neuroethics Society, um grupo de profissionais dedicados ao interesse das repercussões sociais, legais, políticas e éticas relacionadas à evolução da neurociência.

Como vemos, o desenvolvimento dessa disciplina é relativamente recente, mas não por isso deixa de ser curioso e interessante. A seguir, vamos analisar o trajeto percorrido pela neuroética, desde suas origens até sua situação atual, para conhecê-la de maneira mais aprofundada.

O que é a neuroética?

Surgimento da neuroética

Para compreender o surgimento da neuroética como ciência, é preciso levar em consideração a interdisciplinaridade presente na neurociência, já que ela surgiu devido à grande quantidade de disciplinas diferentes que estudavam o sistema nervoso.

Com o tempo, a necessidade de um entendimento entre essas disciplinas se tornava cada vez maior, acompanhada, por sua vez, pela preocupação com questões éticas comuns. Portanto, as questões clássicas ligadas ao funcionamento do sistema nervoso e às relações mente-cérebro estavam intimamente relacionadas.

A tudo isso, é preciso somar a grande evolução, em pouco tempo, da bioética.  Um ramo da ciência orientada, sobretudo, aos aspectos éticos relativos às ciências da vida, como a biologia ou a medicina. Isso representou um impulso motivacional para os neurocientistas, já que não desejavam ficar para trás.

Por outro lado, o progresso em paralelo da própria neurociência teve como consequência que as linhas de pesquisa científica se deslocassem na direção de temas mais relacionados com o aspecto interior do ser humano. Por exemplo, suas patologias ou suas funções cognitivas e emocionais.

Portanto, pouco a pouco foi sendo criada a necessidade de uma disciplina que se preocupasse em estabelecer os preceitos adequados para coordenar a pesquisa nesses campos. E foi assim que a neuroética surgiu.

A reunião de San Francisco no ano de 2002

As Universidades de Stanford e da Califórnia organizaram uma reunião em San Francisco (na Califórnia) no ano de 2002 que marcou o nascimento da neuroética como disciplina científica. Foi em um congresso no qual compareceram por volta de 150 neurocientistas e no qual foram estabelecidas as bases desta disciplina.

Nesse encontro, os especialistas tiverem que chegar a um acordo sobre sua definição e seu campo de estudo. O resultado foi a seguinte definição:

“O estudo das questões éticas, legais e sociais que surgem quando as descobertas científicas sobre o cérebro são levadas à prática médica, às interpretações legais e às políticas de saúde ou sociais. Essas descobertas estão ocorrendo em campos que vão desde a genética ou a imagem cerebral até o diagnóstico e o prognóstico de doenças. A neuroética deveria examinar como os médicos, os juízes e advogados, os executivos de companhias de seguros e os políticos, assim como a sociedade em geral, lidam com todos esses resultados”.

No entanto, embora a neuroética desse seus primeiros passos, ainda restavam muitos aspectos para serem especificados e definidos. Um exemplo é o fato de que praticamente todo o foco da disciplina se referia quase exclusivamente às doenças do sistema nervoso.

Além disso, outro problema era a escassa atenção que se dava à prevenção e ao aspecto funcional do sistema nervoso, em claro detrimento de ciências como a psicologia. Como vemos, ainda há um longo caminho a percorrer para obter uma visão mais ampla e sintetizadora dessa disciplina.

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Características e desenvolvimento da neuroética

O desenvolvimento da neuroética e suas características é um reflexo da evolução de quatro grandes áreas de trabalho:

  • A ciência neural e o eu: trata de temas como a relação da neurociência com a liberdade e a responsabilidade humanas. Além disso, estuda as bases biológicas da personalidade, do comportamento e das emoções.
  • A ciência neural e as práticas sociais: nesse caso, a pesquisa se centra nas patologias sociais, tratando, além disso, dos processos de aprendizagem e memória, assim como temas referentes à responsabilidade pessoal e criminal, o que leva a se aproximar de alguns aspectos da neuropsiquiatria forense.
  • Ética e prática das neurociências: preocupa-se com a ética aplicada à prática clínica, abrangendo aspectos como a neurocirurgia, os psicofármacos, a terapia genética, as próteses neurais, etc. Além disso, tenta orientar tanto a pesquisa quanto a aproximação terapêutica às patologias nervosas.
  • Neurociência e discurso público: refere-se às relações das neurociências com a formação acadêmica de pesquisadores, assim como a aspectos relacionados com a divulgação, sem esquecer a relação com os meios sociais.

Portanto, a neuroética se define como uma ciência multidisciplinar jovem, com uma grande projeção e com objetivos de trabalho estabelecidos a longo prazo. É, e será, um fecundo campo de pesquisa. Afinal de contas, versa sobre o mais puramente humano.


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