A neurociência da desconfiança

Segundo especialistas, vivemos em uma cultura de desconfiança. As pessoas não confiam tanto nas instituições, nas informações que recebem e até nos demais. Tudo isso se manifesta em um tipo muito específico de estresse cerebral.
A neurociência da desconfiança
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

A neurociência da desconfiança indica que o cérebro é capaz de detectar perigos e estímulos ameaçadores. Inclusive, esse mecanismo evoluiu um pouco mais nos últimos anos. Determinados fenômenos, como as fake news, por exemplo, estão consolidando o que já é conhecido como a cultura da desconfiança.

É verdade que as pessoas estão cada vez mais desconfiadas? Sim, é possível, embora isso não tenha benefícios. É fato que as pessoas precisam andar com os pés bem plantados no chão e usar filtros para separar as verdades das mentiras. No entanto, nada é tão triste quanto a falta de confiança, porque ela cria distâncias entre as pessoas. A desconfiança faz você duvidar das suas instituições e até alimenta teorias da conspiração.

Além disso, o sentimento de desconfiança prejudica a sua saúde psicológica. Essa é uma realidade da qual pouco se fala. Embora o cérebro humano tenha mecanismos para detectar riscos e ameaças, sua verdadeira prioridade é a conexão social. Os seres humanos são criaturas gregárias; precisam se agrupar para sobreviver, se relacionar, se emocionar, compartilhar, ser e construir.

A desconfiança causa estresse e também ergue muros contra a conexão. Os seres humanos são capazes das melhores coisas quando trabalham juntos, mas somente quando são capazes de combinar sinergias e a confiança comum para avançar.

Em que consiste a neurociência da desconfiança?

Em que consiste a neurociência da desconfiança?

Para que você entenda em que consiste a neurociência da desconfiança, daremos vários exemplos. Quem nunca caiu na armadilha das fake news pelo menos uma vez? Alguém envia uma notícia e você lê. Por causar surpresa, você a considera válida e compartilha com outras pessoas. Então, você descobre que ela é falsa e isso o faz se sentir ingênuo, o que realmente o incomoda.

Se isso acontecer com você mais vezes, algo muda. Você se torna cético e menos receptivo. Isso ocorre porque, dentro do seu cérebro, algo mudou.

Algo parecido acontece com os seus relacionamentos. Quando alguém significativo viola a sua confiança, você sente algo que vai além da raiva ou do aborrecimento; o que realmente experimenta é dor emocional.

Essas duas situações revelam que, a nível cerebral, as emoções variam. Esses sentimentos negativos e desconfortáveis ​​que você sente não afetam apenas o seu humor.

Você pode até mudar o seu comportamento; você se torna mais rigoroso quando se trata de acreditar no que lê e também não confia tanto nas pessoas para evitar novas decepções. Mas o que a neurociência da desconfiança diz?

A confiança e a desconfiança afetam diferentes partes do cérebro

Pode-se dizer que existe um cérebro confiante e um cérebro suspeito. O primeiro está localizado na área do córtex pré-frontal, que processa o pensamento superior, as funções executivas, como a atenção, a reflexão, a dedução, o discernimento, a empatia, entre outros.

  • A confiança libera neuroquímicos poderosos, como a ocitocina, no cérebro. Você não estaria enganado se dissesse que essa dimensão é uma das mais transcendentes para o ser humano. Afinal, confiar nos outros é reconfortante.
  • De forma semelhante, a neurociência da desconfiança indica que esse estado parte de um mecanismo mais primitivo. Quando você a experimenta, a amígdala e outras regiões do sistema límbico são ativadas.
  • O cérebro experimenta a desconfiança da mesma forma que o estresse. É um estado em que você libera cortisol, que reduz seu senso crítico e reflexivo e a sua empatia.

A desconfiança nos torna mais cautelosos. No entanto, em alguns casos, também leva à incapacidade de refletir e raciocinar, podendo levá-lo a ser inflexível e até a mostrar um comportamento agressivo para bloquear o objeto da sua desconfiança.

Homem nervoso

Dimensões que você deve atender na “cultura da desconfiança”

Você pode, inclusive, viver em meio à cultura da desconfiança e achar difícil acreditar em tudo o que lê e ouve. Como apontamos no início do artigo, isso não apenas é algo triste, mas também altamente negativo para você mesmo e para a sociedade.

Por esse motivo, a neurociência da desconfiança indica que você deve tentar reverter esse estado. Isso porque há um preço alto a se pagar por experimentar essa sensação, já que o cérebro a percebe como algo estressante. Não poder confiar nas pessoas ao seu redor, no que você lê diariamente, nos seus líderes e nas instituições públicas o mergulham em um estado de incerteza e desconforto constantes. Você sempre está na defensiva.

Por esse motivo, você deve considerar as seguintes chaves:

  • Você deve desconfiar apenas de uma situação ou pessoa específica, em particular daquelas com as quais você teve um problema ou uma decepção, mas não generalize.
  • Você não pode viver com uma abordagem de tudo ou nada. Nem as pessoas nem a sociedade são perfeitas, todos cometem erros. Além disso, o fato de terem falhado com você uma vez não significa que a mesma coisa acontecerá de novo todos os dias.
  • Se você agir com desconfiança, será tratado com desconfiança. Assim, a sua atitude mais genuína em relação aos outros deve ser a de confiar; somente quando você confia nos outros, os outros confiam em você.
  • Não se deixe levar pela pressão dos outros. Muitas vezes, as pessoas ao seu redor o incentivam a desconfiar, a fechar seus ouvidos, olhos e coração para muitas das coisas e pessoas que o cercam. Portanto, você deve evitar o condicionamento, pensando por si mesmo.

Conclusão sobre a neurociência da desconfiança

Para concluir, nada é tão importante em tempos de dificuldade quanto confiar no outro. Isso é tão vital para o ser humano quanto o oxigênio. Portanto, tente gerar confiança e anime-se a confiar novamente.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.