O incentivo da crueldade: desvalorizar o outro para parecer inteligente
Existe uma regra não escrita. É a referência ao fato de que muitos ambientes de trabalho são como uma selva, cenários complexos onde habita a mais variada “fauna”. Neles encontraremos, claro, colegas fabulosos e líderes inspiradores. No entanto, também encontraremos perfis muito competitivos, enganadores, o narcisista ocasional e talvez um incompetente que vive de aparências.
Vamos nos aprofundar nessa última tipologia, ou seja, aqueles que sabem que não são tão habilidosos quanto os outros, mas querem sobreviver a todo custo e até alcançar posições de influência. Existem pessoas que, quanto menos habilidades têm, mais agressivas são. É um mecanismo de defesa, uma estratégia um tanto covarde que nos chama a atenção.
A pesquisa social nos diz que, muitas vezes , quando alguém se envolve em comportamento crítico ou abusivo, está buscando poder e até parecer mais inteligente. De alguma forma, a reminiscência do “executivo agressivo” continua aparecendo em muitos ambientes de trabalho. Vamos nos aprofundar um pouco mais nesse comportamento.
A violência verbal muitas vezes vivenciada no trabalho é uma forma de ganhar poder sobre os outros. São comportamentos que não devemos permitir.
O incentivo à crueldade: o que é?
Você pode ter se visto na seguinte situação. Fazemos parte de uma equipe de trabalho em que ideias inovadoras e abordagens originais são necessárias para atingir os objetivos do grupo e da empresa. A certa altura, fazemos uma proposta e, pouco depois, alguém a rebate duramente. Isso é repetido uma e outra vez.
É verdade que perspectivas críticas podem ser enriquecedoras. Porém, o que essa figura faz é nos desvalorizar como quem amassa uma bola de papel com a sola do sapato. Há crueldade e há desprezo. O que aqueles que fazem um julgamento negativo geralmente buscam é reforçar diante dos outros uma autoimagem de resolução e autoridade. Também de —aparente— competência.
Não importa quão boa seja nossa ideia. Certas figuras podem esmagá-la com os argumentos mais inusitados, para dar a imagem de “sei mais do que você e suas propostas são as mais ridículas”. O incentivo à crueldade define o comportamento agressivo e desvalorizador que uma pessoa pode infligir a outra, para parecer mais brilhante.
O incentivo à crueldade é um fenômeno que aparece com frequência nas redes sociais.
Maquiavélicos em busca de reconhecimento
O termo “incentivo da crueldade” foi cunhado há mais de quarenta anos pela médica da Universidade de Stanford, Teresa Amabile. Foi graças a várias investigações através das quais ele demonstrou algo interessante. Em ambientes de trabalho, pessoas inseguras muitas vezes tentam derrubar os outros para obter status intelectual.
Para tanto, o que fazem é julgar negativamente quem apresenta maiores habilidades ou competências, a fim de invalidá-lo. Por sua vez, por meio dessa estratégia, elas querem ganhar uma certa reputação no ambiente, um certo carisma e uma falsa resolução. Algo que o Dr. Amabile destaca é que às vezes pode ser que, de fato, essa forma de maquiavelismo dê uma imagem de falso brilho.
São sem dúvida situações muito distorcidas, mas que, infelizmente, continuam a ser vistas. Isso é exemplificado com o diretor ou dirigente de uma empresa que ataca o desempenho de um funcionário para reforçar seu poder. Isso pode chamar a atenção, mas a curto e longo prazo esses comportamentos têm um custo.
Um fenômeno frequente nas redes sociais
É possível que esse fenômeno pareça típico de outra época. Aquele em que muitos executivos ou gerentes usaram uma liderança autoritária. No entanto, cabe destacar que se existe um terreno fértil para o incentivo à crueldade são as redes sociais. Quase todos os dias encontramos usuários que denunciam, atropelam e criticam os comentários e contribuições de outras pessoas.
É comum que quando alguém com autoridade, em qualquer área do conhecimento, publica notícias ou fornece dados, logo apareça toda uma horda de comentários agressivos. Ressaltamos, mais uma vez, que a crítica fundamentada e respeitosa é útil. Ora, o que muitas vezes se busca é desprezar o especialista, difamá-lo para ganhar autoridade.
Vimos isso na pandemia. De repente, surgiram nas redes sociais usuários que pareciam saber mais que os cientistas. Acontece, por sua vez, em cada evento atual. Seja em aspectos econômicos, em catástrofes naturais ou aspectos bélicos, estão sempre crescendo aqueles que atacam com tweets para ganhar relevância.
O incentivo à crueldade prevalece em cenários dominados por mentalidades fixas que bloqueiam seu próprio crescimento.
Com comportamento agressivo todos nós perdemos
O incentivo da crueldade tem a voz do pai autoritário que educa seus filhos no medo. São presenças que querem minar a autoestima dos outros para exercer controle sobre os outros e ganhar visibilidade. Supõe-se que quem mais grita, quem mais bate nas rodas dos outros, consegue mais sucesso no ambiente de trabalho.
No entanto, a realidade é diferente. Esse é um comportamento mais perigoso do que o efeito Dunning-Kruger (pessoas com poucas habilidades, mas que agem como se fossem especialistas). Porque, neste caso, o que temos são homens e mulheres que, além de agirem com violência, vetam e impedem o crescimento de uma empresa.
A criatividade não flui quando há ataques e depreciações. Progressos e objetivos não são alcançados quando alguém vive de ataques para obter benefícios privados. Elas são “maçãs podres” em uma organização e devem ser descartadas.
Conclusão
Os obstrucionistas, aqueles que sabem de suas baixas habilidades e procuram derrubar os outros para se destacar, sempre estiveram por aí. O problema está nos cenários que permitem e, mais ainda, que valorizam esse tipo de comportamento. São ambientes de mentalidade fixa que estão fadados ao fracasso e à criação de um ambiente de trabalho muito desgastante.
Não é lógico, nem é ético. Toda organização alcançará o sucesso se privilegiar um bom clima de trabalho baseado no respeito, convivência, inovação e uma boa dose de inteligência emocional.
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