Nostalgia é sentir a ausência de um lado seu
O sentimento de nostalgia é tão comum que, às vezes, temos a ideia inconsciente de que ela está ali como algo inerente ao que somos. E é por isso que todo mundo pode se identificar com ela: vivemos com a nostalgia debruçada sobre nossas costas, passeamos com ela, dançamos com ela e a acariciamos mais ainda quando chove. É como se nos dias tristes ela quisesse ser mais vista.
“Nostalgia é amar um passado que nos esmaga no presente. É uma felicidade atrasada. É dormir em uma rede e seguir relembrando as reconciliações depois de brigar por motivos sem importância. Sentir a falta de detalhes. Ela só não mata porque tem o prazer da tortura.
-Gabito Nunes-
Sentimos nostalgia de alguém, de algo, de um passado que não é mais presente e que queríamos que fosse. Também sentimos nostalgia de um presente que não é e tampouco foi. Somos nostálgicos de momentos, de detalhes, de carícias, de palavras… Definitivamente, a nostalgia é tão real como podemos ser nós mesmos e, por isso ela mexe tão fundo.
Às vezes somos invadidos por pensamentos nostálgicos
Li faz alguns dias um artigo em que o autor dizia que nosso passado é como um país estranho do qual fomos exilados e, então, como aquele que já sofreu alguma vez com o exílio e tem frio, às vezes querermos voltar a buscar o calor. Nesse sentido, o exílio figurado pode ser muito distante, ou quase simultâneo a seu presente.
Acredito que tudo isso seja verdade: enquanto a nostalgia não chegar à melancolia prolongada, querer voltar de vez em quando é mais uma forma de sabermos o que somos a partir do que fomos. Não quero dizer que não querermos viver o presente, ou que nos sentimos mal, mas sim que dessa forma nos reconhecemos e somos conscientes do que vivemos.
“Às vezes a nostalgia é tão grande que se torna mais do que um sentimento. As pessoas são nostálgicas. É viver para encontrar o olhar do outro em todas as curvas improváveis, confundir cabelos, bocas, perfumes. Sorrir com os lábios e com o coração sufocado.”
-Gabito Nunes-
As pessoas são nostálgicas, como disse o escritor português, porque sentir falta de uma coisa pequena a faz ser enorme. Porque essa pequena coisa é a ausência e você precisa dela com todo o seu ser. Por isso somos nostálgicos: pois assim como o amor, não podemos sentir nostalgia de maneira superficial, ela nos acompanha em todos os nossos atos.
As duas faces da nostalgia
Quando escutamos a palavra nostalgia logo pensamos que ela está cercada por algo triste e doce ao mesmo tempo.
Sentir saudades de sua família, de seus amigos ou de seu companheiro, por exemplo, é se sentir desprotegido momentaneamente, mas também é um abraço quando essa falta é saber quem está conosco e quem queremos de verdade com a gente.
É verdade que costumamos ficar com a face da melancolia. Entretanto, é corajoso entender que a nostalgia é a ausência de algo que valeu ou vale a pena, que foi ou é bonito, que nos fez ou faz feliz.
E falo de coragem porque se é uma ausência permanente é difícil entender a necessidade de ver a nostalgia como o preço das coisas mais lindas. Nunca nada nos fará sentir nostalgia se não levar consigo a certeza de uma felicidade real, provável ou coexistente.
E, por conta de tudo isso, devemos ficar com a face da nostalgia que nos completa, que faz com que sejamos participantes do mundo e que nos faça ver que estamos vivendo de verdade, apesar de suas consequências…