O contrato de Ulisses: o presente que afeta o futuro
Em A Odisséia, Homer conta a lenda de Ulisses. Lá ele relata como, antes de cruzar o estreito de Cila e chegar à ilha das sereias, ele cobriu os ouvidos de seus homens com pão de cera e ordenou que o amarrassem a um mastro para evitar ficar sob controle delas; pois ele já sabia de sua existência e seu imenso poder.
Ulisses deixou instruções para seus homens ignorá-lo em caso de perda da consciência e não soltá-lo por mais que pedisse, mas, ao contrário, pediu para reforçar seus laços para que ele não perdesse a vida.
Dessa forma, haveria instruções prévias, dirigidas à tripulação, para quando Ulisses perdesse a sanidade e não conseguisse se controlar. Essa lenda inspirou médicos a desenvolver um contrato que estabeleceria uma relação útil entre médicos e pacientes em tempos de perigo.
Assim, na psiquiatria norte-americana é apresentado o conceito de “O contrato de Ulisses”. Consiste em autorizar previamente um tratamento ou pesquisa para quando a situação do paciente não permitir que ele expresse seu consentimento a posteriori.
O que é o contrato de Ulisses e em que consiste?
O contrato de Ulisses é um documento por meio do qual o paciente pode orientar e definir as diretrizes e instruções de como deseja que sua situação seja enfrentada em momentos de descontrole.
Dessa forma, quando algum tipo de crise inerente à sua doença se manifestar e eles não conseguirem se expressar bem, podem ser avisados familiares, conhecidos ou o especialista designado pelo paciente. Além de saber quais são suas preferências em relação aos medicamentos e indicar onde ele esconde objetos ou medicamentos que possam ser prejudiciais.
Para quais doenças este contrato poderia ser usado?
Como já referimos, o contrato pode ser uma boa ajuda entre o paciente e o médico, uma ferramenta útil na abordagem da sua doença quando se trata de situações de incapacidade. Assim, pode servir em doenças mentais como:
- Esquizofrenia.
- Bipolaridade.
Esta opção também pode ser considerada se houver algum tipo de dependência em recaídas de jogos de azar, alcoolismo ou anorexia nervosa.
Quais são os benefícios dos dados do contrato?
É nestes momentos de incapacidade que pode ser útil ter os dados do paciente. Entre outras vantagens, será mais fácil de consultar:
- Seu representante: Dependendo o pais, o contrato permite que o paciente nomeie um representante. Nesse sentido, caberá a este supervisionar as orientações indicadas no documento para garantir a orientação antecipada do paciente.
- Quais familiares notificar e quais não: esta circunstância facilitaria a localização as pessoas de confiança do paciente.
- Quais são os especialistas que atendem regularmente o paciente: com essas informações, será possível ter uma fonte confiável para consultar qualquer tipo de tratamento, problema, histórico médico, etc.
- Onde o paciente depositou seus objetos: é importante manter localizados os itens ingeríveis ou consumíveis, principalmente medicamentos, que podem ser prejudiciais.
- Que tipo de tratamento deseja e não deseja: por exemplo, se preferir uma dose mais baixa de tal medicamento, dependendo do seu histórico médico.
- Se ele deseja participar de ensaios clínicos ou qualquer tipo de pesquisa relacionada à sua patologia.
Um roteiro a seguir
Thomas Gutheil foi o primeiro a mencionar o contrato de Ulisses em uma comunicação. Desde então, esse tipo de documento continua a ser usado no país anglo-saxão, mas ainda não se popularizou em outras partes do mundo.
A verdade é que parece uma alternativa a ser considerada nos casos em que o paciente não consegue expressar claramente seus desejos. Sem dúvida, suas instruções marcam um roteiro a seguir que pode ser útil na tomada de qualquer tipo de decisão relacionada à saúde do paciente.
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