Neurônios de von Economo: funções e características
Os neurônios de Von Economo (ou neurônios fusiformes) estão presentes apenas no cérebro de humanos, bonobos, chimpanzés e gorilas, assim como no das baleias e dos elefantes. Santiago Ramón y Cajal os definiu como células fusiformes gigantes, e uma das estruturas mais interessantes do encéfalo. Esses neurônios estão relacionados ao comportamento social ou ao senso de si.
A maioria das pessoas já ouviu falar das células-espelho. No entanto, curiosamente, os neurônios de von Economo não são tão conhecidos, apesar da sua inegável importância em nosso comportamento. Por exemplo, eles nos ajudam a tomar decisões, moldar nossa identidade, construir o tecido da consciência e até daquele sentido excepcional chamado de intuição.
É impressionante saber, por exemplo, que dos 100 bilhões de neurônios que nosso cérebro possui, apenas trezentos mil, aproximadamente, são neurônios de von Economo. No entanto, eles são até três vezes maiores. Por outro lado, é válido destacar que boa parte desses dados foi descoberta nas últimas décadas, graças aos avanços nas técnicas de ressonância magnética funcional.
Além disso, os neurologistas afirmam que a linhagem dessa célula tão singular teve origem há 15 milhões de anos com um ancestral comum dos hominídeos: o Dryopithecus. Outra informação interessante é que essas células aparecem no cérebro humano quando o feto completa 36 semanas de gestação .
Nos últimos anos, os neurônios de von Economo ganharam maior relevância na área da psicologia cognitiva e da neuropsiquiatria, porque são encontrados apenas em animais com comportamentos cognitivos e sociais superiores.
Neurônios de von Economo: o que são e onde estão
A primeira descrição que temos dos neurônios de von Economo data de 1925. Foi o psiquiatra e neurologista austríaco Constantin von Economo que os introduziu no mundo científico com seu trabalho A citoarquitetura do córtex do ser humano adulto. Ele os descreveu como neurônios alongados em forma de fuso (fusiformes), com quatro vezes o tamanho de uma célula piramidal (podendo medir entre 70 e 100 µm).
Mais tarde, o Dr. Von Economo publicou um novo estudo fornecendo mais dados. Ele especificou que se tratava de uma nova célula, não descrita até o momento. Essa célula não correspondia a nenhum tipo de patologia, era especializada e estava localizada no giro insular.
Por mais surpreendente que essa descoberta possa parecer, é importante destacar que ela não foi considerada de grande importância. De fato, foi apenas no século XXI que a neurociência , a psicologia e a psiquiatria passaram a dar atenção a ela. O motivo? Essas células só aparecem em animais com funções cognitivas e sociais superiores.
Características e localização das células de von Economo
Os neurologistas John M. Allman e Nicole A. Tetreault, da Universidade da Califórnia (Estados Unidos), realizaram um estudo em 2011 para fornecer novos dados sobre as células fusiformes ou neurônios de von Economo.
- Sabemos que são grandes neurônios bipolares localizados no córtex fronto-insular e na área límbica anterior.
- A bióloga Karli Watson, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (CALTECH), descreveu sua fina arquitetura em 2005. Essas células são formadas por dendritos basais e apicais com arborização simples e espinhas dendríticas reduzidas.
- Aparecem apenas em grandes símios e nos humanos, mas não em outros primatas. Também aparecem em outros animais com comportamentos sociais complexos, como as baleias e os elefantes.
- São células de projeção e possuem receptores para vasopressina, dopamina e serotonina.
- Como afirmamos no início deste artigo, esse tipo de neurônio aparece nos fetos a partir da 36ª semana de gestação. Entretanto, seu maior desenvolvimento ocorre nos primeiros oito meses após o nascimento, acumulando-se em maior grau no hemisfério direito.
Funções dos neurônios de von Economo
O fato de os neurônios de von Economo ou fusiformes aparecerem apenas em humanos e animais com processos sociais mais complexos nos dá uma pista da sua relevância. Especula-se, por exemplo, que sejam característicos de cérebros maiores, com funções executivas mais complexas e que, além disso, podem ser a chave para entender, entre outras coisas, a evolução da espécie humana e o surgimento dessa entidade que chamamos de “mente”.
Processos de intuição e tomada de decisões
Um estudo da Universidade de Iowa (Allman, Watson, Tetreault e Hakim, 2005) demonstrou que o cérebro responde a informações e toma decisões em um ritmo mais rápido do que a nossa consciência consegue processar. Desse modo, dimensões, como o que chamamos de “intuição” ou meros “palpites”, na verdade responderiam a um processamento neural muito complexo.
Por exemplo, foi possível descobrir que os neurônios de Von Economo são cruciais para fazer julgamentos rápidos baseados simplesmente na nossa intuição.
Senso de si
Os neurônios de Von Economo muitas vezes são definidos como os condutores do nosso cérebro. Graças a eles, todo esse universo neural extremamente complexo fica em harmonia, supervisionando processos, direcionando pensamentos e nos ajudando a nos concentrar. Dessa maneira, ao longo dos anos, integra nosso senso de si, bem como a nossa própria consciência.
Emoções e empatia
Se há uma coisa que sabemos sobre os neurônios fusiformes é que eles são muito grandes em comparação com o resto. Isso permite que se espalhem para muitas áreas do cérebro. Tanto que foi descoberto que eles são essenciais no processamento emocional e que a ínsula também contém um grande número de neurônios de von Economo.
Isso significa várias coisas. A primeira é que favorece a atribuição de uma impressão emocional a cada coisa que vemos. A segunda é que faz a mediação da empatia com aquelas emoções mais “sociais”, como a vergonha, o amor, a confiança e o ressentimento.
Os neurônios de von Economo e os transtornos
O desenvolvimento anormal dos neurônios fusiformes está vinculado ao aparecimento de vários transtornos. Dessa maneira, os comportamentos psicóticos, caracterizados por distorções da realidade, são um exemplo claro. Por outro lado, os transtornos do pensamento, da linguagem e dos comportamentos – nos quais também estão incluídos a ansiedade social ou o desejo de isolamento – teriam sua origem nesse fator.
Além disso, é importante saber que pessoas com Alzheimer, esquizofrenia ou que têm um transtorno do espectro autista, por sua vez, apresentam uma degeneração desse tipo de neurônio. Um dado particularmente notório é que também foi constatado que pessoas com tendências suicidas, em contrapartida, apresentam um número maior desses neurônios.
Como podemos ver, são informações de grande relevância e implicação. A neurociência continua abrindo caminho para nos dar respostas e novas maneiras de tratar e intervir em muitos desses transtornos e situações. Continuaremos atentos a mais informações sobre esses neurônios que, de alguma forma, definem o que nos torna mais humanos e, por sua vez, seres incrivelmente complexos.
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- Allman, JM, Watson, KK, Tetreault, NA, y Hakeem, AY (2005, agosto). Intuición y autismo: un posible papel para las neuronas de Von Economo. Tendencias en las ciencias cognitivas . https://doi.org/10.1016/j.tics.2005.06.008
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