Nossa casa condiciona nosso comportamento humano
Raramente as pessoas procuram as causas de seu desconforto emocional ou psicológico na configuração física do ambiente. É mais comum começar a olhar para as experiências pessoais e para o mundo interior. No entanto, por mais que o ignoremos em nossa análise ao fazer atribuições, o espaço físico que nos cerca influencia como nos sentimos. Em particular, a casa condiciona o comportamento humano.
A área que trata desses aspectos é a psicologia ambiental. Vale esclarecer que, embora a casa condicione o comportamento, isso não significa que ela o determine. É óbvio que existem outros fatores tão ou mais importantes a esse respeito.
Posto isto, a verdade é que se encontrou uma ligação entre a agressividade nas relações familiares e os elementos físicos do lar. Também entre o estado de espírito e o espaço físico que consideramos nosso. Vamos ver o que dizem os especialistas.
“Ter menos coisas significa ter mais espaço e mais clareza de espírito. Luz e ordem exercem influência sobre a mente. Livrar-se de objetos que não são usados é uma prioridade, e mudar a disposição dos móveis de casa de vez em quando é uma diversão muito motivadora”.
-Raimón Samsó-
A casa influencia o que pensamos e fazemos
Quando se fala em influência do contexto, é necessário fazê-lo em três dimensões: ambiente mental (crenças, valores, formação, informação, etc.), ambiente pessoal (família, parceiro, amigos, colegas de trabalho, etc.) e ambiente material (lugares onde você mora ou trabalha, bairro, cidade, tecnologia, carro, utensílios domésticos, etc.).
Cada uma dessas dimensões tem grande influência no comportamento. No entanto, o normal é que haja mais consciência sobre o ambiente pessoal do que sobre o mental e o material. Este último costuma passar despercebido, pois corresponde ao mundo dos objetos e supõe-se que estes nada dizem ou não interagem dinamicamente com o indivíduo.
Embora a forma como o comportamento das condições de moradia seja um assunto pouco estudado, já existem dados suficientes para afirmar que tem um efeito significativo. Em particular, foi apontado que aspectos como luz, ruído, quantidade de espaço pessoal disponível, temperatura e privacidade são aspectos que afetam tanto o estado de espírito quanto o relacionamento com as outras pessoas com quem se convive
Os efeitos na vida familiar
Trabalhos pioneiros sobre como a moradia afeta à família foram feitos por Herrenkohl & Herrenkohl, a partir da década de 1980. Uma das primeiras investigações desses especialistas já relatava a influência das condições do lar na violência no casal e nos maus tratos aos filhos.
Um estudo realizado na América Latina em 2011 encontrou uma relação direta entre a habitabilidade do lar e os padrões de convivência familiar. As más condições geraram estresse adicional que contribuiu para a deterioração dos vínculos familiares: houve maior tendência a comportamentos violentos.
Os pesquisadores descobriram que quanto mais luz, menos barulho e menos aglomeração, mais harmoniosas eram as relações familiares e vice-versa. Da mesma forma, descobriram que quanto mais harmonia havia nas famílias, maior era o interesse em manter a casa em condições agradáveis para todos.
Principais descobertas
Mais pesquisas são necessárias para entender em detalhes a maneira como a habitação condiciona o comportamento individual e coletivo. Os dados disponíveis até agora indicam que o fator econômico não é decisivo. Em outras palavras, você não precisa ter muito dinheiro para morar em um espaço agradável.
Especialistas apontam que a luz e a quantidade de espaço disponível são elementos muito relevantes. Pelo mesmo motivo, aconselham a eliminação periódica de objetos não utilizados. Quanto menos objetos houver, mais fácil será criar uma sensação agradável para quem habita uma casa. A luz e as vistas da janela são consideradas ainda mais importantes do que a quantidade de espaço físico disponível.
Quem vive numa casa que lhe é agradável e na qual pode ter espaços privados mostra que é uma pessoa que consegue equilibrar as suas emoções com mais facilidade. Dessa forma se consegue ter uma visão mais otimista e um relacionamento mais gentil com os outros. Sobre os bairros e as ruas falaremos em outra ocasião.
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- Herrenkohl, R. C., Herrenkohl, E. C., & Egolf, B. P. (1983). Circumstances surrounding the occurrence of child maltreatment. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 51(3), 424–431. https://doi.org/10.1037/0022-006X.51.3.424
- Verdugo, V. C., Lohr, I., Torres, L., Acuña, A., Velardez, S., Ayala, D., … & Milán, M. (2011). La influencia de la habitabilidad de la vivienda en los patrones de convivencia familiar. Psicumex, 1(2), 74-87.